Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

À Procura da Felicidade

O que a princípio parece apenas comum ou até mesmo entediante, se mostra na verdade uma bonita história sobre a vontade de vencer. Além disso, "À Procura da Felicidade" traz Will Smith numa performance que vale a pena ser conferida.

A primeira qustão que muitos vão levantar ao se deparar com a sinopse do drama "À Procura da Felicidade" é justamente o que uma história com uma premissa tão simples tem a oferecer a um espectador já tão calejado de roteiros tão diversos. A resposta é simples, assim como a proposta do filme, que acaba trazendo uma trama singela, mas envolvente, que cativa o espectador justamente pelo seu caráter humano. O grande trunfo do longa, dessa forma, é fazer com que o público sinta total empatia com a trajetória do protagonista, como se os percalços por ele enfrentados pudessem facilmente ser seus.

Logo no início do longa somos apresentados a Chris Gardner, um homem que luta para dar uma vida decente para sua mulher e filho, mas é constantemente vítima da má sorte, o que acaba fazendo com que a esposa o deixe por não suportar o peso de seus fracassos. Sozinho com o filho, Chris começa uma trajetória em busca de uma vida estável, mas o quanto mais se esforça para atingir seu objetivo, mais dificuldades aparecem em seu caminho. Chris então consegue um estágio que pode lhe render o emprego de corretor em uma conceituada firma, porém, até que isso venha a acontecer, muitas provações farão parte de seu percurso e o amor pelo seu filho é a única coisa em que pode se apoiar.

O filme não começa realmente com um ritmo muito envolvente, justamente por precisar situar o público quanto aos personagens principais. A partir do momento em que o protagonista é abandonado pela esposa e se encontra sozinho com o filho, entretanto, a história começa a, de fato, engatar. Quando menos percebemos, estamos totalmente envolvidos no drama e torcendo para que tudo acabe bem, o que é o primeiro sinal de sucesso de um filme. Prender plenamente a atenção do público é, sem dúvida, um mérito inigualável.

Muito do que atrai os olhares dos espectadores, no entanto, se deve a performance de Will Smith. O ator, que é um rosto carimbado quando o assunto é comédia, vive aqui um papel extremamente dramático de forma surpreendentemente competente. Will mostra sua até então duvidosa versatilidade e prova que é sim um bom ator (inclusive indicado ao Oscar de melhor ator por esse papel). Além disso, o ator mirim que vive o pequeno Christopher é filho de Smith na ficção e vida real, o que explica a química perfeita entre os dois na tela. Graças a essa relação entre pai e filho e, conseqüentemente, entre os dois atores, o filme traz cenas realmente belíssimas como quando Chris tenta amenizar o drama da realidade através de uma brincadeira na estação de metrô ou quando seu filho o questiona sobre a razão pela qual a mãe os deixou. A sensibilidade com a qual o diretor italiano Gabriele Muccino conduziu o filme realmente resultou numa história contada belamente. Entretanto, é óbvio que nem tudo saiu pefeito na produção, já que a narrativa inicialmente arrastada poderia ter sido evitada, tornando "Á Procura da Felidicade" dinamicamente atraente logo de cara.

A trilha sonora é composta basicamente por uma mesma melodia que alterna o andamento de acordo com o momento que os personagens vivem. Esse artifício, não tão apreciado por alguns, faz com que se estabeleça um clima de "familiaridade musical" a meu ver. A repetição da mesma música com arranjos e formas diferentes tem efeito equivalente ao da interpretação do ator, que se vale de uma mesma face para expressar diferentes emoções.

Ainda escapando de cair num grande clichê sobre tramas que envolvem a volta por cima de personagens, "À Procura da Felicidade" sabe ser sutil quando preciso e nem de longe flerta com um estilo piegas de se fazer drama. Com qualidades que se sobrepõem às suas falhas, esta se torna não uma obra extraordinária do cinema, mas no mínimo uma boa opção para quem aprecia, acima de tudo, boas histórias corriqueiras. Vela a pena conferir.

Amanda Pontes
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