Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de janeiro de 2007

Grande Família – O Filme, A

Em época de filmes de Didi e Xuxa, uma adaptação cinematográfica de "A Grande Família" é muito bem-vinda. Se comparado com as besteiras que o pessoal do "Casseta e Planeta" faz para os cinemas, o longa também é bem-vindo. Pronto, paremos por aí.

Sem dúvidas, "A Grande Família" é o seriado nacional que eu mais considero. Comédia muito boa, com ótimos personagens, atores, estórias e etc. Nada mais justo do que um seriado com reconhecido sucesso nacional ganhar uma adaptação e assim aconteceu. Para ser mais justo ainda, seria preciso um cuidado muito grande para não acontecer de vir à tona uma simples adaptação, como aconteceu com "Os Normais", por exemplo. Mas, novamente, aconteceu esse erro. "A Grande Família – O Filme" é um fraco apêndice do seriado que, de forma alguma, perdeu seus méritos, porém merecia bem mais.

No filme, todos os tradicionais personagens estão lá, só que dessa vez participando da mesma estória três vezes seguidas em um só episódio, opa, quero dizer, em um só filme. Informado de que poderá morrer, o patriarca da Grande Família, Lineu Silva (Marco Nanini) resolve repensar um pouco sua vida. O problema é que, como sabem os que assistem ao seriado, nada é um mar de rosas nas vidas dos integrantes da família Silva e Lineu passa, para variar, por vários percalços. É briga com a esposa, com o filho, com o cunhado e, como não poderia ser diferente, com seu chefe: "o mala" do Mendonça (Tonico Pereira) que não se cansa de colocar o coroa em várias enrascadas – e de entrar também, é fato.

O filme já erra logo no roteiro. Vejo que seria bem interessante pegarem essas adaptações de seriados para juntar alguns nós, abordarem estórias antigas da família, ou alguns acontecimentos paralelos, mas não, tentaram fazer mais um episódio de "A Grande Família", só que de filme. O problema é que não mostraram criatividade alguma e resolveram repetir a mesma estória três enfadonhas vezes. Se fosse para fazer episódio normal, que continuasse só na televisão. Adaptar só por adaptar não faz jus ao sucesso que é esse seriado.

Sem dúvidas, o ponto forte do seriado chama-se Agostinho Carrara (interpretado pelo competentíssimo Pedro Cardoso). Todos os trejeitos desse personagem, e sua forma malandra de conduzir a vida, é o que mais cativa nos episódios de quinta-feira à noite da série televisiva. Nada mais interessante do que jogá-lo como protagonista assumido no caso de uma interpretação, pois os risos seriam intermináveis. Entretanto, prezando a hierarquia, o protagonista é mesmo o Lineu (como costumeiramente) e Agostinho fica como um apêndice na estória. O fato é que, sempre que requisitado, o personagem dá um verdadeiro show. Os pontos fortes do filme, assim como da série de TV, são de Pedro Cardoso e seu personagem Agostinho.

O que não precisava era que se repetisse a mesma estória três vezes. Cansativo? Nada! Só deu vontade de tirar um cochilo, já que sabíamos muito bem o que iria acontecer por conta da caçamba de clichês que o filme vinha apresentando. É tão enfadonho que alguns momentos finais que poderiam ser bem mais cômicos, acabam se tornando normais, e o filme cai numa mesmice indigna das boas estórias apresentadas nos episódios para a TV.

Inclusive, algo que no início foi deveras empolgante também caiu numa chatice incrível. A trilha sonora, com Roberto Carlos e tudo mais, não parava de demonstrar as músicas, nas mesmas cenas, a cada vez que a trama iria se repetir. Incrível como algo que estava, inicialmente, muito bem caiu bruscamente por culpa, sobretudo, desse roteiro cansativo.

As atuações são as mesmas. Seria chato se Marco Nanini, Marieta Severo, Andréa Beltrão, Pedro Cardoso, Lúcio Mauro Filho, Guta Stresser e companhia tentassem entrar num clima de cinema. Se isso acontecesse é que iria ser pior, pois o filme clama pelos mesmos estilos de atuações que apresentam nas telinhas. Agora, é interessante ver algumas tomadas de câmera diferentes feitas pelo diretor Maurício Farias. Alargaram consideravelmente o nosso campo de visão da cidade cinematográfica que vemos costumeiramente na série.

Apesar de possuir pontos mais baixos do que altos, o longa se destaca dentre os atuais filmes brasileiros que estão em circuito comercial. O que não é nenhum louvor ganhar de Didi, Xuxa e Casseta&Planeta, mas esse detalhe vale ser ressaltado. Além do mais, se você for fã mesmo da série, é muito interessante correr para assistir ao filme, já para quem não é, será uma grande perca de tempo.

Raphael PH Santos
@phsantos

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