Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 20 de janeiro de 2007

Babel

Realmente "Babel" vem para provar que a temporada de bons filmes já chega por aqui. Às vésperas do Oscar, o filme mostra porque se tornou um forte candidato à estatueta.

É sempre assim. Basta se aproximar a data da mais esperada cerimônia cinematográfica, o Oscar, para que o arsenal de filme bons de Hollywood, que fazem tanta falta no resto do ano, sejam lançados quase todos ao mesmo tempo. Nesta temporada, muito ainda estar por vir, mas pela prévia conferida através de "Os Infiltrados" e agora "Babel", duas das mais badaladas apostas ao prêmio, já deu para perceber que a safra deste ano realmente promete. Novamente o diretor Alejandro González Iñárritu, nome por trás de ótimas produções como "21 Gramas", mostra porque é um dos mais promissores profissionais de sua geração.

A proposta de "Babel" tem basicamente a mesma essência da chamada Teoria do Caos, que prega que uma determinada ação, a princípio sem grandes proporções, possa gerar conseqüências inimagináveis para tudo o que tiver envolvido em sua teia de abrangência. Dessa forma, somos introduzidos a uma pequena família criadora de cabras do Marrocos, cujo pai mune os filhos de um rifle, para que possam espantar ameaças de animais à sua pequena criação de ovelhas. Ao testar a arma, um dos garotos acaba por acertar um ônibus de viajantes que passava pelo deserto, ferindo gravemente uma turista americana. Isso é o suficiente para desencadear uma série de infortúnios envolvendo todos que possuem algum tipo de ligação com o fato.

O roteiro de "Babel" é altamente bem estruturado. A carga dramática da história se dá em um ritmo crescente, fazendo com o que o espectador fique cada vez mais envolvido na trama. É impossível não sentir angústia na medida em que os fatos se complicam e se mostram cada vez sem o menor vislumbre de solução. Esse é um ponto forte do filme, que sem dúvida alguma consegue despertar alguma reação do mais frio dos espectadores. A tensão presente durante todo o desenrolar do drama faz com que o público torça por um desfecho "feliz", por um fim em tanto caos. Não é fácil para um diretor conseguir conduzir o filme de forma a gerar tal envolvimento do espectador com a trama, dessa forma, o talento de Iñárritu aliado à qualidade do roteiro resultaram numa combinação bastante bem sucedida.

O elenco constitui, definitivamente, outro grande acerto do longa, começando pelos atores de várias nacionalidades que, falando línguas diferentes, acabam conseguido, por si só, gerar uma atmosfera de constante desentendimento. A importância de todos os personagens foram quase equiparadas, sem ter propriamente um protagonista definido. A performance de Brad Pitt, altamente elogiada pela crítica, realmente faz jus aos comentários. Apesar de não aparecer massivamente no longa, a atuação de Pitt deixa seus trabalhos anteriores em visível inferioridade. Cate Blanchett, que interpreta Susan, a turista baleada, também exibe um trabalho impecável. Os mexicanos Gael García Bernal e Adriana Barraza e a japonesa Rinko Kikuchi fecham o time de intérpretes dos personagens envolvidos no caos da trama e até mesmo os atores-mirins de "Babel", entre eles Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota, estão muito bem em seus papéis.

A excelente fotografia também resulta de um trabalho competente. A atmosfera inóspita que envolve as cenas passadas no deserto do Marrocos é muito bem explicitada, deixando o espectador "sufocado" apesar de ser um cenário aberto e as cenas passadas no Japão também estão muito bem ambientadas. A caracterização dos personagens também é outro ponto digno de elogios. Aparentemente sem nenhuma maquiagem, Brad Pitt exibe o aspecto de um homem cada vez mais cansado à medida em que a história evolui, livrando-o do estereótipo de galã e deixando seu trabalho fluir de uma melhor maneira.

Enfim, "Babel" é o resultado de combinações bem sucedidas entre bom roteiro, elenco competente, direção bem cuidada e produção impecável. Diante de tantas expectativas geradas pelo longa, podemos dizer que o filme passa longe de fazer feio. Vale a pena conferir.

Amanda Pontes
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