Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 20 de janeiro de 2007

Déjà Vu

Mais um filme com Denzel Washington. Mais um filme de ação, só que dessa vez com alguns ingredientes a mais que inebriam um pouco, porém no final é tudo igual ao que estávamos esperando.

"Déjà vu" é uma expressão em francês que pode ser traduzida ao pé da letra como "já visto". Na verdade, ela serve para designar uma estranha sensação de ter vivido ou ter visto algo que está acontecendo nesse exato momento. Enquanto se está vivendo o tal acontecimento, tem-se a sensação que não é a primeira vez que isso acontece. "Eu já estive nesse local antes!", é mais ou menos essa a frase de espanto. Enfim, para finalizar essa aulinha inicial, vale dizer que a pronuncia correta do termo é dê-já-vu (sendo que o "vu" é o U francês; o U com biquinho).

A receita do novo filme de Tony Scott fica mais interessante enquanto premissa, porque, ao levada para a prática, não empolga nem um pouco. As batidas cenas de ação – encabeçadas mais uma vez por Denzel Washington – com só alguns tons de inovação funcionam bem para o público menos exigente. Afinal, explosões, carros se abalroando, correria e resolução (ou não) de um caso, estão todas presentes. A pergunta fica martelando: "eu já vi isso anteriormente em algum filme?". O longa não é completamente um déjà vu, porque adiciona física/presente/passado na trama, mas nem isso é tão novo assim.

Denzel Washington é Doug Carlin, um perito criminal da cidade de Nova Orleans encarregado de investigar a explosão de uma balsa lotada de marinheiros, onde quase nada saiu intacto. A investigação é complicadíssima, já que praticamente todas as evidências estão submersas, mas, mesmo assim, o agente Doug encontra algumas pistas, mesmo que vagas. Ao segui-las, acaba conhecendo algo muito diferente do que já tinha visto em toda sua vida. Uma máquina que liga passado e presente, a qual vai ajudá-lo a resolver esse caso.

Só é diferente de tudo que ele já tinha visto na vida caso não tivesse assistido ainda ao filme "De Volta Para o Futuro". A idéia de espaço continuum do tempo é praticamente a mesma, só modifica que, em "Déjà Vu", você assiste ao passado em monitores e intervir nele pode causar sérios riscos a esse espaço continuum do tempo. Tudo aquilo que o Doc. Brown nos diz em "De Volta Para o Futuro" (além do espaço continuum, a questão de que se interferir em algo no passado, pode acontecer de se criar duas vertentes para dois tipos de futuros diferentes) é reutilizado pelos roteiristas Terry Rossio (responsável pelo roteiro dos três "Piratas do Caribe") e Bill Marsilii, com uma diferença: eles não se vendem como ficção científica, mas sim como filme de ação (!).

Não há como dizer que o filme é fraco, até porque suas seqüências de ação fazem jus a outros bons filmes no gênero, mas o erro, repito, é não ter abordado bem suas propostas. Quando se coloca toda essa questão de volta ao passado, física e etc, é claramente para ser uma ficção cientifica, mas o que vemos é um filme de ação e com alguns trejeitos policias (já que é investigativo), onde utiliza a ficção científica de forma rasa; sem se aprofundar nem um pouco nisso, inclusive, o que deixa o longa com algumas pontas soltas. No final, sente-se a clara sensação de que algo ficou faltando.

Não é a primeira vez que Tony Scott dirige um filme mais ou menos com esse cunho. Em 1998, era lançado "Inimigo do Estado", estrelado por Will Smith. A trama desse projeto era sobre câmeras guiadas por satélites que observariam as pessoas na rua vinte e quatro horas ao dia, retirando a sua privacidade. Algo muito parecido vê-se em "Déjà Vu", a diferença é que essas câmeras – depois elas são explicadas que não são câmeras – estão remetendo a um passado não tão distante, no caso, quatro dias. A clara percepção é de uma real mistura de "Inimigo do Estado" com a ficção de viagem no tempo.

Se o filme é um fenômeno? Não, é só "Déjà Vu" mesmo – se me permitem o trocadilho. A estranha sensação de já ter visto o Denzel Washington atuar daquela forma, aliada a sensação de já ter visto Tonny Scott dirigir daquela forma, cria a enorme sensação de já ter visto isso em algum lugar, em algum filme, em alguma época. Logo, se a intenção do filme era causar déjà vu nos espectadores, conseguiu.

Raphael PH Santos
@phsantos

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