Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de abril de 2007

Efeito Borboleta 2

Medíocre, inútil e completamente vazio. Assim considero um dos piores filmes do ano e, sem dúvidas, uma das piores continuações da história do cinema. Um fato que me chateia, já que sou fascinado pela história e pelo filme original. De tão ruim, “Efeito Borboleta 2” fez com que a franquia perdesse credibilidade e vejo com muita dificuldade encontrar pontos positivos no tal desastre.

Não compreendo como um filme tão bom como o primeiro tenha sido absurdamente ridicularizado pela sua continuação. Aliás, como chamar isso de “continuação”? Qualquer um em sã consciência pode reparar que a história é exatamente a mesma. E não estou exagerando, pois exatamente os mesmos fatos são mostrados. A única lamentável diferença é que “Efeito Borboleta 2” consegue pegar a fórmula muito boa do filme original e transformá-la literalmente numa tremenda porcaria. A história traz o ator Eric Lively na pele de Nick Larson, um rapaz que vem conquistando uma vida muito boa, com amigos maravilhosos, um emprego em uma empresa que cresce cada vez mais com o passar do tempo e ainda uma namorada perfeita, a bela Julie (interpretada por Erica Durance, a Lois Lane de “Smalville”). No entanto, tudo parece um pesadelo sem fim após um trágico acidente que faz sua vida virar um verdadeiro caos. Um ano após o ocorrido, Nick passa a ter acessos e surtos inexplicáveis, fazendo com que ele consiga voltar no tempo através de artefatos do passado. Assim, o rapaz busca incessantemente consertar os “erros” de sua vida através dos tais surtos. No entanto, uma simples modificação em um pequeno detalhe no passado pode trazer sérias conseqüências no futuro, fato que Nick não está totalmente preparado para lidar, já que não consegue prever a dimensão de seus atos. Acredito que você deve estar se perguntando: “Já vi essa história em algum lugar…”. Realmente, viu sim.

Inicio a minha revolta direcionando-a ao fraquíssimo roteiro escrito por Michael Weiss. O que se entende por “continuação”? Certo, há exceções que podem ser observadas no mundo cinematográfico e que inclusive foram bem sucedidas. No entanto, é hipocrisia e uma verdadeira blasfêmia afirmar que “Efeito Borboleta 2” é uma continuação. A cadeia de fatos é EXATAMENTE a mesma do primeiro filme e, mesmo assim, até agora não consigo me conformar como Weiss conseguiu pegar um roteiro já feito (o de “Efeito Borboleta”) e ainda ter conseguido piorar. Afinal, se a intenção era deixar igual, como ele conseguiu a proeza de ridicularizar uma idéia pronta? Parto do princípio de que o filme seria uma cópia pois não há relação alguma com a história e com os personagens do primeiro longa, somente apresentando novos personagens e sem nenhuma citação aos antigos. Para se ter uma noção do quanto é inacreditável o nível de mediocridade da cópia, até o relacionamento pai e filho desenvolvida no primeiro filme é abordada na seqüência. Tal fator seria algo até aceitável se não fosse utilizado exatamente como no primeiro. Novamente, digo que em nada foi alterada a trama, inclusive sobre doença hereditária de Nick e as conseqüências dela para ele e seu pai. Vale ainda citar o patético desfecho da continuação. Com o pretexto de novamente terminar com uma “lição de moral” no qual o protagonista sacrifica fatos de sua vida para trazer a felicidade à sua namorada e amigos (algo digamos que “altruísta”), Weiss conseguiu estragar até isso de forma lamentável e extremamente decepcionante. Torno-me repetitivo, mas não consigo esconder tamanha indignação perante tal frustração. Para encerrar meu comentário sobre o roteiro, deixo uma questão intrigante. Alguém realmente não percebeu que Julie estava grávida logo no começo do filme em conversa com sua amiga? Espero que Michael Weiss não tenha acreditado que esta seria a “grande revelação” da história.

A direção de John R. Leonetti não é nada melhor do que o desempenho do roteirista no longa. Simplesmente catastrófico. O cineasta não consegue em momento algum mostrar lampejos de controle do elenco e das cenas, conduzindo a trama de mal a pior. Na verdade, acredito até que a equipe técnica ajudou e muito o fraco desempenho do diretor. É muito difícil encontrar cenas que agradem no sentido de beleza estética ou algo que traga inovações e seja digno de elogios. As regressões da personagem de Eric Lively são praticamente idênticas as do primeiro filme e, pelo menos nesse aspecto, não são necessárias muitas cobranças, já que tal fator é completamente aceitável, irrelevante e até compreensivo. No entanto, cenas como a da boate ou a transa no banheiro são mal feitas e chega a ser perceptível a tal falta de qualidade. Com uma iluminação que deixa muito a desejar e a falta de criatividade para trabalhar a idéia de planos e narrativa de imagens, não há muito o que ressaltar com relação ao péssimo trabalho realizado pela equipe em geral e, principalmente, por Leonetti.

O cineasta ainda consegue ser ajudado mais ainda pelo desempenho pífio do elenco. Neste ponto, isento um pouco a culpa da direção, já que realmente é nítido a falta de talento (pelo menos, neste filme). Eric Lively como o protagonista é realmente péssimo. O ator expressa muita falta de realidade nos sentimentos e pensamentos de Nick, mostrando que não estava completamente por dentro de sua personagem. Com exceção de alguns poucos momentos de senso e lucidez, no qual o ator conseguiu se encontrar dentro da trama, seu trabalho deixa muito a desejar e Lively mostrou apenas que ainda tem muito a aprender em quesito “interpretação”. Confesso que fiquei um tanto quanto decepcionado com Erica Durance. Certo, ela ainda não é uma boa atriz, realmente, mas esperava uma melhor interpretação. A sorte da atriz é ser realmente linda, fato que ajuda inevitavelmente. No entanto, de atrizes bonitas e péssimas interpretações, o cenário audiovisual já está cheio. É perceptível o seu esforço, mesmo que seu desempenho não seja algo notável. Até mesmo por isso acredito que ela tenha se saído melhor que o restante do elenco, mesmo não estando bem. Para completar, a equipe de coadjuvantes também é muito fraca. A afirmação pode ser comprovada pela atuação dos dois melhores amigos do casal protagonista, no rival de Nick em seu trabalho e até na filha de seu chefe que o seduz em determinado momento. Todos deixam muito a desejar e estão muito longe de merecerem elogios e admiração.

Enfim, uma completa inutilidade que conseguiu manchar um ótimo primeiro filme. Sinto-me triste, pois minhas expectativas antes do lançamento de “Efeito Borboleta 2” eram as piores possíveis e foram confirmadas. Assim, ratifico a minha idéia de que esta foi apenas mais uma das velhas teorias de uma continuação para aproveitar o sucesso da produção anterior. Realmente, desnecessário e totalmente irracional. Infelizmente, considero até inevitável não relacionar os dois filmes, já que trata-se de uma “franquia”, é claro. Também é óbvio que o sucesso do primeiro não tem relações com o fracasso do segundo longa. No entanto, é impossível dizer que não estragou a imagem que tinha de “Efeito Borboleta”. Desta maneira, duas estrelas fazem jus a idéia principal da trama, que continuo achando sensacional. Mas seria uma calamidade elevar tal avaliação, já que esta não fez por merecer, definitivamente.

Ícaro Ripari
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