Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Happy Feet: O Pingüim

No mínimo, “Happy Feet: O Pingüim” é digno de muitos elogios e desponta como um dos principais filmes do ano. Liderado por um elenco recheado de astros, a animação apresenta fatores positivos de sobra para impressionar o espectador de diferentes maneiras transmitindo uma realidade surpreendente nas imagens e contando com uma trilha sonora simplesmente impecável.

Na história, somos apresentados ao jovem pingüim Mano e a sua vida, desde o relacionamento de seus pais, seu nascimento e tudo mais. A trama conta que todo e qualquer pingüim deve ter uma “canção do coração”, adquirindo assim respeito e também a possibilidade de conquistar uma fêmea. No entanto, Mano é o único que não possui a habilidade do canto e, sim, a do sapateado. O tal acontecimento assusta a todos e traz muitas dificuldades para a vida do pequeno pingüim, que precisa aprender a lidar com este problema ao longo de seu crescimento. Assim, já crescido, Mano acaba se afastando do seu bando e de seu grande amor Glória para posteriormente se deparar com um novo bando de pingüins. Logo uma forte amizade nasce, fortalecida pela admiração dos novos amigos pelos passos de dança do antes “rejeitado” pingüim. No entanto, Mano ainda luta para retornar as suas origens e, ao lado de seus amigos, busca responder a todas as questões mal resolvidas pela sociedade dos pingüins com o intuito de mostrar que não era o culpado pela escassez de alimentos para o seu bando.

Com um roteiro muito bem elaborado por George Miller, Judy Morris, John Collee e Warren Coleman, o filme apresenta uma ótima mescla de fatores cômicos, serenidade e relações com a realidade, onde diversas situações podem ser vistas e discutidas abertamente. Também é muito oportuno a utilização das músicas com as situações apresentadas pela trama, que aproveita todos os elementos possíveis da trilha sonora para enaltecer os acontecimentos decorrentes das características principais das personagens. De uma maneira geral, ainda conta a favor da animação o ótimo desenvolvimento do roteiro, onde o público pode se deparar com um apanhado de situações muito bem interligadas entre si para resultar em um desfecho muito satisfatório. No entanto, para os mais rigorosos, não seria difícil encontrar alguns furos ou situações que poderiam ser consideradas como “mal entendidos”. Por exemplo, a volta de Mano no final do filme para reencontrar a todos do seu bando e resolver todos os problemas poderia ser questionada, já que não havia possibilidades do jovem pingüim sair do local onde se encontrava na cena anterior. No entanto, questões como esta são irrelevantes perante o resultado final da animação e passam despercebidas.

Quando o assunto é a equipe técnica, “Happy Feet” chega muito próximo a perfeição. O motivo é evidente, já que o longa conta com o excelente trabalho da direção de arte e com um gráfico que, sem dúvidas, pode elevar o filme como “melhor animação do ano” apenas levando-se em consideração o tal aspecto. A realidade das imagens chega realmente a impressionar, conseguindo passar diferentes sensações nos momentos exatos e sem exageros. O mesmo pode-se dizer da mistura feita com as cores e tonalidades, onde é perceptível um excelente trabalho com cores quentes e frias, utilizadas de forma muito equilibrada, transmitindo de forma sutil porém muito eficiente as sensações desejadas em determinadas cenas. Além disso, é incrível ver o quanto o filme consegue transmitir sentimentos que poderiam, por muitos vezes, passar despercebidos. Como exemplo, vale citar a serenidade e a inocência dos pingüins na infância, a seriedade e maturidade da fase adulta e muitos outros sentimentos decorrentes das personalidades das personagens. Seria realmente uma catástrofe o diretor George Miller utilizar pingüins de verdade no filme como desejava há alguns tempo atrás.

É incrível, mas parece que a tradicional dublagem dos filmes no Brasil não tendem mesmo a melhorar. Contrariando a minha idéia de não mais me apegar tanto as dublagens, é impossível não analisar um elenco de vozes como o de “Happy Feet”, mesmo quando se trata de uma versão dublada. Para a minha surpresa, até Sidney Magal (muito mais cantor do que ator) como o guru Amoroso não fez feio, conseguindo desempenhar um papel “agradável”. Não chega a ser algo que seja digno de admiração, mas superou minhas expectativas. Além dele, Daniel de Oliveira (o eterno Cazuza) também não fez feio. Foi até melhor que Magal e conseguiu transmitir muito bem os sentimentos do jovem protagonista Mano. No entanto, a dublagem não poderia passar despercebida negativamente. Personagens como Ramón e o grupo de amigos de Mano foram prejudicados, sofrendo com problemas de dicção e uma verdadeira confusão de vozes dos dubladores. Por muitas vezes, as falas dos atores em questão se cruzavam, causando um reboliço de sons que era piorado pelos sotaques característicos das personagens. Assim, até o entendimento das cenas foi comprometido devido tal aspecto.

Ao lado da equipe técnica, o ponto forte não poderia deixar de ser outro senão a excelente trilha sonora do longa. Com direito a Queen, Prince, Frank Sinatra, Steve Wonder, Beach Boys e até Elvis Presley, a animação é um banquete cheio para os adeptos de musicais e dá um show a parte nesse quesito. As músicas apresentam uma coerência que impressiona e consegue se entrosar facilmente com todos os momentos e situações apresentados pela trama do longa. Além disso, mesmo expondo diferentes sensações e emoções perante às tais cenas a que se referem, nenhuma das canções abandona o teor cômico ou sereno que é característica evidente do longa. Assim, apenas levando-se em consideração a musicalidade, “Happy Feet” merece dez estrelas pra dar e vender, sem dúvidas.

De uma maneira geral, são poucos os aspectos que poderiam pesar negativamente na animação. Por mais mal humorado que você esteja ou indisposto para animações cômicas, “Happy Feet” consegue de maneira inteligente e sutil quebrar esta barreira de empecilhos e proporciona muitos momentos de diversão. Para aqueles que vêem o longa como uma atração infantil, despencam num lamentável engano, já que trata-se de um ótimo entretenimento para todas as faixas etárias com a mesma capacidade de alegrar e comover. Assim, oito estrelas estão de bom tamanho para aquela que considero a melhor animação do ano.

Ícaro Ripari
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