Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 07 de janeiro de 2007

Dono da Festa 2, O

Sem apresentar justificativas para sua realização, "O Dono da Festa 2" consegue ser um fracasso em todos os sentidos. Sem conseguir arrancar risadas em momento algum, acaba por se mostrar apenas mais uma comédia tola e sem criatividade.

"O Dono da Festa", de 2003, é uma típica comédia voltada para o público fã de piadas de baixo nível que acabou dando certo e ainda revelou Ryan Reynolds, transformando-o em uma promessa (que passados três anos, ainda não mudou esse status de promessa). Uma comédia que agradou a alguns, mas nada que causasse grande repercussão. Agora, fica uma pergunta no ar: para que uma continuação, ainda mais, sem o protagonista do original, cujo nome do personagem é o título original do filme? Razões plausíveis não existem, a não ser tentar emplacar a nova promessa, Kal Penn, coadjuvante do filme original e de outros filmes como "Um Cara Quase Perfeito" e "Superman – O Retorno", como protagonista. Só deviam raciocinar que uma produção descartável como esta, nunca será suficiente para emplacar nada nem ninguém. O que parece é que os realizadores pensaram: "Vamos investir míseros 2 milhões de dólares neste filme, vamos fazer algo bem ruim para enganar um monte de bestas, e certamente renderemos mais do que isso. Não temos nada mesmo a perder". Dito e feito!

Na trama, Taj Badalandabad (Penn) foi assistente do lendário Van Wilder (personagem de Reynolds no original), mas isso já é passado. Agora, Taj vai voar para a Inglaterra para garantir seu diploma e a entrada na irmandade que sempre sonhou. Mas quando chega lá, tudo dá errado e ele vai querer abrir sua própria irmandade com alguns poucos rejeitados e mostrar para todo mundo que ele é o verdadeiro dono da festa.

É até entendível a idéia de transformar Taj em protagonista, já que ele foi sem dúvidas a melhor coisa do filme original, sendo responsável pelos momentos mais hilários do longa. Mas nem a essência do personagem souberam aproveitar nessa continuação, pois o que era mais divertido em Taj era o seu jeito desengonçado, tímido e sempre inseguro; e vê-lo agora como um ser que esbanja um ar de superioridade, de postura firme e atua de conselheiro para os considerados "excluídos", é decepcionante. Assim, seu personagem virou apenas uma cópia do que era Ryan Reynolds no primeiro filme, ficando muito incapacitado de criar situações cômicas. Kal Penn de fato tem muito carisma e uma ótima veia cômica, mas, com um personagem tão mal elaborado como este, ele não pode fazer muita coisa para salvar o filme do tédio.

O roteiro de "O Dono da Festa 2" é tão mal elaborado que sequer se decide ao que se propõe. E vale lembrar que o grande forte do personagem de Reynolds era sua habilidade em organizar festas, tendo passado seus conhecimentos para Taj, mas, nesta continuação, só existe uma festa, contradizendo o próprio título do filme, mostrando o quão perdido ficou o rumo do longa. De início, tudo leva a crer que será uma comédia bem escrachada, cheia de gags apelativas como fora o anterior – que, por sinal, a cena no avião do começo, apesar de exagerada, é o único momento divertido, e faz lembrar as peripécias de Taj no filme anterior. Depois, vira apenas mais uma comédia tola com aquela batida história do "time de rejeitados" guiado por um mestre (ainda não me conformo em ver Taj nessa posição) que luta para vencer a disputa contra os fortões favoritos. Sim, algo bem "O Pequeno Grande Time", aquele filme com Rick Moranis. E para isso, lá somos apresentados aos estereótipos: o irlandês que só sabe usar a força bruta, o nerd que se mata de estudar, o esquisitão calado, a mulher estrangeira que só pensa em transar e não cansa de mostrar os seios – mais uma vez, as mulheres são retratadas apenas como objeto de possessão masculina -, e através deles forçar piadas sem graça alguma.

E o diretor Mort Nathan se mostra tão ineficaz que parece que sempre ele faz questão de dar indícios de que uma piada irá acontecer, tirando toda a graça de quando ela acontece. Convenhamos, aquela do jarro com as cinzas dos antecedentes de uma respeitável família inglesa foi o cúmulo da falta de habilidade com comédia. As piadas apelativas estão distribuídas ao longo da projeção, mas não conseguem agradar nem aos fãs do estilo pela total falta de criatividade. De resto, muitas tentativas fracassadas de arrancar risos, como o reitor da universidade não conseguir pronunciar Badalandabad, sobrenome de Taj; os ditados populares citados de maneira errônea por Taj e corrigidos pelo nerd Gethin; além de zoarem muito com o tamanho dos testículos do buldogue Balzac, algo que já foi abordado em exaustão no filme anterior. A inclusão dos pais de Taj na história também foi algo bastante infeliz, pois mostrar o pai constrangendo o filho ao falar de sexo após flagrá-lo nas preliminares é uma imitação descarada dos diálogos de Jim com seu pai na série "American Pie". No desenvolvimento da trama, fatos mais do que previsíveis até para uma criança de 8 anos, clichês e mais clichês.

O que ainda se salva na produção são algumas referências culturais bem colocadas, como o momento "Sociedade dos Poetas Mortos", e a citação do nome de George Lazenby (que, para quem não sabe, é o ator que interpretou James Bond em um único filme da série de 007) em um jogo de perguntas e respostas em que sequer chegamos a ouvir a pergunta, mas pela resposta já a deduzimos. Quanto às interpretações, não há o que falar, visto que todos estão em modo automático. As atrizes Lauren Cohan ("Casanova") e Holly Davidson são lindas, e pronto, na visão dos realizadores, isso é mais do que suficiente.

"O Dono da Festa 2" é um filme que nunca deveria ter existido e chega apenas para engordar uma lista de comédias descartáveis que entediam muito mais do que fazem rir. Se você curte humor pastelão, gags grosseiras, ainda a melhor opção é recorrer a clássicos como "A Vingança dos Nerds", "Porky's" ou até mesmo a franquia "American Pie". Kal Penn é divertido, mas para se consolidar como um real astro de comédias, precisa tomar mais cuidado com suas escolhas, ao invés de ir se precipitando e atacando como produtor-executivo de um filme tão medíocre.

Thiago Sampaio
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