Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 07 de janeiro de 2007

Menina e o Porquinho, A

Chega aos cinemas mais uma adaptação de livros rentáveis. Dessa vez, o livro não é em nenhuma Terra Média, muito menos envolve dragões ou grandes guerreiros. A obra literária "A Teia de Charlotte" chega aqui para os cinemas como "A Menina e o Porquinho".

São nas férias escolares que temos os melhores filmes para a criançada. Muitas vezes, esses filmes são direcionados veementemente para o público dos pequeninos de certa forma que fica até complicado os pais assistirem e gostarem. Ultimamente, porém, com uma melhor abordagem das animações, o problema vem mudando. Certas vezes, os pais, que antes só acompanhavam os filhos, acabam se envolvendo até mais do que eles no mundo que a animação cria. É esse o melhor tipo de diversão família. Antes das animações, poucos os filmes, com atores reis mesmo, conseguiam alcançar esse objetivo, mas à época um deles foi "Babe – O Porquinho Atrapalhado". E "A Menina e o Porquinho" tenta seguir essa mesma linha – olhe bem pelo título nacional do filme.

Todavia, até o título traduzido de "Charlotte's Web" (algo como "A Teia de Charlotte") está enganado. A trama não é de uma menina e seu porquinho, é de uma aranha e um porquinho, para ser mais sensato. Tentando ser bem comercial, o longa já começa a pecar nesse aspecto. A estória é adaptada do livro infantil "Charlotte's Web", onde, na trama, uma Aranha tenta prolongar um pouco a vida de um leitãozinho ameaçado para virar bacon no Natal. Ela, de inteligência fora do comum (!), escreve algumas palavras que definem a índole do porquinho. Quanto mais palavras ela escreve, mais a cidade vai conhecendo o pequeno animalzinho. Até que seus donos resolvem colocá-lo em uma feira de exposição, mesmo esse sendo apenas um pequenino leitão.

Para quem não tem uma idade muito avantajada, a estória é até interessante, mas se não for bem abordada, nem para o mais inocente ela funcionaria. De fato, o filme não foi bem abordado. A menina do título é Fern (Dakota Fanning, "Guerra dos Mundos"), mas ela aparece mais nesse título e no cartaz do que no filme em si. Tudo bem que ela tem sua importância e tudo, mas o desenrolar da trama não gira nem um pouco em torno dela, mas sim de um porco, uma aranha e seus amigos animais, como um cavalo, um rato, ovelhas e etc…

Em época que as animações realmente fazem o público infantil vibrar, querer assistir àquilo mais de uma vez e prendê-los de atenção na cadeira, os filmes infantis com atores reais estão cada vez mais passando despercebidos. Na época que esses filmes davam certo, víamos Didi, Xuxa e aliados fazerem enorme sucesso, mas garanto que hoje a criançada prefere um "Carros" ou "Shrek" a um filme do Didi. Nesse tempo também, alguns filmes tiveram destaque como, "Babe – O Porquinho Atrapalhado". "A Menina e o Porquinho" até tenta pegar o mesmo clima do filme, usando muitos elementos dele, mas os melhores não foram utilizados. É interessante que em "Babe", por incrível que pareça, há até um aprofundamento na relação cria/criador, coisa que nesse filme não existe de forma alguma.

O filme também peca por não ter cenas bem conduzidas. A direção de Gary Winick deixa muito a desejar. Faltou aquela cena em que a criançada sentisse ao menos um pouco de tensão. Mais uma vez comparando o filme a "Babe" (já que ele se autocompara em sua divulgação) vemos no filme uma cena em que o porquinho vai conduzindo as cabras e tudo está em total silêncio; a platéia do filme e quem o assiste fica naquele estado de palidez: "o que é que é isso?!" Até que o finalmente se concretiza e todos explodem em alegria. "A Menina e o Porquinho" passou muito longe de ter pelo menos algo um pouco parecido.

Dakota Fanning só pode ter gostado muito de ter lido o livro para aceitar trabalhar nesse filme. Além disso, os responsáveis parecem ter gastado um dinheiro à toa com uma atriz que é, digamos, top de linha. A menina mal tem destaque no filme e, enquanto o porquinho, o rato e a aranha estão resolvendo as nuanças da trama, a menina vai atrás de seu paquerinha – que lindo, Tio Raphael.

"A Menina e o Porquinho" é de uma superficialidade incrível. A trilha sonora é até boa, mas o fraco filme não a ajuda. Acho que nem a criança mais sentimental vai se envolver muito com a celulose. Inclusive, no cinema que o assisti, elas estavam mais vislumbradas com as escadas que tem luz colorida do que com o filme em si. Se elas nem gostaram, o que dizer de nós, um pouco maiores.

Raphael PH Santos
@phsantos

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