Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Rent – Os Boêmios

Uma ópera transformada em musical da Broadway e depois transposta para às telonas. Essa é a origem de “Rent – Os Boêmios” , que prova que uma boa trama pode agradar em diversas mídias.

Não se pode negar que os musicais constituem hoje um gênero cinematográfico bastante controverso. Se torna cada vez mais escasso o tipo de público que se deliciava com cenas de clássicos como “A Noviça Rebelde” e “Amor, Sublime Amor”, totalmente envolvido com a proposta da produção, sem questionar o porque de a música ser usada como forma de expressão tão fortemente nesse tipo de filme. Ao contrário do cinema, no entanto, no teatro as produções musicais continuam arrastando milhares de pessoas por temporada e na esteira de um desses sucessos encenados nos palcos da Broadway nasceu o filme “Rent – Os Boêmios”, que por sua vez já havia sido adaptado da ópera “La Bohéme” de Giacomo Puccini. Adaptações feitas, o resultado se mostra o que poderíamos classificar como um musical contemporâneo que deve agradar no geral, mas não deixa de pecar em alguns aspectos.

Um emaranhado de personagens habitantes do boêmio bairro East Village, em Nova York, são os protagonistas da trama. Mark é um aspirante a cineasta, cuja ex-namorada, a performática e instável Maureen o troca pela advogada Joanne. Roger, o colega de quarto de Mark, é um músico infectado pelo vírus HIV e desperta a paixão de Mimi, uma jovem viciada em drogas que mora no piso inferior do decadente prédio onde habitam e trabalha como stripper numa casa noturna. Para completar o time, Tom, professor universitário freelancer, se encanta pela drag queen Angel. Todos amigos, os personagens vivem as agruras e felicidades da chamada “vida livre”. O roteiro, mostra o percurso dessas vidas através de um considerável período de tempo em que há encontros, desencontros, perdas e vitórias.

O primeiro ponto digno de comentário no que envolve “Rent” é, justamente, um de seus aspectos mais importantes: a direção. Após ter nomes como Spike Lee, Sam Mendes, Rob Marshall, Baz Lhurmann e Martin Scorsese cotados para assumir o posto de comando da produção, o cargo ficou sob a responsabilidade Chris Columbus, nome por trás de filmes como “Esqueceram de Mim”, “O Homem Bicentenário” e duas das produções da franquia “Harry Potter”. A competência de Columbus, no geral, não é algo que deixe a desejar, mas ao assistir à “Rent”, fica a impressão que ele talvez não tenha sido a melhor escolha para o longa. Em alguns momentos, notamos o estilo um tanto quanto “açucarado” do diretor se fazendo presente, algo que, se melhor trabalhado, poderia ter rendido ao filme um desenvolvimento mais satisfatório, principalmente para quem já conhece e aprecia a história.

Falhas à parte, o roteiro parece ter sido bem adaptado para uma produção cinematográfica, com a boa sacada de ambientar a história a cerca de 15 anos atrás, quando os dramas relacionados à homossexualidade o a AIDS faziam mais sentido. A atmosfera de “liberdade” associada à vida boêmia também se fez bem retratada com a questão da facilidade de se conseguir drogas e até mesmo as atividades típicas desenvolvidas por esse tipo de gente, quase sempre relacionada às artes. “Rent – Os Boêmios” não é uma trama de mocinhos de vilões, é apenas um retrato da vida de um determinado povo em uma determinada época.

O ponto que merece maior destaque, no entanto, é mesmo o competente elenco. Como quase todos os atores originaram do elenco do musical da Broadway, em geral se mostram bastante competentes e à vontade em seus papéis. As intérpretes de Mimi e Joanne, que foram modificadas na versão para o cinema, também não ficam atrás, mostrando habilidade para se adaptar ao gênero musical. O destaque, no entanto, vai para o excelente Wilson Jermaine Heredia, no papel do travesti Anegl.

Como todo musical que se preze, ainda deve ser comentada a trilha sonora, com belas canções e melodias que se encaixam exatamente com a situação – algumas inclusive ficam na cabeça e você se pega cantando após assistir ao filme. Tirando umas ou duas cenas descartáveis, aliás, “Rent” consegue não cair na monotonia que o excesso de situações musicadas pode causar. Ponto para o longa!

No fim, o espectador certamente se pega envolvido na trajetória de todos os personagens e isso, por si só, já é sinônimo de êxito para um filme. Quem não curte muito musicais talvez não saia completamente satisfeito da sala de projeção, mas para os simpatizantes do gênero, eis aí uma boa pedida.

Amanda Pontes
@

Compartilhe

Saiba mais sobre