Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 06 de janeiro de 2007

Menina e o Porquinho, A

Baseado em um livro de sucesso escrito por E. B. White, "A Menina e o Porquinho" é o típico exemplar totalmente descartável nos cinemas. Com um desenrolar entediante e desagradável, a produção, infelizmente, não consegue tocar plenamente nem o público infantil.

Provavelmente, em quesito quantidade de produções infantis em cartaz nos cinemas, nesta temporada de férias, a criançada não tem do que reclamar. São filmes como "Xuxa Gêmeas", "O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili", "Por Água Abaixo", "Menores Desacompanhados", "A Menina e o Porquinho", entre outros. Mas, dentre as inúmeras opções existentes para as crianças, será que pelo menos a metade consegue ser de qualidade? Quem viu todos esses longas citados, provavelmente dirá que não. E, não contrariando a maioria, a mais recente estréia "A Menina e o Porquinho" não é capaz de suprir todas as necessidades dos espectadores, decepcionando, inclusive, o público mais jovem.

Baseada no livro "A Teia de Charlotte", escrito por E. B. White em 1952, a trama gira em torno de Wilbur, um porquinho nanico que se torna o bichinho de estimação da garota Fern (Dakota Fanning). A menina, tentando salvar o animal de ser morto, decide criá-lo e desenvolve uma profunda ligação com ele, chegando a dizer até que o ama. Wilbur, sendo um porquinho da Primavera, sabe que será sacrificado em dezembro, virando, assim, parte da ceia natalina. Fern tenta convencer os adultos a não matarem o animal, mas não consegue. A principal responsável por salvar o simpático bichinho é a aranha Charlotte, que, através de suas teias, tece algumas palavras comoventes à respeito de Wilbur. Charlotte, que antes era mal vista por todos os animais do celeiro devido, principalmente, à sua aparência grotesta, quando torna-se amiga do porquinho, passa a ser simpatizada por todos, incluindo o rato Templeton, que aparentemente apenas pensa em si.

A fama da obra literária escrita por E. B. White é indiscutível. Com mais de 45 milhões de cópias vendidas e tendo sido traduzido em 23 países, o livro é um dos maiores clássicos infantis existentes. Vendo que estava diante de uma boa história, a Paramount Pictures decidiu investir nesta adaptação cinematográfica. Todavia, ao contrário do livro, o filme não consegue tocar plenamente a criançada. Vocês, caros leitores, podem estar se perguntando como afirmo com tanta certeza este fato, visto que não sou criança. Ora, bastava prestar atenção ao público infantil encontrado na sala do cinema. Onde assisti ao longa-metragem, a maioria dos espectadores mais novos sequer se concentrou. Sem exagero algum, uma criança ao meu lado chegou a dizer que iria dormir durante o filme.

Talvez, um dos piores erros do diretor Gary Winick ("De Repente 30") foi exatamente este citado anteriormente. Sem conseguir envolver tanto o público infantil quanto o adulto na história, Winick dispôs de bons elementos em cena, porém não foi capaz de aproveitá-los de uma maneira eficiente. O desenrolar da trama aparenta ser demorado e sacal, fazendo com que a duração de quase duas horas do filme pareça uma eternidade. Pelo menos, em geral, o diretor conseguiu dirigir de boa forma os animais, sempre os destacando como necessário, tendo em vista que são eles os reais protagonistas do longa. Embora aqueles que assistiram a "Babe – O Porquinho Atrapalhado" possuam uma certa tendência a pensar que a história de "Menina e o Porquinho" não é original, o que acontece é exatamente o contrário, visto que o livro de 1952 que foi fonte de inspiração para os filmes Chris Noonan e George Miller. O que talvez não agrade totalmente é que as manipulações digitais e afins usadas neste recente projeto já haviam sido empregadas anteriormente. Todavia, isto não significa que este fator também não foi bem utilizado no filme.

Os roteiristas Susannah Grant ("A Fuga das Galinhas") e Karey Kirkpatrick ("Os Sem-Floresta") já possuem experiência em escrever projetos cinematográficos infantis, porém, em geral, todo este "saber" não pareceu valer em seu último longa. Todos sabemos que adultos também vão ao cinema conferir produções infantis, e os roteiristas pareceram ignorar totalmente este fato. Não que os filmes voltados para as crianças tenham que agradar plenamente o público mais velho, mas que, pelo menos, as lições de moral sejam abordadas de maneira mais trabalhada. As mensagens repassadas até que são bonitas, não posso negar. Ressaltam, realmente, que deve haver uma valorização da amizade, não importando a aparência de seus amigos, por exemplo, assim como o roteiro também ajuda na aceitação da morte das pessoas. Enfim, são até lições importantes, porém que foram desenvolvidas de forma tão óbvia que não se destacaram perante os outros fatos.

Confesso que preferia assistir à produção original dos Estados Unidos, visto que aos nossos cinemas apenas chegou a versão dublada em português. Talvez celebridades como Julia Roberts, John Cleese, Oprah Winfrey, Cedric The Entertainer, Steve Buscemi, entre outras, fossem capazes de chamar mais a atenção do público. No entanto, digo – e com muito orgulho, claro – que a dublagem nacional não deve estar aquém da original. Ainda bem que dessa vez não preferiram colocar atores globais na equipe de dubladores e prezaram por profissionais realmente experientes. A atriz Dakota Fanning, sem dúvida alguma, é a revelação infantil do cinema hollywoodiano, portanto, não poderia deixar de participar deste filme. Com o decorrer do tempo, a garotinha demonstra cada vez mais o talento que possui e que realmente tem competência para galgar seus passos no cenário cinematográfico mundial.

Em geral, embora possua alguns elementos interessantes, o saldo de "A Menina e o Porquinho" não é satisfatório. Não conseguindo envolver totalmente sequer o seu público alvo, que é o infantil, a produção chega aos cinemas de mansinho e provavelmente sairá da mesma forma. Com mensagens importantes, porém que poderiam ser trabalhadas de maneira melhor, o longa demonstra ser apenas mais um exemplar infantil descartável nos cinemas. E engana-se quem pensa que a produção é, de fato, protagonizada por Dakota Fanning. Contrariando o título brasileiro, que faz menção à menina como parte principal, a garota é mais atriz coadjuvante do que principal. Mesmo assim, é notável o talento e a presença perante as câmeras que a jovem Fanning possui. Se você é exigente e entendia-se facilmente, passe longe deste filme.

Andreisa Caminha
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