Confesso que não sou muito fã do gênero ação, pois considero apenas como uma manifestação gráfica de hormônios masculinos, em que se ressalta valores como agressividade e sexualidade, deixando de lado valores artísticos. Mas é fato que existem boas produções nessa área. "Adrenalina" certamente pode ser enquadrado dentro desse grupo, já que assisti-lo é ter diversão garantida. Sem jamais se levar a sério, o filme conta com cenas absurdas e hilárias, conduzidas com muita criatividade graças ao trabalho dos diretores estreantes Mark Neveldine e Brian Taylor, que acabam por ser uma exacerbação de tudo que já foi visto no gênero, funcionando como uma boa auto-paródia.

A história tem início quando Chev Chelios, um perigoso mercenário, acorda misteriosamente e descobre (através de uma maneira eficiente, sem apelar para flashbacks) que foi infectado por um potente veneno chinês e que só lhe resta uma hora de vida. Com o tempo que lhe resta, Chev sai em busca de vingança e descobre que pode suprimir o efeito do veneno enquanto seu corpo estiver produzindo adrenalina, adiando por algum tempo a sua morte. A partir desse momento, o protagonista se envolve em inúmeras situações inusitadas e cheias de ação para que seu corpo não deixe de produzir o hormônio (além de artifícios interessantes, como o uso de bebidas energéticas e remédios nasais). Como seu tempo é curto, Chev tem liberdade total para se envolver nas situações mais absurdas possíveis, como uma divertida invasão a um hospital, além de protagonizar uma das cenas de sexo mais engraçadas dos últimos tempos.

A montagem é um dos pontos altos do filme. Assemelhando-se à linguagem utilizada em vídeos clipes, "Adrenalina" é repleto de tomadas rápidas e cortes repentinos, sempre dando um dinamismo incrível ao longa. O resultado final lembra jogos de vídeo-game, no melhor estilo GTA, no qual o personagem principal se vê livre para fazer o que quiser dentro de uma cidade grande, sempre regado por muita violência e rock 'n roll. Tamanha liberdade é justificada pelo ótimo roteiro, que de maneira eficiente evita constantemente cair no clichê, sem jamais perder tempo com pieguices.

Outro ponto positivo do longa é a atuação de Jason Statham. O ator vem se tornando o novo ícone de filmes de ação após ter estrelado longas como "Carga Explosiva" e o recente "Caos". Sempre emprestando carisma aos seus personagens, Statham é dono de um excelente timing cômico, além de mostrar a virilidade e a agressividade necessárias nesse tipo de produção. A bela Amy Smart, de "Efeito Borboleta", também se sai bem em seu papel, e está presente nas cenas mais divertidas do filme. Por falar na atriz, é interessante notar a forma como as mulheres são tratadas no filme. Sempre aparecendo semi-nuas e servindo a propósitos sexuais, elas funcionam como uma paródia aos demais filmes de ação, nos quais são vistas somente como objetos sob a ótica masculina.

Com um final tão absurdo quanto o próprio desenrolar do filme, "Adrenalina" consegue deixar o espectador tonto ao final da projeção, pois este não vai conseguir desviar sua atenção um só minuto da tela. Fazendo jus ao seu título, "Adrenalina" certamente pode figurar entre os melhores filmes de ação dos últimos anos.