Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 04 de janeiro de 2007

Eragon

Seria "Eragon" uma saga para desbancar o favoritismo de "O Senhor dos Anéis"? Seria "Eragon" um título para fazer frente ao tão querido "Harry Potter"? Nem um, nem outro, pelo menos ainda.

Antes de alguma coisa: eu não li o livro que dá origem ao filme.

Mais uma obra que prima pela fantasia é levada para os cinemas. Dessa vez, o escritor agraciado por ver sua estória adaptada é Christopher Paolini, que escreveu o primeiro livro, no caso esse, com apenas 17 anos. Seu livro ganhou lugar no top das prateleiras mundo afora, desbancando fortes nomes, como "Harry Potter". Restava saber se o tamanho sucesso das páginas iria ser correspondido em imagens. Não foi bem assim. O roteiro de "Eragon" utiliza muitos elementos já famosos de outros livros e filmes, o que o torna distante de ser inovador. Talvez o sucesso do livro se justifique pelo fato de enredos com mundos fantasiosos estarem na moda, porque de novidade esse nada tem.

Pior do que não ter novidades é utilizar-se muito dos outros. Ao passo que os minutos do filme iam transcorrendo, mais e mais elementos que muitos já conhecem apareciam. O jovem Eragon (interpretado por Edward Speleers) seria "O Escolhido" de "Matrix"; elfos e anões que são do mundo de "O Senhor dos Anéis" também foram citados; um jovem prodígio muito parecido com "Harry Potter", que inclusive usa mágica; e até os nomes dos personagens lembram a outros, inclusive o do protagonista. Vai dizer que Eragon não lembra Aragorn?

A história é tão cópia de outras que dá a impressão de ser uma mistura passada no liquidificador, mas sendo que o resultado está muito longe de qualquer um que teve suas estórias utilizadas.

A trama do filme gira em torno de um garoto, o jovem Eragon, que deverá passar por novidades em sua vida, no caso, ser um Cavaleiro Dragão. Sendo assim, ele guiará seu dragão e seguidores ao encontro de vitórias contra algum tirano. Se não me engano, esse roteiro muito lembra o filme "Coração de Dragão". No filme de 1996 o personagem Bowen (Dennis Quaid) tem uma ligação muito forte com Draco, um dragão cujo poder, força e inteligência está à altura do desiludido cavaleiro. E o que era uma batalha entre homem e dragão será uma grande amizade, que vai mudar o mundo medieval. Lógico, muitas são as diferenças, mas quem assistiu a "Coração de Dragão" e vê agora "Eragon" vai saber porque depois de dez anos eu trago esse filme à tona.

Para um livro vender tanto deve ter algo de interessante. Como disse antes, o fato de que hoje em dia as estórias que se usem de mundos mágicos, cheios de personagens predestinados e coisas do tipo, fez com que "Eragon" fosse facilmente vendido. Entretanto, esse livro parece não merecer estar em topos. Pode ter suas boas abordagens, mas todas elas já vimos em títulos anteriores. Mesmo que o livro seja melhor do que o filme, ainda assim ele estará aquém de grandes títulos, alguns esses que já receberam suas adaptações para o cinema.

Dá para sentir quando o erro é da adaptação e quando o erro é do adaptado. Em "Crônicas de Nárnia", via-se uma estória recheada de elementos interessantíssimos, mas ela foi completamente mal trabalhada quando levada para as telonas, todavia o livro continua firme, forte e muito bom de se ler. Em "Eragon" o erro maior não foi da adaptação e sim da fraca estória que se tem para adaptar, visto que a técnica do filme é espetacular. Técnica essa que, se fosse empregada em "Crônicas de Nárnia", por exemplo, o filme não seria tão frágil como foi.

O melhor de "Eragon" é a dragão Saphira. Mesmo se tudo tivesse sido um desastre, essa arte visual não passaria despercebida. É incrível como os efeitos visuais são bem empregados em Saphira. Ela se movimenta bem, com leveza e destreza, transpassando uma sensação de ser algo que existe. Desculpem-me o exagero, mas dá até para acreditar em dragões ao ver Saphira em plano de destaque na cena. Não só quando é uma formosa e gigantesca fera ela demonstra exuberância, mas já desde pequenina, recém saída do ovo, Saphira cativa. Bem que ela poderia ter passado mais tempo ainda filhote.

Por falar em tempo, isso é uma tremenda falha do filme. O filme beira duas horas de duração e isso não é nem um pouco suficiente. A história ficou deveras rasa, bem como personagens e alguns acontecimentos. Inclusive a relação Eragon e Saphira precisava ser melhor trabalhada para que um melhor carinho filme/espectador fosse criado. Isso só explica porque Peter Jackson é tão idolatrado quando resolveu fazer longas que fizessem jus aos seus vários minutos de duração.

Mesmo "Eragon" não tendo ido tão bem, é visível que caso haja um segundo filme – já que o final desse clamou por um – várias falhas possam ser corrigidas. O fato do primeiro de uma possível leva de filmes ter sido ruim nem sempre deixa uma imagem totalmente negativa para o título. Tome como exemplo "Harry Potter", que, filme após filme, vem evoluindo. E também tome como exemplo o filme "As Crônicas de Nárnia", pois essa franquia também pode ter uma seqüência forte. Basta, para isso, o primeiro ser rentável nas bilheterias ou na venda de DVDs que uma seqüência corrigindo os erros do sucessor poderá colher melhores frutos.

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe

Saiba mais sobre