Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de dezembro de 2006

Menores Desacompanhados

Na onda dos filmes natalinos, "Menores Acompanhados" chega trazendo uma aventura infanto-juvenil que não sai do lugar comum, revelando-se apenas um entretenimento mediano e um bom alvo para a bilheteria da Warner.

Existem diferentes formas de filmes natalinos. Alguns são somente ambientados em tal época, outros trazem aquelas mensagens de paz e fraternidade básicas para os espectadores. Claro que ambas possuem suas semelhanças e diferenças, mas acabam sendo somente um caça-níquel que aproveita a data comemorativa e as férias escolares para molhar a conta bancária dos investidores. "Menores Desacompanhados" é o tipo de filme que não precisava ser feito, até porque não conta com nenhum ingrediente novo. Ambientada em uma véspera de Natal onde a nevasca ataca a região e impede que os aeroportos funcionem normalmente, os passageiros vêem-se obrigados a dispor da paciência e do otimismo para não perderem a comemoração natalina. Dentre os viajantes, os irmãos Spencer (Dyllan Christopher) e Katherine (Dominique Saldana) estão esperando no aeroporto na Área Especial para Menores Desacompanhados, uma sala de espera para dezenas de garotos sozinhos ou sem pais, de todos os cantos do país. Estranhando o ambiente que abriga jovens rebeldes jogando caixas e copos de suco uns nos outros, Spencer e outras quatro crianças – a rica e mimada Grace (Gina Mantegna), a esportiva e esquisita Donna (Quinn Shephard), o geninho acadêmico Charlie (Tyler James Williams) e o alucinado por quadrinhos Timothy Wellington, também conhecido como Beef (Brett Kelly) – fogem em busca da liberdade. Mas, para conseguir esta tão almejada liberdade, eles terão policiais e assistentes do aeroporto e acabarão entrando em diversas aventuras que mostram que o Natal não tem a ver com o lugar onde você está, mas sim com quem você está.

Clichês ali, clichês aqui. O roteiro de Jacob Meszaros e Mya Stark fala uma linguagem apropriada para o público alvo, mas acaba se perdendo nos excessos. Com uma premissa que parece não dar margens para uma grande história, a grande arte de "encher lingüiça" entra em ação e somos enviados a uma série de acontecimentos que as crianças vivem que fogem totalmente da realidade. A questão não é mostrar que tudo aquilo é possível, mas sim de ter a capacidade de convencer o público e fazer com que este viva cada aventura que os protagonistas começam a viver. Além da história mal preparada, há um sério problema na construção dos personagens. Até um certo momento, onde vemos cinco crianças totalmente diferentes que passam a conviver juntas e lutar contra as diferenças que as cercam, trabalhando em equipe e aderindo ao espírito natalino, temos estereótipos básicos e, digamos, mais aceitáveis para o gênero do filme. A partir do momento em que começamos a vigiar outros personagens, como o gerente interpretado Lewis Black, percebemos outro distanciamento da realidade que a ficção não soube conduzir. Primeiro pelo fato de que este e seus "capangas" são totalmente infantilizados. É difícil acreditar que um guarda de um aeroporto possa ter uma mentalidade tão inferior quanto é tratada no filme, sem falar também que a incessante caça que Oliver começa contra as crianças é totalmente sem fundamento. Por mais que elas quisessem sair do aeroporto e ir para o hotel (que por sinal é bastante próximo do lugar), Oliver não dispõe de uma responsabilidade tão grande quanto é lhe fantasiada para que acabe mantendo os garotos em praticamente um cativeiro.

A tentativa dos roteiristas de juntar a idéia principal do filme com um paralelo do pai que enfrenta situações incríveis para resgatar os filhos não funcionou, quebrando o seqüencial da história. Mesmo assim, Meszaros e Stark conseguiram um feito que tem sido bastante difícil em filmes natalinos: passar uma mensagem sem forçar tanto a barra. Calma, não estou dizendo que não houve uma certa artificialidade em concluir a história e passar aquele clima de fraternidade e amor que o Natal simboliza, mas foi interessante o modo com que as crianças passaram ao espectador o que significou toda aquela aventura que viveram, e o que poderiam fazer para transformar seu Natal em uma data mais especial. É óbvio que existem os personagens que acabam retomando uma postura pacífica e tudo parece muito lindo no desfecho, mas coisas do tipo são totalmente de se esperar. Talvez este seja o ponto que transforme "Menores Desacompanhados" em uma produção que transmite o mínimo de entretenimento para quem a assiste, justamente por contar com personagens simpáticos (não totalmente carismáticos, mas sim aceitáveis) e com uma nova forma de demonstrar o que o Natal realmente significa. Falando em personagens, as características de um para outro pouco variam, já que estão apenas fazendo um bom trabalho. Talvez o maior destaque mesmo fique pela desenvoltura de Tyler James Williams, que interpreta o pequeno Charlie, e rende alguns momentos divertidos.

Paul Feig consegue dar movimento suficiente à história, mas demonstra uma certa insegurança ao apostar em planos que poderiam ter sido melhor aproveitados, mas acabam perdendo o sentido pela falta de investimento. Alguns closes são totalmente desnecessários, já que atualmente cinema não precisa ser autoexplicativo para que a platéia possa entender o que está acontecendo, ou seja, nem sempre precisamos mostrar que um tanque de gasolina está vazando para dar-se a entender isto. A trilha sonora foge dos "jingle bells" e traz mais aquela sonorização aventurística, o que não influi e nem contribui. Mesmo assim, "Menores Desacompanhados" tem lá seus absurdos aceitáveis, mas não se sobressai entre as comédias natalinas. O que é uma pena, pois acaba confirmando que muitos dos filmes do gênero acabam sendo feito sem nenhum capricho, com a idéia de que o público gostará de "qualquer coisa", transformando o vil metal disponível em apenas mais uma produção razoável, passível de ser conferida, mas facilmente esquecida.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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