Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 03 de janeiro de 2007

Ilusionista, O

O diretor e roteirista Neil Burger tenta trazer com "O Ilusionista" uma nova forma de se ver um mágico. Mágico esse que, retratado em Eisenheim (Edward Norton, de "Uma Saída de Mestre"), não consegue convencer pela falha do ator, mas não do bom personagem.

A proposta de "O Ilusionista" é logo entendida com um enorme flashback inicial, onde se explica a índole do mágico Eisenheim, os objetivos do Inspetor-chefe de Viena (Paul Giamatti, de "A Dama na Água") e, conseqüentemente, do Príncipe Leopold (Rufus Sewell, de "Tristão e Isolda"). Além disso, também já aprofunda bem o relacionamento entre Eisenheim e a personagem Sophie (Jessica Biel, de "Ameaça Invisível – Stealth"). O roteiro do filme gira em torno das façanhas dos citados personagens e o desenrolar delas na cidade de Viena.

Eisenheim é um mágico que, tentando desafiar as leis da natureza, tem um objetivo límpido desde os primeiros minutos de filme. Fazer aparecer e desaparecer. Nada mais desafiador para o natural da vida do que fazer a matéria sumir. Para tanto, e por conta de ser separado do seu relacionamento adolescente, no caso, com Sophie, o mágico gira o mundo evoluindo os seus truques ilusórios. Ele passa cerca de 15 anos fora, até voltar à sua cidade natal e reviver lembranças passadas, bem como colocar seu objetivo, ou não, em prática. Porém, ao voltar, esbarra com a ganância do simpático (!) Uhl (o Inspetor-Chefe da cidade), que o caça não deliberadamente, mas por conta de ordens do Príncipe Leopold, que trava uma rixa direta com o mágico mesmo antes de saber que esse está a ter encontros amorosos com sua companheira Sophie.

Com tantas premissas interessantes, seria até fácil fazer de "O Ilusionista" um filme bem apresentável. De sua parte, Neil Burger e sua equipe até conseguem. É empregada ao filme uma fotografia bem acabada; baseada em tons de sépia que nos carregam à época dos acontecimentos. Além disso, a trilha sonora se encaixa perfeitamente bem com o desenrolar da trama e o aprofundamento da mesma. Porém a atuação do pilar principal do elenco leva quase tudo por água abaixo.

É de Edward Norton que estou falando. Ele não capta a essência do personagem, simplesmente isso. Ora, alguém que passou 15 anos de sua vida fora de sua cidade, evoluindo seus truques e insuflando o amor pela bela Sophie seria alguém para lá de sentimental, mas com postura, com sabor. Norton não parece ver isso e, no palco, local de se mostrar isso, ele é basicamente um mágico que se traduz inovador somente pelas mágicas que aplica, mas não pelo apego que se tem àquilo. Ao lado de Sophie, mesmo se mostrando bem amoroso, não chega ao nível de uma pessoa que passou 15 anos longe de sua amada. O personagem não chega a ser de todo ruim pela categoria de Edward Norton. Mesmo o ator não o captando bem, ainda assim mantém a postura de uma pessoa de época, mas isso não adiciona muito à personalidade de Eisenheim, que deveria ser marcante por conta do que foi proposto logo no início da celulose.

Como o Inspetor-Chefe, Paul Giamatti, ele, sim, incorpora bem a personagem. Uhl é apenas um manipulado do sistema (no caso Leopold) que se vê na posição de colocar em prática o que será bom para o seu futuro, principalmente financeiro, diga-se de passagem. Não podendo ir de encontro à vontade do Príncipe, ele caça ferrenhamente Eisenheim, mas mesmo assim expõe admiração e um pouco de inveja pelo mágico. Com tudo isso, uma simpatia interessante que Giamatti empregou muito bem à personagem e fazem os momentos finais do ator em cena plenamente saboreáveis.

Em contra partida à boa atuação de Paul Giamatti, vemos Rufus Sewell desastroso. O que, pelo menos para mim, é até normal, já que em nada as atuações do ator conseguem convencer. Nem como o Príncipe Leopold, nem em "Tristão e Isolda", "A Lenda do Zorro", "Coração de Cavaleiro", Rufus se mostra bem. Logo, vide a limitação visível dele, é até uma atuação normal. Tão normal quanto a de Jessica Biel como Sophie, que é somente um rostinho bonito no filme.

Um roteiro com começo, meio e fim bons poderia tornar "O Ilusionista" melhor. Mas tal como o filme, representado pela expressão "altos e baixos", o roteiro de Neil Burger apresenta um bom começo, um também bom desenrolar, mas o fim é fraquíssimo. Tentando dar uma grande reviravolta ao melhor estilo do seriado "CSI – Crime Scene Investigation" – permitam-me a longínqua comparação -, ele se perde. Perde-se pelo fato de tentar fazer isso em poucos minutos, o que soou como um apanhado geral dos acontecimentos ao longo do filme e não um desfecho glorioso a que se propunha.

Raphael PH Santos
@phsantos

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