Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de dezembro de 2006

Natal Brilhante, Um

"Um Natal Brilhante" é apenas mais um filme que chega para engordar a lista de "filmes sobre o Natal". Sem grandes atrativos e cheio de piadas previsíveis, o longa serve mais para as crianças em busca de uma historinha boba.

Quando chega o mês de dezembro, já é tradição a chegada aos cinemas de filmes que tenham como pano de fundo o Natal. "O Milagre da Rua 34", "Meu Papai é Noel", "Férias Frustradas de Natal", "Sobrevivendo ao Natal", "Um Herói de Brinquedo"… todos esses filmes adotaram uma fórmula: tinham boas doses de humor, mas não deixavam de transmitir todas aquelas lições sobre a importância da união na época do Natal, os efeitos que o espírito natalino causam nas pessoas, etc, etc. Este "Um Natal Brilhante" chega com esta mesma receita, porém, sem nenhuma sombra de preocupação por parte de seus realizadores em criar algo diferente, que fuja do lugar comum. E, pelo visto, a falta de inovação no gênero já está deixando o mesmo saturado, e o encanto das pessoas certamente não é mais o mesmo de anos atrás, a prova é o cinema praticamente vazio na sessão desta nova comédia natalina.

Steve (Matthew Broderick) é um pai suburbano e entusiasta da época natalina. Ele pode ser considerado até meio certinho, já que leva uma vida bem organizada e planejada. Seu vizinho, Buddy (Danny DeVito) é exatamente o oposto! É detentor de uma personalidade grande e de muitos sonhos que ainda terão que se materializar. O último sonho de Buddy é criar uma decoração de Natal com tantas luzes que seja vista até do espaço! E esse desejo do vizinho está tornando o mundo disciplinado de Steve um verdadeiro pesadelo. À medida que a casa de Buddy ganha mais e mais luzes de designs diferentes, Steve começa a bolar uma missão. Seu principal objetivo passará a ser vencer Buddy. Essa competição resultará em uma grande desordem na vizinhança, porém servirá para que todos descubram o verdadeiro espírito do Natal.

Mostrar um filme de Natal cujo foco é o embate entre dois vizinhos, de cara percebemos o rumo que a história irá tomar: o humor pastelão. Confesso que lembrei direto do embate entre o personagem de Arnold Schwazenegger e seu vizinho chato em "Um Herói de Brinquedo", pois a essência é a mesma: cada um tentando mostrar superioridade de acordo com as comemorações de Natal. Sem falar que a explicação para todo o embate se iniciar é a mais idiota possível: Buddy Hall quer que sua casa seja vista do espaço através do Google Earth (que possivelmente por questões autorais é chamado no filme como "Minha Terra"). Tudo bem que podemos conferir toda uma análise emocional, pois Buddy, um ser cheio de frustrações profissionais, não queria mais uma vez na vida ser um "invisível", mas, de qualquer forma, não deixou de ser algo forçado.

A falta de criatividade e previsibilidade no longa são seus maiores defeitos. Simplesmente, quando cada personagem é apresentado já sabemos quem será o chato, quem será o injustiçado que sofre o filme inteiro, sem falar nas piadas mais do que batidas. Quando o personagem de DeVito compra uma rena, já sabemos que haverá alguma piada envolvendo ela e o pobre do personagem de Broderick; quando os dois competem em um torneio local, já sabemos o resultado de antemão. Além disso, o filme se apóia sem méritos nas piadas visuais, tentando arrancar risos unicamente por mostrar um sujeito baixinho e feio como DeVito casado com uma ex-modelo loira e exuberante (mas de voz insuportável)… e enquanto os filhos do personagem de Broderick não são muito atrativos, DeVito é pai de duas gêmeas sensacionais.

E a direção de John Whitesell (do ridículo "Vovó…Zona 2") não faz nenhum esforço em criar um clima muito diferente ao de um típico filme de Sessão da Tarde. Se tem um ponto em que ele se destaca é na condução dos shows de luzes comandados por Buddy Hall, mas nada de demais. Pelas seguidas piadas sem graça e a falta de mudanças no decorrer da projeção, o filme chega até a se tornar cansativo mesmo com curtos 95 minutos de duração. Ainda, o roteiro escrito por nada menos que três pessoas – Chris Ord, Matt Corman, Don Rhymer – contém furos imperdoáveis. Para começo de história, como Buddy Hall, um homem frustrado profissionalmente e que atualmente trabalha como vendedor de carro tem capacidade financeira de bancar todo aquele show – com direito a camelos e tudo mais – em sua casa? Ainda, a atitude tida pela dupla de protagonistas no final para se "redimirem" com suas famílias, apesar de bonita, foi exagerada demais, pois como eles armaram tudo em tão pouco tempo e sem que ninguém tivesse visto ou impedido?

Se o filme ainda proporciona bons momentos é graças ao esforço da dupla principal. Danny DeVito, como sempre, demonstra uma grande aptidão para comédia, e consegue dar a Buddy Hall a imagem de um típico chato que, se for preciso, deixa de comer para comprar bens materiais e mostrar que é bem sucedido. Já Matthew Broderick – um tanto envelhecido, diga-se de passagem – esbanja muito bem o ar de bobão, um sujeito que, antes respeitado na cidade, passa a se tornar "mais um" da noite para o dia e tudo parece dar errado em sua vida. São personagens interessantes que ganhariam uma análise profunda, mas, infelizmente, poderiam ter recebido uma maior atenção do roteiro em suas constituições.

Pode parecer que o filme é horrível, mas ele tem seus pontos positivos. Mesmo que em poucos momentos, é possível dar umas risadinhas com as presepadas de Buddy e o desespero de Steve. Um momento particular em que eles observam três, digamos "dançarinas", é de rachar de rir. Fora isso, há aquelas velhas lições de vida de que se deve valorizar a família acima das coisas materiais, acima do sucesso pessoal, que as coisas simples da vida muitas vezes sobrepõem as grandiosas, etc. Tudo pode ser batido ao extremo, mas o modo que fora costurado na trama foi interessante.

Para um "filme de Natal", não traz novidade nenhuma para quem está acostumado a esse tipo de filme todo fim de ano. Se o espectador menos exigente já for para o cinema preparado, querendo apenas uma historinha leve, ingênua, a fim de fugir das sanguinolências presentes nos demais filmes em cartaz, "Um Natal Brilhante" pode ser uma boa opção. As crianças devem gostar. Agora, se você é adulto e quer realmente um filmão sobre Natal, recorra aos clássicos, vá à locadora mais próxima e alugue "A Felicidade Não Se Compra" (1946), de Frank Capra.

Thiago Sampaio
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