Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Como Perder um Homem em 10 Dias

Uma comédia do tipo descartável, que consegue a incrível proeza de se tornar notavelmente medíocre em meio a tantas outras produções do gênero.

Existem filmes de todos os tipos. Os feitos para emocionar, outros para impressionar seja pelo seu visual, roteiro ou outro aspecto e os feitos com intuito simplesmente de gerar alguma diversão aos que o assistem. Nesse campo, existe a famosa categoria das "comédias descartáveis", que consiste em produções de trama rasa, que não exige do seu espectador nada além de disposição para acompanhar o desenrolar superficial e previsível de seus roteiros. Tudo bem até aí. Todo mundo, independente de seu gosto cinematográfico, já se pegou rindo de um desses filmes ou já procurou algum representante dessa categoria nas locadoras quando estava a fim de uma diversão sem compromisso. Porém, dentre tantas produções desse gênero que, ainda que não possuam um conteúdo de qualidade, conseguem cumprir o papel a que se propõe – o de divertir – existem o que conseguem se superar no quesito mediocridade. "Como Perder Um Homem em 10 Dias" é um perfeito exemplar do tipo.

A trama – que não possui exatamente grande potencial, mas não é o único elemento a dar errado na produção – gira em torno de dois personagens principais. Ben é um publicitário que aceita o desafio de uma aposta em que deve fazer uma mulher se apaixonar por ele em 10 dias, mas a "vítima" escolhida é justamente Andie, uma jornalista que, para escrever uma matéria, precisa infernizar a vida de qualquer homem que tente se aproximar dela. Ok, só pelo breve resumo o mais inocente dos espectadores já consegue imaginar o que vai acontecer: os dois colocam seus planos em prática, mas acabam se apaixonando de verdade, o que vai complicar tudo. Surpresa! É exatamente isso o que acontece, mas da forma mais entediante e arrastada que se poderia imaginar.

Em nenhum momento dos quase intermináveis 116 minutos da duração do filme se pode identificar o menor vestígio de timing cômico, o mínimo que se espera de uma produção enquadrada como "comédia romântica". Como se não bastasse o desenrolar da trama ter conteúdo extremamente previsível, a história parece evoluir num ritmo torturantemente lento, o que não cabe, de modo algum, nesse tipo de história. O diretor Donald Petrie, que não é propriamente um grande nome do cinema, mas que já foi responsável por algumas comédias bem sucedidas como "Miss Simpatia" e "Três Mulheres, Três Amores", parece ter perdido totalmente a mão ao conduzir "Como Perder Um Homem em 10 Dias" e Robert Evans, que encabeça os roteiristas e tem no currículo filmes notáveis como "Chinatown", também deveria estar sofrendo de alguma síndrome de fim de carreira ao levar adiante um projeto tão sem propósito como esse.

Para completar o festival de mediocridade, entra o fabuloso elenco. A sorte do filme foi não precisar de protagonistas dando um show de interpretação, já que isso esteve muito longe de acontecer. Matthew McConaughey interpreta Ben com a sua famosa mesma expressão de sempre. Alíás, não se sabe exatamente até onde vai o potencial do ator, tendo em vista que a maioria dos seus papéis encaixa-se sempre no estereótipo do mocinho das comédias românticas e similares. A esquálida e no mínimo sem-graça Kate Hudson também não vai além da atuação padrão, com o agravante de não possuir o tipo que o personagem procura passar e muito menos carisma na tela e química com seu parceiro de cena.

Enfim, "Como Perder Um Homem em 10 Dias" consegue reunir grande parte das coisas que podem dar errado em um filme. Entretanto, como existe público para tudo, alguns podem dispor de um pouco mais de tolerância e até gostarem de alguma coisa no filme. Para todos os efeitos, porém, eu aconselho não arriscarem e procurarem outra opção.

Amanda Pontes
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