Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de dezembro de 2006

Meu Vizinho Mafioso

Analisando basicamente, "Meu Vizinho Mafioso" consegue agradar pelos seus aspectos positivos que, em geral, estão relacionados à comicidade. Possui, sim, alguns pequenos defeitos que podem ser perceptíveis aos olhares mais rigorosos. Porém, levando-se em conta o resultado final, o humor e a harmonia conseguem facilmente ocultar o que poderia, teoricamente, dar errado no filme.

Uma vida completamente fracassada e uma série de trapalhadas marcam a história do dentista Oz (Matthew Perry, o eterno Chandler de "Friends"). Com um casamento que beira o ridículo (sua mulher Sophie o atormenta incessantemente junto a sua sogra) e com dívidas deixadas por seu sogro, o doutor parece não encontrar mais saídas para fugir da mediocridade que se tornou rotina em sua vida. Quando tudo parece não ter como piorar, eis que surge na vida de Oz o famoso assassino da mafia de Chicago Jimmy "Tulipa" Tudesky (o veterano Bruce Willis), que vira o novo vizinho do rapaz. O fato inusitado transforma a vida de Oz num inferno pior do que já era. Enquanto sua mulher pretende acabar com sua vida, Oz precisa enfrentar o fato de que um perigoso assassino é seu vizinho e isso trará sérias conseqüências, como famosos mafiosos que estão à procura de Tudesky (Frankie Figgs e Janni Gogolak) e ainda por cima uma paixão inevitável pela esposa de seu novo "amigo", a bela Cynthia Tudesky.

De certa forma, pode-se dizer que o roteiro é muito criativo e interessante. Sabendo como entreter na maneira exata e sem muitos exageros, as atuações conseguem enaltecer ainda mais a série de surpreendentes reviravoltas que o filme traz ao melhor estilo James Bond (no caso da façanha final do dentista para solucionar o caso). Em alguns pontos, o jogo de "todo mundo quer matar todo mundo" pode tornar o filme um tanto quanto confuso para os mais desatentos ou até meio que cansativo para os mais desinteressados. Porém, quando analisada cuidadosamente, a trama é desenvolvida de maneira muito agradável, prendendo a atenção do espectador a todo momento. Para os mais rigorosos, algumas questões podem ser levantadas. Por exemplo, no final, há uma certa contradição de personalidades e sentimentos, onde Jimmy escolhe matar Figgs ao invés de Oz. Acaba sendo um tanto quanto ilusório, levando-se em conta a teoria de que Oz ficou com sua esposa enquanto o amigo mafioso o ajudou durante todo o filme. Em geral, essa situação pode facilmente ser considerada como uma bela escapatória para não dar um fim trágico ao protagonista, fato que não deixa de ser interessante por não se tratar de um final muito forçado.

Quanto às atuações, o destaque não poderia ser outro senão a dupla principal Oz e Tudesky, interpretados respectivamente por Matthew Perry e Bruce Willis. Perry é definitivamente hilariante! Muitos trejeitos de Chandler ainda são visíveis na atuação do ator. Inclusive, em alguns pontos, acredito até que a personalidade "atrapalhada" de Oz aproxima-se muito da personagem do seriado, sendo muito difícil não separar um do outro. No entanto, Perry consegue manter uma constante e, mesmo não tendo muito trabalho para incorporar a personagem (já que esta é muito semelhante ao Chandler), ele faz um ótimo trabalho. O mesmo pode-se dizer de Willis, que está ótimo durante todo o filme. Mantendo um estilo sério e engraçado ao mesmo tempo que o consagrou e muitas expressões características suas, ele consegue encarnar Jimmy Tudesky de maneira excepcional e forma uma dupla e tanto com Perry. Atrás dos dois, estão Michael Clark Duncan e Amanda Peet nos papéis de Frankie Figgs e Jill (assistente de Oz) respectivamente. Os dois alternam entre altos e baixos, mas conseguem pegar embalo na qualidade do filme e têm um bom resultado final, também conseguindo agradar no quesito "comicidade". Natasha Henstridge (a esposa de Jimmy) é regular, assim como Duncan e Peet. A atriz não compromete e, ao mesmo tempo, não é digna de muito destaque, chegando a beirar o comum. Quem pode ser considerada como exceção é Rosanna Arquette no papel da esposa louca de Oz. Com um sotaque que se torna enjoativo e uma atuação que não agrada tanto como a do resto do elenco, a atriz fica abaixo da média de qualidade do elenco. Outro destaque positivo foi a participação de Kevin Pollack no papel de Janni Gogolak, incorporando muito bem o mafioso e mostrando trejeitos e uma personalidade muito engraçada da personagem que rende boas risadas em suas aparições.

A parte técnica se sai muito bem e consegue ratificar ainda mais as intenções das cenas (em geral, de humor). A direção de Jonathan Lynn mostra-se eficaz e cuidadosa e, partindo por esse princípio, o filme usa e abusa dos planos que realçam os movimentos cômicos dos atores. Em muitos momentos, os closes são muito oportunos para captar as reações desesperadas de Oz e as expressões sérias de Jimmy, dentre outros. Analisando em um aspecto geral, a direção e a produção agradam muito por dar a dose certa de liberdade para o desenvolvimento das cenas e, sendo assim, para as atuações dos atores.

"Meu Vizinho Mafioso" é o típico filme digno de boas risadas para momentos de distração. Não faz o tipo "essencial" ou "imperdível", até mesmo por não ser algo de muito extraordinário. No entanto, é recomendável e vale muito a pena assistir. Ressalto ao leitor interessado que não serão 101 minutos jogados fora e, caso não faça o seu gênero, reservo pelo menos quatro das sete estrelas desta crítica para os momentos cômicos de Matthew Perry, Bruce Willis e Michael Clark Duncan. As outras estrelas? Bom, são suficientes já que, sejam quais forem os erros encontrados, estes serão rapidamente superados pelos fatores positivos.

Ícaro Ripari
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