Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de dezembro de 2006

Garota da Vitrine, A

"A Garota da Vitrine" é um romance nada convencional, que foge dos já tradicionais clichês de Hollywood. Trazendo uma bela fotografia e ótimas atuações do elenco, este filme torna-se uma ótima opção para se conferir em DVD.

Baseado no livro "Shopgirl", de Steve Martin ("12 é Demais"), "A Garota da Vitrine" é um retrato da triste solidão que afeta uma grande parte da nossa sociedade moderna. Este fato pode ser percebido através da história dos três protagonistas, que, embora vivam em uma cidade grande como Los Angeles, sofrem por sentirem dificuldade de encontrar alguém com que possam se relacionar, seja por sua condição social, por ser diferente demais ou para proteger a sua riqueza.

Mirabelle Buttersfield (Claire Danes), uma garota vinda do interior e que trabalha em uma loja de griffe, pensa freqüentemente na possibilidade de alguém um dia poder enxergá-la além da garota atrás do balcão, como se ela fosse uma mera decoração da loja. Esta imagem é mostrada genialmente pelo diretor Anand Tucker, que, através de um plano geral, mostra a insignificância de sua protagonista em meio a grandiosidade e o luxo do local, atrás de seu balcão. Convivendo com tanta indiferença, Mirabelle se rende facilmente a qualquer lampejo de atenção despendido a ela. É dessa forma que ela conhece o estranho Jeremy (Jason Schwartzman), uma figura estranha e desajeitada, que, embora não saiba lidar com as mulheres, parece gostar realmente da garota. A carência de Mirabelle a fez cair também nas mãos de Ray Porter (Steve Martin), um sujeito fino e refinado, que a enche de presentes caros e a trata com delicadeza, mas que a vê somente como um passatempo.

A bela fotografia do filme, em que predominam planos gerais, ressalta a solidão de seus personagens e os conflitos vividos por eles. Como no caso de Mirabelle, que se desilude ao perceber que ela não foi realmente enxergada por Ray, mas, sim, que este a tratou como um mero produto da loja. Fazendo isso, a garota se dá conta de que fez o mesmo com Jeremy, já que o julgou apenas por sua aparência e o descartou frente ao relacionamento de seus sonhos com Ray. É uma história simples, mas que traz uma bela mensagem e possibilidades de reflexão. A sensibilidade que é tratada no filme é devido, em grande parte, ao ótimo desempenho de seus atores. Especialmente Claire Danes ("Romeu e Julieta"), que, com apenas seu olhar consegue transmitir toda a fragilidade de sua personagem. Jason Schwartzman ("A Feiticeira") também se destaca ao criar um personagem carismático e bastante esquisito, sem nunca cair na caricatura.

O longa só peca em alguns detalhes do roteiro, que, embora seja um bom trabalho, falha ao inserir alguns instrumentos, como a narração totalmente dispensável e que estraga de certa forma a subjetividade com que é tratada a história. Escrito pelo próprio Martin, o roteiro, em alguns momentos, faz ainda com que a história se arraste demais, tornando o filme um pouco enfadonho (e este detalhe certamente irá desagradar o grande público). No entanto, a direção de Tucker corrige parcialmente esses defeitos, ajudada também pela bela trilha sonora que embala a obra.

"A Garota da Vitrine", embora termine com um final feliz, consegue o mérito de fugir dos clichês durante toda a sua duração. A falta de idealização deste romance talvez desagrade a grande maioria das pessoas, mas certamente será uma boa pedida para os amantes do bom cinema (principalmente para os que estiverem se sentindo solitários). Steve Martin mais uma vez demonstra que tem talento, e só nos resta o desejo de que ele continue a escrever bons trabalhos como este.

Diego Coelho
@

Compartilhe

Saiba mais sobre