Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 03 de agosto de 2005

Closer – Perto Demais

Um filme que faz você refletir sobre relacionamentos amorosos, e quando você teima em não perceber que o seu verdadeiro amor está perto, perto demais! Vale a pena dar uma conferida!

Relacionamentos. Não é fácil sustentá-los. Melhor dizendo, não é para qualquer um sustentar um relacionamento. E quando há um sentimento forte envolvido, é mais complicado ainda. Porque quando um tal de "amor" é despertado, outros sentimentos são gerados. Ciúmes? Sim! Sentimento de posse? Sim! É inaceitável não concordar que mais cedo ou mais tarde esses sentimentos sejam despertados, ou no começo da relação, ou no meio dela.

O filme "Perto Demais" aborda isso de uma maneira tão sublime, que só vendo mesmo para confirmar. Primeiro porque são mostrados encontros inusitados entre pessoas e, mesmo que algumas delas não estejam esperando por algo, surge um sentimento e ali começam as relações. É aquele velho "amor à primeira vista". Alguns dizem que não existe (mas é provável que esses nunca presenciaram ou sentiram); outros dizem que é passageiro. O certo é que é uma sensação ímpar. Só sabe quem já sentiu!

Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa bem sucedida e recém-divorciada. Após conhecer e seduzir Dan (Jude Law), ela se casa com Larry (Clive Owen), mas mantém um caso secreto com Dan. Além de rejeitar o comportamento mais do que questionável de Anna, Julia Roberts ficou interessada em explorar as qualidades e os defeitos da personagem. Ela mesma disse que teve muita dificuldade em aceitar Anna com tantas falhas de caráter. Jude Law interpreta Dan, um aspirante à romancista que ganha a vida escrevendo obituários. Dan é quem faz o catalisador de grande parte da ação. É um cara que se isolou numa espécie de casulo, um romancista frustrado, até que conhece Alice (Natalie Portman), que se torna sua musa. Através dela, ele desabrocha. O relacionamento faz com que ele saia de dentro da sua casca e encha-o de coragem e autoconfiança para encontrar a mulher que ele pensa que ama, Anna. Infelizmente, esse relacionamento parece condenado desde o primeiro instante e, embora lhe dê alguns dos dias mais felizes da sua vida, ele acaba decidindo não se jogar de cabeça nele.

Alice chega à Londres sozinha, e, por isso, inventa todo um mundo para si: ela se torna uma nova criação. Mas ainda tem um lado infantil: é muito honesta e direta com os seus sentimentos, que é o que a distingue dos demais personagens. Por isso, embora ela minta sobre sua verdadeira identidade, ela possui o papel mais direto e honesto do filme. Além de encarar uma personagem adulta e complexa, Portman também precisou ter aulas de dança erótica com uma haste (ela dá um show), já que, no filme, ela trabalha num elegante clube londrino de strip-tease. Clive Owen, que interpreta Larry, o dermatologista atraente e confiante, interpretou Dan na montagem teatral original de "Perto Demais", em Londres. Larry sofre uma decepção amorosa e decide que nunca mais será magoado. Para se defender, ele acaba magoando outras pessoas.

Esses são os quatro personagens do filme. Parece pouco, mas estas quatro pessoas se apaixonam e desapaixonam, e é deslumbrante como isso pode ser brutal e difícil. Você fica com a idéia matutando na cabeça: "Putz, eu já fiz isso. Por que será?". A natureza humana é realmente impressionante. Há um instinto de aprendizado que faz com que não cometas o mesmo erro, mas, por outro lado, quando você rejeita alguém, quem foi rejeitado fica coberto por um tal de "orgulho" e se você decidir voltar para esta pessoa, ela é quem não quer mais. Impressionante como isso acontece. Quem já teve vários relacionamentos pode perceber isso.

Vale ressaltar a interpretação de dois grandes nomes: Clive Owen e Natalie Portman. Clive realmente está fantástico no papel do médico. De início, você vai achá-lo um pervertido e um pé no saco, mas, depois, irá descobrir que seu personagem é muito semelhante a vários outros feitos por ele. O sentimento aflorado do personagem de Owen é realmente fantástico. Já Natalie Portman dá um show de interpretação, mesmo que ela não tenha grandes papéis em sua carreira. Fazia tempo que eu não via uma interpretação tão bela da ocasião quando a pessoa leva um chute na bunda. Toda e qualquer premiação que venha a esses dois, será merecida.

Não é por nada que esse filme é dos mais premiados de 2004/2005. Não é fácil fazer um filme sobre relacionamentos sem cair no clichê ou mesmice. Ele ainda consegue proporcionar diálogos poderosos e faz com que você não saiba para quem torcer entre os quatro personagens do filme. Dizer que o diretor Mike Nichols ("A Primeira Noite de um Homem") é gênio, é um exagero. Mas ele conseguiu manter uma essência dificilmente vista em filmes. O longa prende você em todos os instantes, seja por belas atuações ou por diálogos fortes.

E a trilha sonora? É difícil alguém do “público pipoca” reparar na trilha do filme. "Perto Demais" possui uma ótima trilha, mas, no final das contas, você vai lembrar uma única e especial música: The Blower's Daughter por Damien Rice. Ela é executada no início e final do filme. Mostra dois lados completamente diferentes, mas com um sentido fantástico. Ela consegue expressar aquele sentimento que está sendo mostrado no filme, mesmo que um seja no início e o outro no fim. E você vai dizer: "Que linda música! E faz sentido ela ser tocada somente nesses momentos".

Não quero prolongar muito esta matéria, mas fica o convite e a recomendação para você assistir ao filme. Vale a pena, principalmente para quem está se relacionando atualmente. Você irá perceber que são nas pequenas coisas que se mantém um relacionamento. Ele mostra também que deves valorizar, acima de tudo, a pessoa que está ao seu lado. Apesar do filme mostrar um show de traições, faz parte da temática que você aprenda o que não se deve fazer num relacionamento. Quem não tem um amor ou alguém ao seu lado para amar, cuidado: você pode esbarrar com algum (a) estranho (a) e ali surgir um grande amor. Não é conto de fadas, pois isso acontece e, mesmo que muitos queiram dizer que o cinema não passa de ficção, você vai perceber que ele vai bem além disso.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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