Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 04 de abril de 2006

Elefante

Lento e angustiante, os oitenta e um minutos de Elefante retrata nos olhos do cineasta Gus Van Sant os momentos que antecederam o massacre acontecido em 20 de abril de 1999 na Columbine High School, em Littleton, no Colorado, onde dois estudantes de 17 e 18 anos mataram 13 pessoas e depois se suicidaram.

Elefante começa apresentando alguns jovens aparentemente normais que estudam em uma mesma escola nos Estados Unidos e que tem em comum um destino fatídico para alguns e traumático para outros. Os estudantes são acompanhados em suas tarefas diárias na escola, mostrando seus interesses pessoais. Enquanto esses alunos realizam suas atividades normais, dois jovens estão em casa esperando uma metralhadora semi-automática chegar pelo correio para ser unida ao resto do seu armamento e colocar seu plano em prática: acabar com a vida dos seus colegas de escola.

O filme é composto por tomadas longas, causando cansaço algumas vezes, ainda mais regadas com o silêncio dos personagens e do ambiente frio que a escola passa para o telespectador. Talvez esta tenha sido a intenção do diretor, que não mostra um roteiro que mereça tanto destaque, já que o longa chama atenção em outros aspectos, como o fato de fazer com que os personagens cruzem no decorrer do longa e tendo suas vidas interligadas mesmo sem saber. Em uma belíssima performance, Van Sant encaminhou bem o filme e sugou dos atores uma ótima performance nas cenas, cada um com sua função social bem interpretada e mostraram que não é por não serem conhecidos que eles não saibam atuar.

Nos vinte minutos finais, o filme chega ao clímax e causa mais angústia do que já estava causando, mostrando o massacre causado friamente e profissionalmente pelos dois jovens. A densidade das cenas de ação quando eles usam com precisão aquelas armas mostrando uma habilidade surpreendente, passam um mal estar àqueles mais sensíveis, já que a violência contra as vítimas não tinha uma justificativa tão grande quanto a idéia de entrar na escola e matar seus colegas. Qualquer motivo que aqueles jovens tivessem provavelmente poderia ter sido resolvido de outra forma. E o filme termina e não justifica. Essa é a característica mais importante de toda a trama: a imparcialidade. O massacre ocorre e o filme acaba. O diretor não põe sua subjetividade para tentar explicar o que já havia passado nos minutos anteriores, levando o filme ao nível de reconstituição do crime, aquela coisa bem policial que só serviu para registrar e não para justificar. Particularmente, achei conveniente o diretor rodar o longa com essa imparcialidade, mas ao mesmo tempo me dá a sensação de que o filme poderia ter tido um roteiro muito melhor aproveitado, mais rico e fundamentado. Mas se isso acontecesse, o impacto já não seria o mesmo.

Preocupado em transmitir o máximo de realismo, maior parte do elenco passou seu nome verdadeiro para o seu personagem. Além disso, aborda várias temáticas importantes na atualidade, como o aumento de jogos de violência, o preconceito que os jovens sofrem na escola por não se adequarem a um perfil já determinado na visão dos colegas, a bulimia, ao psicológico afetado pela ausência de uma orientação familiar e principalmente ao mercado de armas e o seu fácil acesso a qualquer um. O massacre em Columbine gerou uma série de debates no mundo todo e fez com que a segurança nas escolas americanas aumentassem.

Um filme basicamente tenso e denso, Elefante leva o expectador a tirar suas próprias conclusões diante aos atos dos estudantes e dá uma abertura a muitas interpretações. Pode aparentar redundante ou ser cansativo, mas cumpre com maestria a proposta a qual foi exposta. Para quem se interessar pelo trágico acontecimento na escola de Columbine que chocou o mundo, outra opção de filme é o documentário Tiros em Columbine, de Michael Moore que aborda com mais humanismo e mais revolta a questão do mercado de armas. Enfim, oito estrelinhas são suficientes.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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