Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 04 de abril de 2006

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001): agradável, lindo e mágico

A mistura de fantasia e realidade fazem do roteiro do filme um dos mais marcantes e originais do gênero e cativa a quem o assiste.

A vida de Amélie é mostrada desde a fecundação do óvulo na barriga da sua mãe o que mostra que uma garota com um destaque tão grande não poderia ser qualquer acaso da natureza humana. Durante os primeiros minutos de filme somos apresentados a alguns personagens e temos momentos bastante divertidos de Amélie quando era criança; tudo isso para depois mostrar a vida sonhadora, porém solitária, da garota.

Depois de mostrar uma seqüência de acontecimentos na vida da protagonista, ela encontra uma caixa com objetos pessoais que pertenceram a uma criança que morou no lugar há quase quarenta anos e que estava escondida no seu apartamento. Como a moça não tinha muitas aventuras na vida, ela resolve procurar o dono dos objetos. Após muita procura, Amélie dá um jeito de devolver a caixinha sem se identificar, e se sente gratificada por ter feito uma pessoa feliz. Ela decidi, então, causar mudanças na vida das pessoas com quem convive, sempre regada de muita imaginação e de armações mirabolantes à favor dos seus amigos.

Os personagens paralelos a Poulain cumprem brilhantemente suas funções. Só fiquei incomodado duas vezes: um determinado personagem que é maltratado pelo patrão é cativante até o momento em que fica calado, pois quando começa a dialogar não convence. A outra coisa foi o fato da protagonista só vir me conquistar depois de algumas façanhas enfrentadas por ela, mas não tem como sair do filme odiando o personagem de Audrey Tautou.

A originalidade do roteiro é o maior mérito do longa. Uma história simples, mas desenvolvida de uma forma tão cativante que em algum momento o expectador acaba se identificando com Amélie. Quem tem uma visão mais apurada, pode perceber várias mensagens através do enredo, como a preocupação com que Amélie trata da vida dos outros, mas acaba esquecendo da própria vida, não provocando mudanças nela; e também o fato de mostrar que a fantasia pode muito bem ser posta em prática na vida real, bastando apenas termos a iniciativa em fazê-la. É impressionante como a mistura de realidade e imaginação se encaixa perfeitamente, não trazendo ao filme um mal estar ou a sensação de que aquilo tudo foi feito por computador para que o público simplesmente aceitasse. Particularmente eu me senti uma criança de novo vendo que Amélie agia muitas vezes como eu agi ou como eu gostaria de ter agido em determinadas fases da minha vida. As sacadas que a personagem usa para desenrolar sua paixão platônica é inesquecível, beirando a um conto de fadas da modernidade.

A fábula é sem dúvidas uma das melhores histórias já contadas no cinema. Com uma fotografia maravilhosa, um roteiro e direção impecáveis, ao meu ver só erra ao mostrar uma determinada cena totalmente dispensável à seqüência ou que poderia ser exposta de uma maneira que não viesse a poluir o ritmo que estava tendo. Me refiro à parte em que Amélie e sua super imaginação se questiona quantos casais estariam tendo relações íntimas naquele instante, e passa alguns casais no auge da loucura sexual. Minha crítica maior a esse momento da trama é que sendo um filme tão rico em imaginação, o mesmo poderia ser exibido a crianças sem restrições, mas a partir do momento que transmite flashes de casais no ápice de uma relação sexual, o máximo que eu poderia fazer era contar a história de Amélie para as minhas filhas, netas e sobrinhas, já que o constrangimento em ver uma cena desnecessária ao desenrolar do filme me tomou por completo.

Não tem como assistir Amélie Poulain e não guardar para sempre na memória uma cena ou uma das historinhas que ela vive. Seja a relação dela com o pai, ou as artimanhas para fazer com que as pessoas mudassem a rotina e fossem mais felizes. Cada pessoa tem uma Amélie dentro de si e talvez por isso que muitos endeusam a produção. Não desmereço tal reverência, mesmo porque é uma história cativante e mágica, mas somente quem assiste pode dizer o porque de endeusar tanto, já que o filme pode mexer de tantas formas diferentes com o público. Enfim, agradável, lindo e mágico, sem cair no surreal, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” é uma produção que se junta na prateleira das boas opções de filmes.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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