Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 01 de abril de 2006

Férias da Minha Vida, As

Para as pessoas que aceitam alguns pormenores por trás da trama de uma projeção, por incrível que possa parecer, “As Férias da Minha Vida” é um filme um tanto quanto chamativo.

Não, o humor não vem como protagonista no filme. O que vem é um singelo recado de como a vida deve ser vivida. Tudo isso porque Georgia Byrd (Queen Latifah, de A Casa Caiu) recebe a notícia não muito animadora que seus dias estão por um fio, mediante um diagnostico incorreto de seu médico. Então, como o que lhe resta é viver bem os últimos dias de vida, ela resolver colocar em prática os seus sonhos de vida e se despeja na alegria que eles proporcionam. Ela vai para um resort de luxo, onde faz o cotidiano comum, virar o cotidiano mais louco que sua vida já teve (o dela e o de algumas pessoas que a cercam).

Tudo previsível. Desde o começo até o fim, quem é mais acostumado a assistir filmes e já viu bastante filme com esse tema, sabe o que vem na próxima cena e o que um diálogo próximo guarda. Por estranho que possa parecer, em alguns momentos parece que ele vai perder a previsibilidade, quando a personagem Georgia faz alguns questionamentos, mas logo depois desses diálogos dela, tudo volta ao normal. Não se pode pedir demais de um filme com essas premissas, mas pedir o total de menos também é falho. Com certeza, a trama se sobressai com relação a outros filmes com o mesmo propósito, mas uma errata do diretor e de quem escolheu tal elenco, acabam tornando o filme bobo. Entretanto, esse bobo não soa, ao contrário de muitos filmes bobos, como desagradável. É até agradável, mas se você assisti-lo cautelosamente.

Há quem goste da atriz Queen Latifah e para essas pessoas o filme tem um abono a mais. Ela encarna a personagem Georgia Byrd com todos os elementos que ela costuma mostrar em suas atuações. Nisso, nada de novo. Porém, como todo fã acha algo para admirar em seu escolhido ídolo, os fãs de Georgia vão gostar mais uma vez da atuação da moça. Para deixar bem claro: eu não sou fã e eu não gostei nada de ver todos os maneirismos da moça de volta em outro filme, muito menos como protagonista, só estou acariciando o trabalho dela e informando que, quem gosta dela, vai encontrar a mesma coisa de sempre em sua atuação.

Além da previsibilidade o filme tem outras falhas. Dessa vez, bem técnicas mesmo. Nada que recaia no elenco, muito menos no roteiro. A maioria dessa falha é culpa do Sr. Wayne Wang, o diretor. Tendo trabalhado em filmes como “Meu Melhor Amigo” e “O Último Entardecer” não poderíamos esperar nada dessa pessoa. E fui convicto que nada demais eu veria, mas vi e vi muito bem escrachadamente. Vamos errar? Vamos. Mas vamos errar em coisas que um iniciante na profissão erraria? Não, isso não. Em alguns momentos o posicionamento da câmera simplesmente estraga o que poderia ser uma boa cena. Digo mais, estraga a cena que poderia ser a mais hilária e que tem nela o bastante conhecido Gérard Depardieu fazendo macaquices não muito a seu estilo. Ou Wayne fez filmou o filme preocupado com outra coisa ou ninguém a sua volta deve coragem de dizer que se ele afastasse a câmera um pouquinho para o lado, deixando-a frontal para com o ator, traria à tona o que a cena realmente deveria oferecer.

O ponto forte do filme é o roteiro (palmas para Peter Seaman e Jeffrey Price) e o encaminhamento dessa trama (nisso sim, um ponto a mais para o “iniciante” Wayne). Não é “O Roteiro”, mas apresenta uns elementos que chegam a tirar o desenrolar um pouco (só um pouco) da previsibilidade e abre alguns diálogos sobre como se deve viver a vida. Esse diálogo, diferentemente de outras produções, não é aberto da forma trivial, mas a partir de outros elementos (que vocês vão observar facilmente ao assistir o filme) que, somente no final, voltam ao usual e assim poderemos citar Zeca Pagodinho e dizer que “deixa a vida me levar, vida leva eu!” – por favor, não me condenem pela citação bastante pobre.

“Férias de Minha Vida” é na verdade um apanhado de tudo o que já pensávamos antes mesmo de entrar na sala de projeção e começar a ver o filme, porém tem algumas adocicadas na trama que salvam de certa maneira o filme. Não que venha a ser um filme apreciado por todos, mas se você se atrai por poucas coisas, algumas cenas engraçadas, tudo bem, vale a pena conferi-lo. Caso contrário, o filme é somente mais um para você ou, no mínimo, um filme esforçado.

Raphael PH Santos
@phsantos

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