Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 11 de abril de 2006

Filhas de Marvin, As

Existem alguns filmes que não são exatamente grandiosos, mas impressionam seja pela qualidade do roteiro, do elenco ou da direção. “As filhas de Marvin” se encaixa nessa categoria e faz notável uma trama que poderia ser só mais uma história de dramas familiares.

Bessie (Diane Keaton) é uma mulher de meia idade que deixou de lado sua vida pessoal para cuidar do pai (Marvin) doente e da tia senil. Sua irmã Lee (Meryl Streep) fez o exato oposto: se casou, foi embora de casa e agora vive criando os filhos sozinha e lidando com a personalidade problemática do mais velho. O destino então reúne as duas irmãs quando Bessie descobre que tem leucemia e precisa urgentemente do transplante da medula de um familiar compatível para salvar sua vida. Lee juntamente com seus filhos se tornam sua única chance de sobreviver.

As filhas de Marvin, então, precisam revisitar suas velhas mágoas e aprender a perdoar uma à outra pelos atos do passado. Com as suas personalidade praticamente opostas, têm que passar por uma reintegração familiar e são obrigadas a encarar o que suas escolhas de vida acarretaram, seus ônus e bônus.

A doença de Bessie, que a princípio é o elemento trágico que une a família despedaçada, se torna, em determinado momento, apenas o pano de fundo da catarse que as protagonistas sofrem durante o desenrolar do filme e o personagem de Leonardo DiCaprio, o filho rebelde de Lee, torna-se um elo entre as duas irmãs, já que encontra na tia alguém que o compreende enquanto vive com a mãe uma relação cheia de atritos.

O diferencial desse filme, no entanto, está justamente na escolha impecável do elenco. A veterana Diane Keaton empresta a sua personagem, Bessie, um ar de fragilidade e fortaleza ao mesmo tempo e compõe magistralmente essa mulher que teve a força de abdicar de sua própria vida para se dedicar à família e parece desmoronar aos poucos quando descobre que essa mesma vida, ainda que cheia de abnegação, pode acabar de uma hora pra outra.

Meryl Streep prova, mais uma vez, que é digna de todos os elogio que constantemente recebe tanto da crítica quanto dos próprios colegas. A atriz consegue passar todas as contradições internas da personagem ao ser obrigada a encarar a realidade de ter sido negligente com seu pai (mesmo que se esconda por trás do pretexto de ter ido constituir sua própria família) e ter que tomar as rédeas da situação pela primeira vez.

E até Leonardo DiCaprio que, de vez em quando, tem performances duvidosas, está bem como o filho rebelde de Lee. O ator também soube medir a interpretação e alternar os momentos de ternura e agressividade do personagem. É dele e de Diane Keaton, inclusive, uma das melhores e mais emocionantes cenas do filme, o passeio de carro na praia, onde os dois se permitem, ainda que por aquele breve momento, esquecer que suas vidas estão um caos.

Robert De Niro completa o elenco estrelar do filme, e deixa sua marca ainda que num papel pequeno, um participação especial interpretando o médico que cuida de Bessie. Ele também assina a produção através da Tribeca Filmes (produtora da qual é dono).

Se alguém julgar o roteiro um tanto quanto melodramático, coisa que poderá acontecer aos que não são fãs do gênero, pode certamente assistir ao filme pelas atuações, porém os que souberem apreciar todos os aspectos da produção encontrarão em “As filhas de Marvin” um bom filme, simples, mas com toques verdadeiros de grandiosidade. Uma reflexão válida sobre o valor dos laços de família.

Amanda Pontes
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