Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Pooh e o Efalante

Um filme feito para aqueles que terão seu primeiro contato com o maravilhoso mundo do cinema. Fora desse eixo, nossos jovens ficarão com um pé atrás pelo ritmo lento, falta de grandiosidade e inovação. É um filme simples para preceitos e sentimentos complexos da vida, que dará uma boa brecha para os pais ensinarem suas primeiras lições por tabela aos filhos.

Chegando em uma época totalmente desprovida de concorrência, Pooh e o Efalante é um filme que aposta no básico para tentar atrair o público infantil aos cinemas. Depois do lixo que foi Tigrão – O Filme, era de se esperar algo no mesmo nível. Felizmente, a nova aventura do ursinho viciado em mel é bem melhor do que a de seu irmão laranja de listas pretas, mesmo que ele não seja peça chave da repetida história e que seus realizadores não tenham se dado ao trabalho de fazer algo que vá além dos adjetivos fofinho e engraçado.

Conta como Pooh e sua atrapalhada turminha partiram em busca dos terríveis Efalantes da floresta ao lado de onde vivem, com medo do que esses ‘terríveis’ animais poderiam fazer às suas casas, caso invadissem o local. Só que o pequenino Guru é deixado de lado por ser considerado jovem e frágil demais para a busca, visto que o grupo tem em mente o poder de destruição dos ‘monstros’ em questão. Acreditando em seu potencial, Guru parte sozinho na aventura e acaba por encontrar um pequeno e divertido Efalante chamado Bolota, com quem desenvolve uma bela amizade, ao contrário do que esperava no início.

É uma história como tantas outras sobre preconceitos, lendas urbanas e diferenças entre as pessoas, temas claramente metaforizados em animais com medo uns dos outros. Ensina que as crianças não devem dar valor apenas a aparência, e sim que por baixo de um diferente visual pode haver uma pessoa tão maravilhosa quanto as que convivem diariamente conosco. Ingenuamente ou não, abre um leque de opções para os pais saírem dos cinemas debatendo as idéias com os filhos, como por exemplo os males que a desobediência pode causar. Um filme claramente direcionado a aqueles que podem estar, provavelmente, tendo o seu primeiro contato com o maravilhoso mundo cinematográfico.

Pooh e o Efalante não é para esses precoces jovens de mentes modernas demais que costumam lotar as salas nos finais de semana em filmes do gênero. Não tem o humor de uma Pixar, por exemplo. Suas piadas podem soar lesadas demais para essas crianças, uma vez que elas se baseiam nas idiotices que os personagens cometem através de suas limitadas inteligências. Pode até mesmo agradar pessoas mais crescidas, que cresceram com o tipo de humor como Chaves e Chapolin. Acreditem ou não, a aparência do local onde tudo ocorre e o argumento são estranhamente parecidos com os do filme A Vila, de M. Night Shyamalan. Lógico que não é um filme sobre suspense e nem discute afundo o tema do medo gerado pelos governantes para manter um controle, porém é, no mínimo, curiosa a semelhança entre os dois trabalhos.

Só que, apesar de ser o mais puro feijão com arroz, o filme agrada por ter alguns pontos elementares tão bem realizados que você acaba embarcando na aventura, mesmo sabendo o destino que tudo irá tomar e sem ter absolutamente nada de novo. Não é apenas na originalidade que o filme falha, pois com certeza só não fará mais sucesso por não ser empolgante, por ser perigosamente raso e nem um pouquinho grandioso. Falta dimensão a tudo o que acontece, falta grandiosidade. Às vezes pretensão demais atrapalha, mas quando a deixam de lado, faz falta.

O humor bem balanceado e constante, somado à bela composição visual, a história que não atrapalha e a curta duração do longa fazem com que ele seja uma ótima pedida para uma hora livre que você tenha com os filhos. É uma diversão simples, direta e funcional. Tenta resgatar um pouco os musicais que deram tanto sucesso à Disney nos anos 90, mas o resultado é um desastre, pois as canções, além de terem letras ruins, são péssimas em sua execução. Não há clímax, não há ação, não há surpresas. É um filme que apenas consegue a proeza de ser divertido, e não a insuportável experiência que achava que iria ser.

Em um trabalho onde o personagem que dá título ao filme não passa de um mero coadjuvante para o jovem Guru, tudo só não cai no ridículo pelas inúmeras piadas funcionais que elevam o carisma dos personagens ao máximo, cativando realmente nossa empatia por eles. No final de contas, revela-se um filme simples sobre sentimentos complexos, que, mesmo com seus vários erros e falta de inovação, tem sua importância nesse novo passo na vida de muitas crianças. Em um mundo absolutamente contemporâneo, uma pitada da boa e velha inocência nunca é demais.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre