Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

Segredo de Brokeback Mountain, O

Arriscando numa tema polêmico e numa história fácil de cair no clichê, "Brokeback Mountain"conseguiu se sair bem. Com interpretações bem convincentes e trilha sonora particular, o filme passou por cima do tabu do homossexualismo e trouxe uma nova abordagem do tema.

Cotado na lista dos melhores filmes para o Oscar, o filme do diretor Ang Lee começou bem: dois prêmios da BFCA, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante para Michelle Williams (Dawson´s Creek), que faz a esposa de Ennis Del Mar (Heath Ledger), e várias outras indicações. A história é baseado no conto de Annie Proulx, "O Segredo de Brokeback Mountain" conta a história do relacionamento entre dois cowboys que se conhecem ao acaso e sofrem o encanto do segredo de Brokeback Mountain. Ambos seguem a vida normal, mas a ligação entre os dois continua, dando pano para o desenrolar desse filme audacioso.

Este é um filme muito fácil de ser estereotipado. Os mais infelizes deverão usar do preconceito para criticar ou imaginar "drag queens" montando cavalos e guiando ovelhas. Não preciso nem dizer que Brokeback não tem absolutamente nada disso. Pelo contrário, é um filme denso!

Digo que o tema é polêmico por que trata do homossexualismo. E do homossexualismo entre os tão "machos" cowboys, um grupo extremamente inoportuno. Mas se você parar para pensar, poderiamos arriscar e comparar com os valentões que estão em presidiários. Não é o homossexualismo por ser, por querer ser. É algo que acontece, por motivos quaisquer, e que marca a vida daqueles dois.

Digo que é um tema fácil de entrar no clichê por que, por saber que se trata de um casal gay, logo se imagina que vem muita censura e sofrimento para os dois. E é verdade, isso acontece no filme. Mas o diretor tratou tudo de uma forma muito especial, não necessariamente fugindo da mesmice, mas dando um tom diferente à coisa.

Enquanto assistia, pensei: esse não é um filme de diálogos, é um filme de reações e atitudes. O forte das interpretações não são as conversar, por mais que tenham tiras muito interessantes. O melhor da linguagem usada ali é a expressão dos personagens. Você percebe toda emoção por simples gestos.

O cavaleiro loiro de outrora, o apaixonado que cantava músicas românticas na arquibancada, enfim, Heath Ledger, caiu muito bem no papel. O sotaque está magnífico. Toda confusão, toda briga interna que seu personagem sofre é facilmente percebida na telona. E o seu parceiro Jake Gyllenhaal (O Dia Depois de Amanhã) que interpreta Jack Twist também não deixa por merecer. A paixão, a inconformação, a dedicação… Tudo à flor da pele.

E melhor ainda, as cenas de relacionamento entre os dois não são "almodovarianas". Não que eu esteja desmerecendo esse grande diretor! Mas é sabido que seus filmes sempre tendem ao realismo exacerbado e intenso, como "Má Educação". Brokeback não tem nada disso. É realmente o drama e o romance do caso de amor desses dois. Sem sensacionalismo, apenas a realidade. Nem a censura de outros foi posta em evidência. Tudo gira mesmo em torno das dificuldades vividas pelos cowboys.

A trilha sonora é muito discreta e muito presente. A impressão que tive é que é a mesma música, o mesmo trecho, sempre, nos intervalos. Alguns cortes ficam meio estranhos, mas nada que atrapalhe o entender do filme.

Resumindo, para mim é um filme que vale muito a pena assistir. Sem pré-conceitos. Usem da modernidade, por favor. Corajoso por tratar de um tabu de forma tão magnífica e verdadeira, "O Segredo de Brokeback Mountain" me deixou orgulhosa. Pode até estar sendo supervalorizado, mas mesmo assim, não perde seu mérito.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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