Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 31 de março de 2006

Uma Comédia Nada Romântica

Apelando em excesso às mais do que batidas piadas do estilo, “Uma Comédia Nada Romântica” não consegue agradar sequer os mais ávidos fãs da comédia besteirol. Um filme desprezível, que apenas engorda o número de besteiras que vêm sendo produzidas.

Já se foi o tempo em que as comédias pastelão cuja base era a sátira de outros filmes era algo de qualidade. Sim, qualidade. Eu sou uma pessoa que de modo algum podem dizer que sou preconceituoso com o estilo, pois sou fã incondicional daquele humor tolo e despretensioso de filmes como “Top Gang 1 e 2” e “Duro de Espiar”, que tanto marcou minha infância. O estilo pareceu extinto, até que os irmãos Wayans ressuscitaram a fórmula satirizando os filmes de terror com “Todo Mundo em Pânico”. O resultado foi satisfatório, e agora, querem fazer de tudo para o estilo voltar à ativa, mas, se as tentativas continuarem sendo outros desse “Uma Comédia Nada Romântica”, podem ter certeza que o estilo irá afundar novamente, pois uma única franquia – no caso, Todo Mundo em Pânico – não consegue segurar um gênero nas costas.

A história? Bem, só pra não dizer que não existe, vamos lá: Julia Jones (Alyson Hannigan) é uma jovem romântica que enfim conheceu o homem dos seus sonhos, o britânico Grant Funckyerdoder (Adam Campbell). Eles estão planejando se casar, mas precisam enfrentar Andy (Sophie Monk), uma bela mulher que deseja conquistar o coração de Grant. Daí então, vocês já sabem. Podem esperar diversas sátiras a diversos filmes, apelando pra aquele tipo de piada grosseira e tola que todos já estão cansados de ver.

A idéia é satirizar os famosos filmes de comédia romântica, e estão lá “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “O Diário de Bridget Jones”, “Casamento Grego”, “O Amor é Cego”, “O Casamento dos Meus Sonhos”, até “Entrando Numa Fria” e sua continuação, “Quero Ficar com Polly” e “Hitch – Conselheiro Amoroso”. Acontece que sequer um foco o filme encontra, e além de parodiar esse estilo, estão lá diversas outras sátiras a filmes que nada tem a ver com o que se propõe, como “Kill Bill”, “O Senhor dos Anéis”, “Star Wars”, “Sr. e Sra. Smith”, “Com a Bola Toda”, “King Kong” e uma série de outros que se duvidar, você até assiste o filme 10 vezes e não identifica.

Acho que nem preciso dizer que o roteiro – que por sinal, é escrito por dois dos 6 roteiristas de “Todo Mundo em Pânico – é medíocre e a história praticamente não existe. Os acontecimentos não possuem nexo algum, e tudo não passa de desculpa para as piadas extremamente forçadas. Tenho que salientar que isso é comum em filmes do estilo, e muitas vezes o resultado nem é ruim devido a qualidade das piadas, afinal, elas compõem toda a essência do filme. Porém, neste filme, nem isso escapa. As piadas vistas são pra lá de batidas, usando e abusando daquelas gags grosseiras, de baixo nível, e aquele velho negócio de os personagens saírem se batendo acidentalmente pelos cantos. Ai que saudades de Chaves e Chapolin! Ah, vale lembrar que o filme também não poupou a piada mostrando Michael Jackson tentando molestar uma criança. Por acaso isso já não foi mostrado um dia desses em “Todo Mundo em Pânico 3”?

No final das contas, o mais divertido fica sendo mesmo o espectador ficar identificando os filmes que são satirizados durante a projeção. Ainda assim, o filme se preocupa tanto em satirizar um número grande de filmes, que muitos deles são encaixados forçadamente, chegando a perder totalmente a graça. Exemplos: as cenas envolvendo “O Senhor dos Anéis”, “Star Wars”, “Sr. e Sra. Smith”, são tão forçadas, que você ao invés de rir fica é com raiva.

Por incrível que pareça, ainda é possível rir com algumas gags, por mais batidas que sejam. E é exatamente aquele humor sujo, rasteiro quem ainda arranca do espectador um certo divertimento. Mas espere de tudo, menos inteligência. O que acontece em cena é aquele velho negócio: você rir das situações de tão idiotas que elas são. Ver a mocinha do filme espremendo uma espinha gigante; o pai dela engolindo um engodo de pêlos do peito de um homem após uma dividida em um jogo de basquete (satirizando “Quem Vai Ficar Com Polly”), chegam a ser momentos de êxtase para os fãs desse humor sujo. Algumas sátiras também funcionam – como a de Kill Bill – e a presença do carismático anão Tony Cox (aquele mesmo de “Eu, Eu Mesmo e Irene, e do clipe de “Break Out”, do Foo Fighters), como uma versão rapper de “Hitch”, garante um pouco de graça ao longa, diminuindo um pouco seu imenso fiasco. Infelizmente, nem dos poucos méritos o filme soube se aproveitar, e as melhores cenas são reprisadas em um demorado flashback no final, tornando tais cenas monótonas. Você pode até rir de algumas piadas uma vez, mas duas, já é pedir demais.

Não preciso nem dizer que as interpretações são todas horríveis, visto que nesse tipo de filme, os atores são obrigados a exagerar nos trejeitos e forçar suas expressões para parodiar os personagens dos outros filmes. Além do já citado anão Tony Cox, quem chega a divertir é Eddie Griffin (o chefe de Rob Schneider em “Gigolô Por Acidente”), com boas piadas (acho que não tão ruins seria a expressão mais adequada) a seu cargo. A protagonista Alyson Hannigan (a ruivinha de “American Pie”) não passa de um rostinho bonitinho, pois humor não é seu forte. O mesmo pode-se dizer do mocinho Adam Campbell, esse, sem um pingo de carisma.

Enfim, deu para perceber que “Uma Comédia Nada Romântica” não passa de um festival de besteiras (salvo um momento ou outro), reunidos em 83 minutos. Apenas mais um besteirol americano que chega com o intuito de arrecadar milhões, e no final, quem acaba rindo são os produtores por iludir tanta gente ingênua que se engana com fórmulas batidas. Pode até servir como opção para uma tarde vazia, para quem está interessado em ver algo que não exiga nenhum esforço do cérebro e arranque (forçadamente) algumas risadas. Mas se é para gastar dinheiro, sugiro que passe em uma locadora e alugue “clássicos”, como “Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu”, “Corra Que a Polícia Vem Aí”, “Os Deuses Devem Estar Loucos”, “Um Morto Muito Louco”. Esses sim eu posso chamar de humor pastelão de qualidade!

Thiago Sampaio
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