Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 03 de setembro de 2023

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (2023): excelente entretenimento adolescente

Com um visual certeiro, longa aposta na simplicidade para agradar a todos os públicos.

Certos filmes criam tendências no cinema. Estas podem ser momentâneas ou duradouras, envolver aspectos visuais, de roteiro ou até mesmo temáticas inteiras. Uma coisa é certa: após um grande sucesso, sempre vão existir outros longas surfando na mesma onda. E um verdadeiro tsunami se formou no gênero das animações quando “Homem-Aranha no Aranhaverso” foi lançado, se destacando não apenas pela narrativa moderna e despojada, mas principalmente pela estética visual semelhante a uma história em quadrinhos em movimento. “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” bebe bastante dessa fonte, e essa é apenas uma das notáveis qualidades da obra.

É curioso pensar que poucos anos atrás, Disney e Pixar atingiam o que se pensava ser o ápice das animações com títulos como “Os Incríveis 2” e “Frozen 2”. O nível de detalhes era tão assombroso que era possível admirar até mesmo as fibras do tecido da camisa de um personagem. Porém, era no caminho oposto ao do perfeccionismo que se encontrava o frescor necessário para o gênero. Texturas intensas e bem acentuadas, cores vibrantes e contrastantes, movimento fluido, animações 2D e 3D conectadas… O visual marcante de “Aranhaverso” não apenas é incrível mas também se adequa perfeitamente à nova versão de origem das quatro famosas tartarugas.

Além da estética, os diretores Jeff Rowe e Kyler Spears (que trabalharam em “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”) aproveitam outras características de uma atual cultura urbana muito comum entre os jovens americanos: hip hop tocando, muitos espaços grafitados e referências pop sem parar. Essa opção se dá porque a narrativa opta por abraçar a adolescência dos protagonistas, simplificando — às vezes até demais — o roteiro para que a obra seja uma boa porta de entrada para o público mais novo, e ainda satisfaça também os fãs das versões mais clássicas.

Rafael, Michelangelo, Donatello e Leonardo eram apenas tartarugas normais no esgoto quando entraram em contato com a gosma Ooze e sofreram mutações que lhes deram características humanoides. Junto deles estava o rato Splinter, também afetado pela transformação mas que, por ser mais velho, se tornou o mentor dos jovens. Ele os ensinou artes marciais para que soubessem se defender, mas proibiu que houvesse qualquer contato com os humanos. Porém, os protagonistas juvenis são apaixonados pelo mundo exterior, e têm a ideia de tentar conquistar os nova-iorquinos por meio de atos heroicos. Mas eles não esperam que o grande vilão da história esteja intimamente ligado com a origem das tartarugas.

Cada irmão tem sua personalidade bem definida, e a imaturidade e a rebeldia coletiva os tornam personagens tão agradáveis. O roteiro divide bem o tempo de tela para cada um, e o visual completa a missão de tornar as tartarugas únicas, e não apenas quatro bonecos com máscaras de cores diferentes. Os diálogos, assim como todo o ritmo do longa, são rápidos e dinâmicos, com muitas piadas certeiras e aquele humor que a geração das redes sociais ama. Isso torna toda a vivência mundana dos irmãos e a amizade com a estudante April O’Neil (primeira humana a interagir com eles) até mais interessante de se ver do que as sequências de ação — ainda que estas também tenham seus méritos.

Leveza é a palavra-chave para o sucesso do longa. A característica é adotada não apenas na narrativa, mas principalmente nas relações dos protagonistas, de modo que quem não sai do cinema querendo ser amigo dos irmãos, certamente deve se lembrar de alguma amizade parecida. Em resumo, “Caos Mutante” se mostra mais um excelente exemplar do gênero das animações, e de quebra ainda adiciona frescor ao subgênero dos filmes de super-heróis. Trata-se de uma aventura simples e feita para o público jovem, mas que é capaz de agradar a todos que buscam um entretenimento de qualidade nas telonas.

Martinho Neto
@omeninomartinho

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