Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 12 de junho de 2023

Flamin’ Hot (2023): simples e não tão calórico

Filme de Eva Longoria emociona pela simplicidade e pelo foco na comunidade por trás do sucesso de Richard Montañez.

Muitas histórias de sucesso atualmente são contadas com ênfase em grandes nomes e pessoas. Ainda que muitas vezes elas possam até vir de lapsos de genialidade individual, há sempre mais gente por trás de cada grande inovação do que apenas uma pessoa fazendo tudo sozinha. A história que “Flamin’ Hot” tenta contar é justamente essa, e, apesar de simples, o faz com competência.

Ainda que no Brasil a marca Flamin’ Hot Cheetos não seja tão grande, ela foi uma das maiores revoluções na indústria de alimentos nos anos 1990 nos EUA. Em meio a diversos produtos voltados para o mercado de classe média – à época ainda majoritariamente branco – no país, Richard Montañez (Jesse Garcia), filho de mexicanos, pensou em algo voltado para sua própria comunidade. Empurrado por ela, por sua esposa Judy (Annie Gonzalez) e seus filhos, Richard deu um nó no sistema criou um dos produtos que definiram toda uma década.

A história real por trás do surgimento da marca ainda é contestada, e o filme de Eva Longoria usa o livro de memórias do próprio Montañez como base, adaptado pelas mãos de Lewis Colick e Linda Yvette Chávez. Mas, independente da veracidade, “Flamin’ Hot” acerta pela simplicidade e pelo foco nas pessoas que motivaram o empresário, à época apenas um mero zelador em uma fábrica da Frito-Lay na Califórnia, ao sucesso. Tudo é contado e mostrado com simplicidade até excessiva, com Longoria tentando emular uma atmosfera noventista saída da MTV da época, mas esbarrando no clichê da estética usada para retratar histórias latinas nos filmes, cujo filtro virou até meme. Ainda assim, ela soube identificar o valor da história de Richard para além do produto, apesar de imprimir uma simplicidade quase ingênua a ela.

É bem verdade que, sem o carisma de Jesse Garcia e Annie Gonzalez, “Flamin’ Hot” provavelmente teria dificuldades para se sustentar. O Richard Montañez de Garcia é irresistivelmente carismático, um homem amigável que luta para manter viva uma ambição que todos mandam enterrar e, não fosse sua esposa Judy, talvez tivesse enterrado de fato. Apesar do protagonista ser Richard, é Judy que assume o posto de coração do filme, Gonzalez equilibrando graça e drama na construção de sua personagem e a transforma em uma força da natureza.

Extremamente simples, “Flamin’ Hot” não tenta ser mais do que isso, na contramão do que filmes sobre produtos e grandes nomes vêm tentando ultimamente. Em vez de tentar impressionar com lances de genialidade, o trunfo do filme reside justamente em tentar se bancar pela simplicidade e por apostar na insistência e ambição como motores do sucesso. Às vezes não é preciso mais do que isso para revolucionar um mercado, e nem para contar uma boa história.

Julio Bardini
@juliob09

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