Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 05 de maio de 2023

Guardiões da Galáxia Vol. 3 (2023): obrigado por tudo, James Gunn

Em um terceiro capítulo irretocável, James Gunn mostra novamente porque merece o sucesso que tem na indústria, além de evidenciar a falta que fará à Marvel.

Quanto tempo é necessário para deixar sua marca na memória coletiva? No caso dos Guardiões da Galáxia, menos de dez anos. Quando surgiram nos cinemas, boa parte do público sequer os conhecia, e eles eram vistos como heróis de segundo escalão da Marvel. Hoje, são um dos principais carros-chefe da marca, tudo graças ao toque do Midas do diretor James Gunn. “Guardiões da Galáxia Vol.3” é apenas mais uma joia em uma trajetória já coroada.

Nesta nova incursão, os heróis maltrapilhos estão de volta em uma aventura que pouco tem a ver com o MCU em geral, mas carrega um peso para a equipe – e para a marca – como nenhum outro filme desde “Vingadores: Ultimato“. Essa é uma característica impressa por Gunn na franquia “Guardiões” desde o segundo longa, com histórias profundamente pessoais e focadas no próprio time. O que surpreende é como o cineasta é capaz de imprimir essa profundidade de forma igual em todos os personagens, já que o grupo segue em expansão constante. A trama toda pode até girar em torno do boca-suja Rocky, criado digitalmente e dublado por Bradley Cooper, mas mesmo a novata cadela Cosmo (Maria Bakalova) tem seus momentos de glória, tamanho o carinho que Gunn tem por cada membro do bando.

O enredo de “Guardiões da Galáxia Vol.3” é algo que vinha sendo referenciado desde o início da trilogia, quando Rocky afirmou que “não pediu para ser feito” em meio a uma briga com Drax, o Destruidor (Dave Bautista). Agora, essa é a força motriz do filme, já que ele é centro nervoso da equipe. Já se pode imaginar que um guaxinim falante não seja produto da natureza, mas de experimentos particularmente cruéis, mas a escala que isso toma é algo para deixar qualquer espectador com olhos inchados de choro. Por trás de tudo (e novamente sem surpresa para ninguém) está o Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji), facilmente o maior vilão da Marvel desde Thanos (Josh Brolin) – e tranquilamente mais amedrontador que o Kang de Jonathan Majors em qualquer de suas versões.

Apesar de infeliz, o hiato dos Guardiões nos cinemas desde “Ultimato” fez bem tanto à marca, quanto aos fãs. Os heróis nunca perderam seu apelo com o público, mas era notório o cansaço que se estabeleceu após a conclusão da Fase 3 do MCU, principalmente em relação a personagens como o Senhor das Estrelas de Chris Pratt e a Gamora de Zoe Saldana. A participação do time em “Thor: Amor e Trovão” foi prova disso, sendo tão reduzida que mal é lembrada. Talvez o que faltasse era justamente o toque de James Gunn como condutor. Até as músicas, algo tão característico e intimamente ligado à franquia, já não tinham o mesmo apelo sem ele por trás. Agora, tudo está de volta do jeito que queríamos e gostamos. É impossível encontrar alguém que não tenha pelo menos uma boa memória dos Guardiões da Galáxia, e, apesar do fim dessa fase da equipe, é ela que vai ficar nos corações dos espectadores.

Mais que “um novo acerto da Marvel” (já que a expressão tornou-se até meme de tão utilizada), “Guardiões da Galáxia Vol.3” é o triunfo pessoal definitivo de James Gunn nos cinemas, mais até do que assumir a chefia de todo universo compartilhado da rival DC. O cineasta foi do céu ao inferno nos últimos anos e chegou até a ser demitido pela Disney, mas deu uma impressionante volta por cima e segue provando continuamente que merece o amor que conquistou dos fãs. O que fica agora, após sua saída da Casa das Ideias, é a expectativa do que ele fará na marca rival, além da certeza de que será algo tão encantador quanto esta despedida da Marvel.

Julio Bardini
@juliob09

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