Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 02 de fevereiro de 2023

Brooklyn Nine-Nine (2013-2021): auge da comédia contemporânea

Após oito temporadas, "Brooklyn Nine-Nine" chega ao fim e se firma como uma das melhores séries de comédia deste milênio.

A última temporada de “Brooklyn Nine-Nine” começa com Rosa (Stephanie Beatriz) dizendo que vai sair da polícia. É o primeiro golpe no coração do fã: O fim está próximo, e a dor da saudade também. Não se preocupem, ela aparece nos outros episódios. Mas assistir à temporada final de uma série querida é a expectativa de um final agridoce. A tristeza pelo fim somada à alegria de ter acompanhado personagens tão queridos por tantos anos.

Ao longo de oito temporadas, a série criada por Micharl Schur (responsável por sucessos como “The Office”, “Parks and Recreation” e “The Good Place”) apresenta um time de policiais nos divertindo com suas excentricidades enquanto resolvem crimes na cidade de Nova York. A primeira temporada gira em torno da chegada do Capitão Holt (Andre Braugher) e seu plano de criar um time coeso na delegacia. Durante os créditos do series finale, o espectador de longa data enxuga lágrimas que escorrem ao presenciar as tocantes relações que evoluíram até formar uma família (em alguns casos, literalmente).

Entretanto, há muito mais lágrimas nascidas de gargalhadas incessantes e gostosas, de botar as mãos na barriga. São inúmeros episódios de comédia de alto nível, oriunda de personalidades distintas que reagem umas às outras com roteiros precisos. É um elenco formidável, engraçados por si só, mas cativantes em grupo. Jake Peralta (Andy Samberg) é um bom exemplo da qualidade do texto e do ator. Começando com quase uma síndrome de Peter Pan, seu entusiasmo não muda e ele continua com brincadeiras, mas é inegável o quanto o personagem amadurece e compartilha um enorme coração com todos.

A viciada em organização Amy Santiago (Melissa Fumero) poderia ter sido representada como uma personagem chata e controladora, com roteiros que apelam para piadas repetitivas por preguiça, mas todo humor que nasce de suas peculiaridades é influenciado pelos relacionamentos a seu redor, assim como acontece com todos do esquadrão.

A série merece elogios ainda maiores por não ter medo de abordar temas importantes debatidos sobre a força policial estadunidense. O sargento Terry Jeffords (o poço de carisma Terry Crews) enfrenta uma situação onde sofre racismo de outro policial e, a maneira como ele encara tal fato conversando com seu Capitão, também negro, transmite a insegurança e medo sentidos por pessoas pretas, ao mesmo tempo que procura servir de exemplo para o que deve ser feito. Holt, homossexual, enfrenta o preconceito que sempre tenta impedi-lo de avançar na carreira. Até na última temporada, assuntos como abuso de autoridade são tratados. Temas sérios, sem dúvidas, mas a peteca do humor jamais toca o chão.

E o que dizer dos episódios de Halloween? Provavelmente os mais esperados de todas as temporadas, onde o esquadrão entra numa brincadeira de assalto levada a sério de forma comicamente exagerada. Não há um episódio dessa leva que seja sequer mediano.

“Brooklyn Nine-Nine” foi especial. Cômica, progressiva, importante e representativa, gerou humor em personagens que se apoiam, se gostam e se unem. Uma série que rapidamente atingiu seu auge, de onde nunca desceu.

Bruno Passos
@passosnerds

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