Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A Escola do Bem e do Mal (Netflix, 2022): excesso de efeitos visuais prejudica final feliz

Obra de fantasia inspirada no livro de Soman Chainani conta com boa apresentação de universo, mas peca no excesso de CGI e no roteiro que fica só no superficial.

Era uma vez… os contos de fada! Esse tipo de história fantástica conta com conceitos básicos praticamente obrigatórios: um reino encantado, uma princesa, um herói, um vilão e um final feliz. Certas coisas podem mudar, mas uma delas nunca se altera: o bem sempre vence o mal. Inspirado no equilíbrio dessas duas forças, o diretor Paul Feig (“Missão Madrinha de Casamento“) é responsável pelo que pode vir a ser a sonhada franquia de fantasia da Netflix, “A Escola do Bem e do Mal”, obra inspirada no livro homônimo de Soman Chainani.

Há muitos anos, dois irmãos muito poderosos criaram uma escola para manter a harmonia entre o bem e o mal. Um bom tempo depois, os dois brigaram após um deles decidir dominar o reino sozinho, causando uma tragédia que terminou na morte de um dos irmãos. A criação deles segue ativa até hoje, educando jovens e exaltando a importância dos contos de fadas para ensinar as pessoas do mundo externo a tomarem decisões corretas na vida. Nesta escola, os alunos são convocados para um treinamento dividido por duas reitoras: Dovey (Kerry Washington), que leciona boas maneiras para princesas e príncipes, e Lady Lesso (Charlize Theron), que cria grandes vilões.

Enquanto isso, na cidade de Galvadon, duas amigas se unem para aguentar os colegas que tanto odeiam. Sophie (Sophia Anne Caruso) perdeu a mãe bem jovem e cresceu pensando que um dia chegaria o seu “feliz para sempre”. Já Agatha (Sofia Wylie) sofre com os vizinhos que a chamam de bruxa. Tudo muda quando elas são convocadas para a Escola do Bem e do Mal, mas seguem para rumos diferentes: Sophie vai para as ruínas do mal e Agatha, para o castelo do bem. Assim, elas precisam se unir para provar que o diretor cometeu um erro.

Paul Feig faz um bom trabalho no primeiro ato com a apresentação do universo e detalha como se formou a amizade entre as duas meninas. A proposta é bem parecida com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, que também apresenta a vida do protagonista e em seguida mostra como tudo mudou após a chegada a Hogwarts. As tramas também se assemelham na apresentação das aulas com temas peculiares, como treino de embelezamento e experiência em sobrevivência em florestas, por exemplo. Sem contar que existe uma competição interna entre os alunos, mas já são tantas semelhanças que é melhor parar por aqui.

A obra brinca com os contrastes entre as duas escolas, com uma música mais dramática e uma estética gótica com o pessoal do mal e algo mais singelo e vívido com a galera do bem. As características de cada turma passam também pela personalidade das personagens, um toque sutil do roteiro do próprio cineasta em conjunto com David Magee (“As Aventuras de Pi“). O problema é que essa repetição, sempre comparando o bem e o mal, acaba virando um disco arranhado. Se algo de ruim acontece para Sophie, a próxima cena é justamente um problema para Agatha, e vice-versa. Fica evidente que elas estão descontentes com o rumo tomado, não precisava perder tanto tempo de um filme que já é considerado longo, com cerca de 2h30 de duração.

Charlize Theron e Kerry Washington interpretam personagens muito caricatas, o que cria um certo exagero em cada cena. Theron inclusive vive uma quase cópia do Professor Snape, mas combinamos parar de fazer comparações alguns parágrafos acima. As protagonistas Sophia Anne Caruso e Sofia Wylie dão conta do recado, porém sofrem com a grande quantidade de efeitos visuais aplicados praticamente em todas as cenas da obra, sendo obrigadas a interagir frequentemente com objetos invisíveis. Em alguns momentos, os efeitos especiais deixam a desejar — a chegada na escola, por exemplo, conta com um evidente chroma key feito às pressas. É muito CGI e, em muitas vezes, nem era necessário.

“A Escola do Bem e do Mal” é um início razoável para uma franquia que tem potencial, mas que encontra percalços no caminho. A obra passa perto de apresentar um texto mais profundo, citando que nem tudo é preto ou branco, que as pessoas do bem também têm suas nuances negativas, porém esse contexto fica bem superficial. Na iminente sequência, é preciso acertar o rumo para a franquia finalmente conquistar o seu feliz para sempre.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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