Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 15 de junho de 2022

Arremessando Alto (Netflix, 2022): mais uma cesta de três de Adam Sandler

Drama esportivo dirigido por Jeremiah Zagar conta a história de um experiente olheiro e um jogador promissor em uma verdadeira imersão no mundo da NBA.

Adam Sandler e filmes de esportes já fazem parte de uma tradição antiga: “O Rei da Água”, “Golpe Baixo” e “Um Maluco no Golfe” são alguns exemplos mais voltados para a comédia. Depois de uma atuação elogiada pela crítica em “Joias Brutas”, o ator volta para mais um drama em “Arremessando Alto”, novo longa-metragem da Netflix sobre o amor ao basquete. Dirigida por Jeremiah Zagar (“We the Animals”), a obra conta a história de Stanley Sugerman (Sandler), um olheiro que trabalha viajando o mundo em busca de novos talentos para o time em que trabalha na NBA, o Philadelphia 76ers. Com tantas viagens, ele não comparece há quase dez anos nos aniversários da filha e da esposa Teresa (Queen Latifah). Ele tem uma relação bem próxima com o dono do time, Rex Merrick (Robert Duvall), que acaba de promovê-lo para o cargo de auxiliar técnico.

Entretanto, no mesmo dia, Rex falece e seu filho, Vince (Ben Foster), fica com a função de dirigente. Vince e Stan não tem uma boa relação após divergirem sobre a contratação de um jogador alemão. Meses depois, o jovem não vai bem nas quadras e o novo chefe solicita que Stan retome o trabalho de olheiro para contratar a peça que falta para a equipe, podendo assim voltar de forma definitiva para o cargo de técnico.

Mesmo contrariado, ele parte para a Espanha e encontra por acaso Bo Cruz (Juancho Hernangómez) em uma partida na rua. Percebendo um futuro brilhante no jogador, Stan faz uma abordagem e descobre que ele trabalha na área de construção e busca uma oportunidade no basquete, partindo assim para os Estados Unidos em busca de uma vaga no draft, um evento em que os times podem recrutar jovens talentos. Assim, Stan vê em Bo a oportunidade de provar que ambos podem chegar à NBA.

O arco do roteiro de Taylor Materne (em seu primeiro longa-metragem) e Will Fetters (“Nasce Uma Estrela”) não é exatamente uma novidade: um atleta amador que treina com um mentor para uma grande decisão, passando por dificuldades e redenção. Inclusive, o diretor se inspira bastante na jornada de “Rocky: Um Lutador”,  que também se passa na Filadélfia, incluindo elementos técnicos bem parecidos — até com uma cena que espelha e cita a famosa subida da escadaria.

A obra não é feita apenas para quem gosta de basquete, mas quem conhece do esporte aproveitará mais a participação de grandes lendas como Shaquille O’Neal, Charles Barkley, Julius Erving, e até um pessoal da nova geração, como Luka Doncic e Kyle Lowry. As partidas são bem filmadas, com cortes rápidos e câmera na mão, trazendo velocidade para as cenas e imersão para o espectador. Já a trilha sonora, que mistura o clássico com elementos de rap, trabalha em conjunto com a edição, criando um dinamismo que faz as quase duas horas passarem rápido.

Sandler está excepcional em uma das melhores atuações da sua carreira. Mesmo com um papel dramático, ele transita ora pelo introspectivo, ora no bonachão de sempre, com uma barba grisalha e um olhar cansado que mostram toda a experiência de anos nos bastidores ao redor das grandes estrelas do esporte. A construção do personagem é muito bem feita, mostrando aos poucos as cicatrizes físicas e emocionais de Stan enquanto ele reage às decisões de Bo, escolhas que ele mesmo queria ter tomado, mas que o destino não deixou.

Juancho Hernangómez, que é jogador profissional de basquete do Utah Jazz, estreia com o pé direito na atuação, demonstrando talento nas cenas dramáticas fora das quadras. Mesmo com uma personagem com potencial destaque, Queen Latifah tem pouco tempo de tela, deixando uma sensação de que faltou um arco para ela.

Tirando alguns óbvios clichês, como o magnata malvado e o arco previsível, “Arremessando Alto” coloca o espectador em uma completa imersão pelo mundo da NBA. Que seja comum essa reverberação do público e da crítica em troca de uma grande atuação de Adam Sandler. Cada vez mais, ele pega o público desprevenido e acerta uma cesta de três. Como diria o narrador Rômulo Mendonça: “Adam, ladrão, roubou meu coração”.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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