Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de junho de 2022

Upload (Prime Video, 2ª Temporada): atualização concluída com sucesso

Série de comédia e ficção científica de Greg Daniels adota uma abordagem mais enxuta e menos dispersa, dando ênfase aos seus personagens e suas motivações.

Quase dois anos após sua estreia na Amazon Prime Video, o seriado “Upload” retorna para sua segunda temporada. Produzida num cenário de incertezas em meio à pandemia da COVID-19, a sequência originalmente planejada para ter dez episódios sofreu algumas baixas, com somente sete sendo lançados. No entanto, apesar de tais limitações, o showrunner Greg Daniels (co-criador de “The Office” e “Parks and Recreation“) conseguiu contornar a situação, conduzindo a trama de maneira concisa, focada em seu núcleo de personagens extremamente cativantes.

O enredo segue praticamente de forma cronológica os eventos do final da primeira temporada. Nathan (Robbie Amell) agora se encontra em uma encruzilhada quando sua ex-namorada, Ingrid (Allegra Edwards), aparece inesperadamente em Lakeview depois de supostamente fazer o upload em uma tentativa desesperada de reatar seu relacionamento. Enquanto isso, Nora (Andy Allo) se une ao grupo rebelde anti-tecnologia “The Ludds” para investigar a conspiração que levou ao assassinato de Nathan.

O novo ano se diferencia da temporada anterior, que recorreu a certos malabarismos para poder mesclar uma sátira ao capitalismo tardio com o gênero de ficção científica, comédia romântica e ainda suspense investigativo. Desta vez, o enredo consegue conciliar melhor todos esses elementos ao distribuí-los com fluidez por meio de subtramas paralelas que se conectam gradualmente. Também houve tempo de tela suficiente para desenvolver personagens coadjuvantes como Aleesha (Zainab Johnson), que está apenas começando a despontar em sua carreira e ascender socialmente.

No entanto, a principal virtude da série continua sendo a química extraordinária entre o casal de protagonistas interpretado por Robbie Amell e Andy Allo. Mesmo que ambos passem a maior parte do tempo separados resolvendo seus conflitos, são os momentos em que estão juntos que fazem a espera valer a pena, uma vez que, diante de uma distopia em que as empresas de tecnologia controlam vidas mesmo após a morte, só o amor parece restituir a pouca humanidade que resta.

Ainda assim, há algumas pontas soltas bem visíveis na trama, como a inserção do personagem Matteo (Paulo Costanzo), que perde toda a relevância à medida que a narrativa avança. Fora isso, Ingrid, que antes tinha um arco de desenvolvimento surpreendentemente satisfatório para o arquétipo da garota rica e mimada, sendo retratada com múltiplas nuances, agora parece ter sido reduzida a um mero alívio cômico, restrita à mesma piada sobre maternidade, sem função para o andamento da história, apenas soando como um típico filler enfadonho que pode ser ignorado.

Outros aspectos negativos são a falta de pontos de virada marcantes e um maior senso de urgência, tornando a experiência um tanto prosaica em relação ao que vinha sendo apresentado anteriormente. Porém, conforme já mencionado, o cenário restritivo em que a produção foi realizada deve ser considerado como fator crucial para o entendimento de tais deslizes que não invalidam os demais méritos da obra.

Entre acertos e erros, a segunda temporada de “Upload” passa a dar mais ênfase aos arcos individuais dos personagens, incluindo os coadjuvantes, do que em sua trama central. O que, por um lado, gera maior cumplicidade com praticamente todos os núcleos e, por outro, retarda o curso natural da história. Ainda assim, em tempos em que o Metaverso é debatido, a série mantém sua essência ao abordar de forma humorística e satírica uma realidade tão consumista e dependente da tecnologia que nem mesmo após a morte deixamos de consumir e nos consumir por inteiro.

Alan Fernandes
@alanfdes

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