Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de maio de 2022

O Peso do Talento (2022): injete Nicolas Cage na veia e mergulhe na absurda diversão

Longa acerta ao usar as excentricidade de Cage como tempero para a inusitada e adorável amizade que nasce entre ele e o personagem de Pedro Pascal, e acaba por ser uma grande homenagem ao ator.

Nicolas Cage se tornou uma entidade quase folclórica de Hollywood. De longas independentes a blockbusters de ação, passando por comédias românticas e MUITOS filmes de qualidade, digamos, questionável nos últimos anos, seu talento (não ganhou um Oscar de melhor ator à toa) e excentricidade são inegáveis. Muitos veem nas atuações de Cage, algo quase caricatural, realçando a peculiaridade da personalidade do ator, que conquista de vez por parecer saber bem dessa sua fama e brincar com ela sem o menor receio. Tal disposição resultou em “O Peso do Talento”, onde Nicolas Cage interpreta… Nicolas Cage.

No fenomenal título original que se traduz em algo como “o peso insustentável do talento massivo”, o longa já entrega a que veio: usar essa fama ímpar do ator para gerar uma história única, cuja tela transborda com tantas referências a sua carreira e seu carisma… únicos. Aqui, Cage era tido como um grande ator que foi reduzido a papéis em filmes pequenos mediante enormes dívidas que contraiu. A abertura é com ele se encontrando com um diretor tentando conseguir um emprego que o recolocaria no mapa de grandes orçamentos hollywoodianos, e assim que Cage se joga na interpretação de uma das cenas para tentar convencer o cineasta a contratá-lo, fica claro que o entretenimento será impagável.

Com a vida financeira em dificuldades, ele acaba tendo que aceitar a incomum proposta de Javi (Pedro Pascal), um ricaço espanhol que pretende pagar um milhão de dólares para que Cage participe de sua festa de aniversário. Inicialmente resistente, a amizade que nasce entre os dois é uma das melhores coisas do filme, e vai deixar o espectador com vontade de ver dez outros longas no estilo buddy cop com a dupla discutindo as qualidades cinematográficas de “As Aventuras de Paddington 2”.

A história ainda coloca o protagonista envolto numa investigação da CIA, que solicita sua ajuda para desmascarar o império de crime de seu novo amigo — e que ainda pode estar envolvido no sequestro da filha de um candidato à presidência. Cage precisa lidar com tudo isso ao mesmo tempo que tenta se conectar com sua própria filha adolescente e melhorar o relacionamento com a ex-esposa. Sim, de repente a trama escala absurdamente, e se tudo já está maravilhosamente exagerado, espere até conhecer Nicky, o amigo imaginário de Cage que é uma versão surtada e jovem do próprio baseada numa antológica entrevista do ator.

É verdade que as tramas que envolvem a família do protagonista e a CIA não têm muito desenvolvimento, mas pouco importa. A agência governamental está lá mesmo é para gerar situações espalhafatosamente bobocas para Cage brilhar com a brincadeira metalinguística da obra. O roteiro acerta na mosca ao não focar nas excentricidades de Nicolas Cage, mas usá-las para temperar o desenrolar da trama e da inusitada amizade entre ele e Pascal, que encaixa como uma luva no estapafurdismo proposto como o inocente fanboy deslumbrado do ator.

Uma comédia de ação divertida que vai levar o fandom de Cage ao deleite, “O Peso do Talento” é o entretenimento ímpar do artista entregue num poço de carisma e genuinidade.

Bruno Passos
@passosnerds

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