Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 16 de março de 2022

O Projeto Adam (Netflix, 2022): estilo Ryan Reynolds de fazer comédia

Dupla formada pelo ator canadense e o diretor Shawn Levy comprova a fórmula de sucesso desenvolvida após "Deadpool".

É possível separar a carreira de Ryan Reynolds entre antes e depois de “Deadpool”. O ator se encontrou em um gênero que mistura ação e comédia, tudo caprichado com excelentes efeitos visuais e um roteiro afiado. Durante o desenvolvimento dessa fórmula, ele se encontrou com o diretor Shawn Levy em “Free Guy: Assumindo o Controle” e o resultado deu tão certo que a dupla está de volta em “O Projeto Adam”, lançado na Netflix.

Mais uma vez misturando humor e aventura, agora com pitadas de ficção científica, a obra conta a história de Adam Reed (Ryan Reynolds), um piloto de combate que vive em 2050, e viaja no tempo para reencontrar sua esposa Laura (Zoë Saldaña) mas, sem querer, fica preso em 2022. Para conseguir se curar de um ferimento após a queda, ele vai para um ambiente familiar, a casa em que morava e onde atualmente vive a sua versão de 12 anos de idade (interpretada por Walker Scobell). O menino reconhece que eles são a mesma pessoa pela cicatriz em comum e por usar o mesmo relógio do pai. Juntos, eles precisam aprender a trabalhar em equipe para conseguir salvar o futuro.

O roteiro de Jonathan Tropper (da série “See”), T.S. Nowlin (de “Círculo de Fogo: A Revolta“) e Jennifer Flackett (da série de animação “Big Mouth”) brinca o tempo todo com a complexidade da viagem no tempo e com conflitos de gerações, cheio de referências a “De Volta Para o Futuro”, “Vingadores: Ultimato”, entre outros filmes que abordam o tema. Logo de início, são apresentadas as regras: cada um vive no seu tempo fixo, onde as coisas se acertam no local e no tempo que você pertence de fato. Ou seja, não existem realidades alternativas por aqui.

Os jatos do tempo são codificados pelo DNA do usuário e, como o viajante está ferido, a inteligência artificial não permite ser consertada, precisando do DNA saudável do jovem Adam para isso. O piloto é perseguido por Maya Sorian (Catherine Keener), ex-sócia de Louis (Mark Ruffalo), o pai do protagonista, que foi um dos criadores da tecnologia da viagem no tempo. O adolescente se encanta pela sua versão do futuro enquanto sofre bullying na escola e dá respostas curtas para a sua mãe Ellie (Jennifer Garner), que ainda sofre com a morte do marido.

A dinâmica em que o Adam mais velho não tem a menor paciência para tirar as dúvidas do curioso Adam mais jovem é divertida e não cansa o espectador. Com a experiência de vida do piloto, o trio de roteiristas aproveita para aprofundar o texto além das piadas rápidas. Um exemplo é o seu desabafo sobre a falta de empatia do menino pela mãe, e como, mesmo depois de muito tempo, ele ainda sente falta do pai. E claro, a aprendizagem é recíproca, pois a memória é falha e a leveza do personagem é deixada para trás por causa dos percalços da vida.

Reynolds segue completamente à vontade com a proposta da obra, fazendo uma ótima dupla com Scobell, que consegue manter o ritmo alucinado do ator. Já Jennifer Garner e Zoë Saldaña aparecem pouco, mas ganham seus momentos de destaque: a primeira em uma emocionante conversa em um bar com Adam do futuro, e a segunda com uma excelente sequência de ação, um dos pontos altos da dupla Reynolds/Levy.

Ainda dá tempo suficiente para os fãs de “De Repente 30” matarem a saudade de ver Garner e Mark Ruffalo na mesma cena. Por outro lado, o diretor peca em coisas simples, como os genéricos soldados de Sorian e a versão mais jovem digital de Catherine Keener, que não recebe o capricho final necessário da equipe de efeitos visuais.

“O Projeto Adam” é uma obra divertida, leve e conta com um ótimo elenco. A esperança é de que a amizade Reynolds/Levy renda muitos outros trabalhos com o mesmo nível de qualidade.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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