Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Cuphead – A Série (Netflix, 1ª Temporada): fantástico universo de Xicrinho e Caneco

Adaptação do aclamado jogo indie é um show de imersão ao passado. Com visual e trilha sonora impecáveis, o único porém fica por conta do roteiro simples demais.

Cuphead” é um jogo de ação indie lançado em 2017 pela produtora StudioMDHR, inspirado em desenhos animados da década de 1930. Além do visual impecável, com detalhes em aquarela, e a maravilhosa trilha sonora original de jazz, o game chamou a atenção pela extrema dificuldade e pelas criativas batalhas de chefes. Os jogadores controlam Xicrinho e/ou Caneco, que se metem em uma confusão e acabam devendo a alma para o próprio Diabo. Com mais de 6 milhões de cópias vendidas, surgiu a oportunidade de expandir o mundo da Ilha Tinteiro, e assim nasceu “Cuphead – A Série”, adaptação lançada na Netflix.

A animação amplia o universo do jogo, porém, a base é a mesma citada acima. A primeira temporada tem apenas 12 capítulos de cerca de 15 minutos cada. A duração dos episódios pode parecer pouca, mas é perfeita para o ritmo frenético da dupla. Os personagens são muito carismáticos e criativos, com um design que vai desde animais, ferramentas, comidas, até telefones antigos.

A produção incluiu discretas falhas que simulam uma projeção de um rolo de filmagem muito antigo, tudo para mergulhar o espectador dentro deste fantástico universo. Os tradicionais fundos das animações são feitos como se fossem pinturas, porém, os personagens têm uma boa movimentação, juntando o melhor que a tecnologia pode oferecer para ajudar na imersão do antigo.

São diversas as inspirações para “Cuphead – A Série”, que se apoia na proposta de gato e rato tradicional de “Tom & Jerry”, seja nas brigas entre os irmãos ou na perseguição do Diabo pela alma de Xicrinho. Outro destaque vai para as divertidas expressões dos protagonistas, que acaba lembrando as primeiras temporadas de “Bob Esponja” e “Ren & Stimpy”, que brincavam sempre com o zoom no rosto exagerado dos personagens.

A trilha sonora segue fantástica, com grandes referências de jazz que combinam com a arte proposta e, para ajudar, a localização e a dublagem em português ficaram incríveis. Alguns musicais, que ficaram espalhados pela temporada, tiveram excelente adaptação.

A série funciona tanto para fãs do jogo quanto para quem não conhece a história. Ao longo dos episódios, é possível reconhecer o Seu Torresmo, que vende itens, e chefões, como os sapos boxeadores e o Rei Dado, por exemplo. Mas como nem tudo são flores, o maior desafio da produção é o texto em si. Os roteiristas acabam criando uma linha criativa muito espaçada, ficando com um fiapo de história para dar andamento ao arco. Os episódios se dividem entre histórias aleatórias, como o dia em que a dupla precisa cuidar de um bebê mamadeira, e a continuação do tema central, como a busca do Diabo para tirar um suéter invisível que protege o Xicrinho.

“Cuphead – A Série” já é um ótimo conteúdo, mas crescerá muito quando tiver um a narrativa que impressione tanto quanto o visual. O último episódio apresenta a Senhorita Cálice, uma personagem jogável na DLC prevista para sair em junho, e que deve ser uma das protagonistas da segunda temporada. É bem provável que, com roteiros mais robustos, essa simples proposta cumpra a expectativa enorme que foi criada por aqui.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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