Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 12 de outubro de 2021

Meu Fim. Seu Começo. (2019): drama pretensioso

Drama alemão força narrativas para tentar ser algo grandioso, mas nem suas virtudes conseguem salvar um roteiro fraco e pretensioso.

A ruína de “Meu Fim. Seu Começo.” já tem início em sua divulgação, que tenta vender uma aura de ficção científica que não existe, confundindo sua audiência. Porém isso é um reflexo de sua própria narrativa, que tenta o tempo todo ser algo maior do que é e acaba por não conseguir ser nada.

Acompanhamos a história de um casal de namorados, Nora (Saskia Rosendahl) e Aron (Julius Feldmeier), que acreditam possuir uma forte conexão um com o outro. Porém, um dia o casal reage a um assalto a banco e uma tragédia os separa para sempre. Enquanto isso, Nathan (Edin Hasanovic) descobre que sua filha Ava tem leucemia e uma doença rara que não reage bem com a quimioterapia, mas um tratamento caro é capaz de salvar a vida da menina.

As duas histórias acontecem paralelamente até que certos eventos forcem um encontro de narrativas. Ambas são representadas em uma montagem não linear por todo o filme e ao contrário do que ocorre em outras obras que utilizam desse recurso – como “Amnésia”, por exemplo – em nenhum momento o tempo se alinha ordenadamente em direção alguma. A ideia é até interessante – causar confusão para que o espectador monte as peças do quebra-cabeça sozinho com a informação que vai recebendo de acordo com o avançar dos eventos para que assim, em certo momento da história, haja uma revelação de enredo. Porém esta surpresa é muito óbvia e isto enfraquece a trama.

A montagem caótica não serve para muita coisa além de gerar impacto nessa revelação e para entregar um final que remete ao começo, fazendo uma brincadeira com o título. Contudo, é apenas uma cena romântica com um diálogo que se acha muito genial, mas beira o “momento Martha” de “Batman vs. Superman”. Além disso, ao invés de deixar o filme mais dinâmico, o que é de se esperar com esse tipo de recurso narrativo, o resultado é o exato oposto: um ritmo moroso, com caminhos que não levam a lugar nenhum.

Muitas soluções de roteiro são forçadas, pois a diretora e roteirista Mariko Minoguchi parece trabalhar os caminhos das personagens de forma inversa. Ou seja, ela quer que alguém faça determinada ação e assim inventa um pretexto para gerar certa consequência. Não há demérito nessa forma de raciocínio, desde que o resultado seja fluido – o que não é o caso aqui.

Enquanto há problemas no roteiro e na montagem, as lentes de Minoguchi não decepcionam. Com muito uso de visão em primeira pessoa e uma fotografia intimista, consegue capturar e transmitir mesmo as emoções mais subjetivas. Em conjunto com o bom trabalho de atuação da maior parte do elenco, o resultado é uma obra que imprime grande sensibilidade.

“Meu fim. Seu Começo.” tem ideias interessantes, mas faltou maturidade para lidar com elas. Quando ferramentas ousadas não são sustentadas pela profundidade da história, o resultado chega a ser risível. Faltou a confiança no próprio tema e em seus personagens, que teriam muito mais a serem explorados se pudessem falar por si ao invés de conduzidos por caminhos desnecessários que só fazem a trama soar pretensiosa e sem propósito.

Tayana Teister
@tayteister

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