Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 05 de novembro de 2021

#RapaduraRecomenda – Os Caça-Fantasmas (1984): clássica comédia espirituosa

Clássico dos anos 80 pode até estar datado em alguns quesitos, mas continua uma explosão de carisma e comédia sobrenatural que permanece inalcançável.

Clássica comédia sobrenatural dos anos 80, “Os Caça-Fantasmas” foi o pontapé inicial de uma franquia que gerou desenhos animados, jogos de vídeo game, livros, histórias em quadrinhos e continuações décadas após a estreia do original. Revisitar este filme apenas prova que há um poder de entretenimento enorme em potencial.

A história gira em torno de Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Aykroyd) e Egon Spengler (Harold Ramis), professores da Universidade Columbia que investigam atividades paranormais. Ao averiguar um relato de uma aparição de um fantasma na biblioteca pública de Nova York, eles se deparam com a prova cabal que precisavam, mas são demitidos, já que a longa pesquisa sem resultados concretos gerava muitos gastos para a faculdade. Eles então decidem abrir uma empresa e oferecer serviços de, bem, caçar fantasmas. Objetivo atingido por meio de armamento laser com energia nuclear que prende criaturas do além.

Premissa absurda, mas enriquecida pelo fato do filme nunca se levar a sério e se apoiar no talento do time principal, acrescido de Winston (Ernie Hudson) na metade, que teve enorme liberdade para improviso. De um plano sequência de uma festa no apartamento de Louis (Rick Moranis) ao carisma infindável de Murray, as falas foram um festival de improviso que traz vivacidade e humor de timing invejável à tela.

É verdade que Venkman é um personagem que envelheceu mal, já que é um pervertido sem noção de limites. Retrato da época, em que Hollywood ainda tratava tais temas como normais e engraçados, algo que, felizmente, vem mudando conforme os anos passam e a sociedade evolui. Também era de praxe de filmes oitentistas terem um romance apenas porque sim. Havia uma crença de que o público só iria para o cinema se houvesse um casal, o que gera um relacionamento sem propósito entre o personagem e Dana (Sigourney Weaver), primeira cliente da empresa.

O que funciona é que o elenco é formidável, e mesmo com alguns acontecimentos acontecendo repentinamente demais – o personagem de William Atherton aparece do nada apenas para ser o antagonista unidimensional que serve como gatilho da sequência final – funciona com um ritmo delicioso.

A química entre todos é palpável, especialmente do trio de amigos do início. Além do afiado Murray, Ramis nunca sorri como Egon, o que resulta em falas absurdas serem engraçadas justamente por ser levada a sério pelo cientista. Aykroyd é uma bomba de aura alegre, o que encaixa perfeitamente com seu personagem, eternamente empolgadíssimo pelo que estuda.

Já Winston era para ser interpretado por Eddie Murphy, e teria um papel mais longo e de maior peso, mas com a estrela saindo do projeto para fazer “Um Tira da Pesada”, sua participação na trama foi reduzida. Nada que impeça Hudson de entregar um personagem adorável.

A direção é de Ivan Reitman (responsável pelos primeiros filmes de comédia de Arnold Schwarzenegger), que precisou lutar contra um prazo curtíssimo, resultando nas primeiras cópias terem efeitos incompletos. Entretanto, o entretenimento foi tamanho que os cinemas mal receberam reclamações.

O filme gerou ícones da cultura pop, como o carro Ecto-1, um carro funerário adaptado para o equipamento do time, com uma sirene inconfundível. O logo da empresa, as mochilas de armas laser, a armadilha para capturar fantasmas, o gigantesco homem de marshmallow e a estação do corpo de bombeiros são exemplos de imagens que se cravaram na história da cultura pop.

Não dá para não falar da música Ghostbusters, de Ray Parker Jr., que a compôs como se fosse o jingle da empresa dos protagonistas, gerando um das canções originais de maior sucesso da história do cinema, e eternamente gostosa de ouvir. Aliás, o primeiro trailer era apenas o comercial da companhia, com um número de telefone que realmente funcionava e levava a uma mensagem de áudio gravada pelos atores que diziam que não poderiam atender porque estavam caçando fantasmas. Deu tão certo que, por seis semanas, esse número recebia em torno de mil ligações por hora.

Os efeitos especiais (depois de devidamente terminados), ficaram excelentes. E mesmo com algumas cenas onde estão datados, ainda há efeitos práticos magníficos que enchem os olhos. Há exposição simplória em vários momentos, mas nada reduz a poderosa capacidade de entretenimento de um dos filmes mais marcantes da década de 80.

A combinação de humor e fantasmas poucas vezes encontrou um equilíbrio tão bom na sétima arte. Há momentos que verdadeiramente amedrontam, intercalados com comédia de forma impressionantemente orgânica. “Os Caça-Fantasmas” é um dos filmes que mais marcaram os anos 80, assombrando e divertindo fãs de cultura pop de qualquer geração.

Bruno Passos
@passosnerds

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