Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Noitários de Arrepiar (Netflix, 2021): criativa abertura para o mundo do terror

Obra voltada para o público infantil surpreende com um roteiro engenhoso, ótimos efeitos práticos e um elenco inspirado.

Os filmes de terror nunca foram a primeira opção dos pais para servir de porta de entrada para as crianças no mundo do cinema. Algumas obras, principalmente de animação, já utilizaram o gênero em uma abordagem leve, mas aterrorizante, como “A Casa Monstro”, “Frankenweenie” e “O Estranho Mundo de Jack”. Para agradar esse público, a Netflix lança sua nova fantasia de terror chamada “Noitários de Arrepiar”, produzido pelo lendário Sam Raimi (“Uma Noite Alucinante”).

Baseado na obra do escritor J.A. White, o filme do diretor David Yarovesky (“Brightburn: Filho das Trevas”) conta a história de Alex (Winslow Fegley), um menino apaixonado por filmes de terror — ele até escreve suas próprias histórias, mas sente-se isolado por seus amigos o rotularem de estranho. Ao sair de casa, ele é atraído para um quarto com uma televisão transmitindo “Os Garotos Perdidos” e um prato da sua torta preferida. Depois de desmaiar ao provar um pedaço, ele acorda e percebe que está preso em um apartamento enfeitiçado de uma bruxa chamada Natacha (Krysten Ritter). Em seguida, encontra Yasmin (Lidya Jewett), uma garota que também está presa no local. Para sobreviver, a bruxa obriga Alex a escrever uma nova história de terror todas as noites ou os dois ficarão presos para sempre na residência. Isso também inclui uma regra: não podem existir finais felizes.

Com apenas três personagens na maior parte do longa-metragem, os roteiristas Mikki Daughtry e Tobias Iaconis (ambos de “A Maldição da Chorona”) ganham tempo para desenvolver o passado dos seus protagonistas após estabelecer as regras ainda nos primeiros minutos da obra, ou seja, com 15 minutos já sabemos da paixão sobre terror de Alex, que Yasmin está presa no apartamento faz tempo e que a bruxa é uma vilã sem remorsos.

A dupla de roteiristas também desdobra um subplot sobre a questão de Alex sentir-se um peixe fora d’água, com gostos que diferem muito das outras crianças, o que sempre vem atrelado a uma questão séria sobre bullying, que fez o jovem odiar tudo aquilo que ele mais amava, as histórias de terror. A busca para conseguir se encaixar cria um tabu na mente em desenvolvimento da criança e ele acaba em dúvida sobre seguir sem amigos ou abandonar sua principal paixão para ter com quem conversar.

Winslow Fegley e Lidya Jewett formam uma ótima dupla e são bem expressivos demonstrando verdadeiro terror ao se deparar com Natacha. Falando nela, a interpretação de Krysten Ritter mostra uma atriz se divertindo muito com um papel bem diferente na sua carreira. Com um figurino espalhafatoso, a personagem não tem a mínima paciência para lidar com as crianças e consegue fazer rir segundos depois de assustar.

A obra tem ótimos efeitos práticos que dão vida ao apartamento mágico com diversos objetos caindo, feitiços da bruxa e criaturas diferentes. Outro destaque é relacionado ao design de produção, com cenários bem criativos, como a biblioteca quase infinita e o jardim noturno. O diretor, entretanto, não consegue encontrar um público-alvo definitivo para sua obra. Isso porque o tipo de terror pode ser considerado muito assustador para crianças e muito infantil para os adultos.

Com um roteiro criativo e um elenco inspirado, “Noitários de Arrepiar” surpreende. Com um final aberto apontando para uma continuação, a Netflix tem uma franquia com muitas possibilidades pela frente. Resta definir se a finalidade é assustar as crianças ou os jovens adultos.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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