Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 06 de agosto de 2021

Atypical (2017-2021): daquelas séries que deixam saudades

Série chega a seu ótimo fim após quatro temporadas cheias de amor, humor, ensinamentos e inspirações.

Atypical” chegou ao seu fim na quarta temporada transmitida pela Netflix em 2021, contando, com muito êxito, a história de Sam Gardner (Keir Gilchrist), um adolescente autista transitando para a vida adulta, e sua família composta por sua irmã Casey (Brigette Lundy-Paine), sua mãe Elsa (Jennifer Jason Leigh) e seu pai Doug (Michael Rapaport).

Apostando em um formato de dramédia, a série conseguiu ter uma atmosfera leve, mas sem deixar de levar seus temas a sério. Não foi só sobre autismo, mas sobre inclusão, diversidade, perdão, relacionamentos tóxicos, aceitação e respeito. Personagens descobrem coisas sobre si mesmo e, através deles, a obra mostra que um sistema de apoio, com pessoas que acolhem, resultam em outras felizes e produtivas.

É nítido o quanto a série procurou ser mais inclusiva durante suas temporadas, trazendo atores e escritores que também tem autismo, o que só resultou em maior veracidade dos acontecimentos. Os personagens são carismáticos e o elenco tem ótima química, destaque para a amizade entre Sam e Zahid (Nik Dodani), que rende alguns dos diálogos mais divertidos.

Gilchrist fez um trabalho incrível. Pode parecer simples, mas há um iceberg de emoções atrás de suas ações que ele consegue transmitir sem exageros. Lundy-Paine também é um acerto de escalação, interpretando uma jovem que precisa lidar com autodescobertas e decisões de peso para seu futuro. As pressões sociais na personagem transparecem com louvor, e o espectador se pega torcendo por ela sem dificuldades. Leigh e Rapaport possuem momentos de carinho tão genuínos entre ambos que fica fácil comprar a relação entre os dois, mesmo com os enormes obstáculos da primeira temporada.

Interesses amorosos também aparecem para os jovens personagens, e como adolescentes que são, há drama e intensidade, mas sempre com a aura de leveza que permeia a obra. Paige (Jenna Boyd) se apaixona por Sam e encara as novidades com determinação, mesmo que sua paciência seja testada. Ela se mostrou uma ótima adição ao elenco, que não só tem peso no arco narrativo do protagonista como também seu próprio. O mesmo pode ser dito de Evan (Graham Rogers) e Izzie (Fivel Stewart), ambos passam por romances conturbados e sinceros com Casey, criando outras subtramas que não estão lá apenas para encher linguiça.

Tudo é muito bem entrelaçado. Não que não haja momentos de barriga narrativa, mas são poucos, e como os episódios são de 30 minutos (aproximadamente) e as temporadas tem em torno de 10 episódios, nunca fica uma enrolação que leve ao tédio. É fascinante notar como a série conta tantas histórias em tão pouco tempo.

A showrunner Robia Rashid merece elogios ao ter pesquisado constantemente sobre os temas propostos, tratando-os com o devido respeito e procurando educar e divertir seu público. Ao debater os desafios (e benefícios) do autismo, tanto para o próprio autista quanto para suas pessoas queridas mais próximas, a série ilustra que disposição e boas vontades já levam a ótimas consequências. Tudo feito com um tom positivo o bastante para ser crível e tramas que equilibram drama e humor com louvor.

“Atypical” é daquelas séries que deixam saudades imediatas quando acabam. Com narrativa fluida, personagens palpáveis, diálogos bem esculpidos e elenco em sintonia, é entretenimento educativo dos melhores, com conteúdo importante e divertido.

Bruno Passos
@passosnerds

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