Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 15 de julho de 2021

Os Croods 2 – Uma Nova Era (2020): a união faz a força

Oito anos após a estreia do primeiro filme, sequência chega aos cinemas com mais qualidade técnica e humorística, oferecendo surpreendente convites para debates sociais

Após oito anos, a família pré-histórica da Dreamworks que sempre precisa ter medo ganha uma sequência com “Os Croods 2: Uma Nova Era”. Houve uma animação de quatro temporadas na Netflix nesse meio tempo, mas para quem só conhece os personagens no cinema, foi uma longa espera que, neste caso, valeu a pena.

Todo o elenco original está de volta, com nomes de peso como Emma Stone como Eep, Ryan Reynolds como Guy e Nicolas Cage como Grug, que usam e abusam de seu talento e ótima química para gerar interações divertidas e devidamente exageradas. A adição de Peter Dinklage, Leslie Mann e Kelly Marie Tran enriquece ainda mais esses momentos, principalmente pelo enorme contraste entre as famílias Crood e Betterman (que tem um sobrenome que pode ser entendido como “homem melhor”, em inglês, e isso tem boas camadas de humor que infelizmente se perdem na tradução).

Nesta nova aventura, Eep e Guy estão apaixonados e começam a planejar um futuro juntos, para o horror do pai superprotetor Grug, que ainda precisa trabalhar sua inevitável síndrome do ninho vazio. No primeiro filme, o namorado da filha os convence a fazer uma jornada para o “Amanhã”, um lugar paradisíaco e utópico sugerido por seus pais numa falha de comunicação que, por si só, é engraçada. É nesta sequência que eles chegam ao suposto local, farto de comida, segurança e água, onde a “única” regra é não comer as bananas.

A maneira bon-vivant com que a família Betterman, habitantes do local, leva a vida enlouquece Grug, que passou a vida toda se preocupando com tudo. Os embates de ideias nascidos entre os dois patriarcas é um exemplo de como o filme vai além da comédia e traz um interessante debate sobre xenofobia e conflito de gerações. E são nesses momentos que Cage e Dinklage brilham, com humor afiado e timing perfeito.

A filha dos Betterman, Dawn (Tran), era conhecida de Guy quando criança, e o que parece que vai ser mais um triângulo amoroso onde as duas mulheres se tornam rivais por lutarem pelo mesmo homem logo se desmonta, com as duas criando uma instantânea amizade que faz Eep perceber que a caverna da qual precisou se libertar pode ter outros formatos para outras pessoas. Aliás, o roteiro sabe inteligentemente construir protagonismo para vários personagens, com um número de subtramas deliciosamente bem desenvolvidas, em que a masculinidade tóxica é jogada no lixo e mulheres ganham posições de poder equilibradas com as dos homens. Esses ingredientes resultam numa sequência final que não hesita em abraçar a íngreme escalada do nível de absurdo proposto e, se o espectador estiver disposto a embarcar nesse barco (ou lobo-aranha), é entretenimento dos bons.

Não que não haja elementos previsíveis, mas isso não é ruim, pois são bem elaborados e entregam o resultado emocional desejado. Entretanto, visualmente, o mundo dos Croods é tão criativo e diferente que admirar os cenários e as misturas animalescas vale o ingresso por si só.

“Os Croods 2: Uma Nova Era” é daquelas sequências que superam o original, algo não muito comum na indústria da sétima arte. As piadas são bem elaboradas e encaixadas, o elenco interage como poucos e há discussões sociais em subcamadas aqui que torna esta obra algo especial, mesmo que as jornadas emocionais de seus personagens não sejam inovadoras ou espetacularmente narradas.

Bruno Passos
@passosnerds

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