Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 09 de julho de 2021

Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio (2021): aliança de horror com investigação

Novo capítulo da franquia de terror mantém o padrão técnico impecável, em uma história de crime misturada com possessões demoníacas.

Quando o primeiro “Invocação do Mal” foi lançado em 2013, nem nos seus melhores sonhos o diretor James Wan poderia imaginar tanto sucesso. Além da franquia principal, surgiram filmes da boneca “Annabelle“, “A Freira” e até alguns rumores sobre o spin-off do Homem-Torto, apresentado em “Invocação do Mal 2“. Em todas essas obras, Wan teve algum tipo de colaboração, seja como diretor, roteirista ou produtor. Depois de dirigir os dois primeiros, ele passa o bastão em “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio”, agora disponível na HBO Max no Brasil. O nome da vez é Michael Chaves, em seu segundo longa-metragem após uma estreia morna em “A Maldição da Chorona”.

A obra segue contando a história dos investigadores de atividades paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). Desta vez, o casal precisa investigar o caso de Arne Johnson (Ruairi O’Conner), um suspeito de assassinato que alega ter tido uma possessão demoníaca no momento do crime. Desta vez, não existe um monstro específico igual a Freira ou o Homem-Torto. A vilã é uma ocultista, interpretada por Eugenie Bonduran, uma bruxa que está realizando um ritual que envolve um assassinato e um suicídio.

Logo nos primeiros dez minutos, Chaves já impõe o padrão técnico impecável característico da franquia, com excelentes efeitos práticos ao apresentar o exorcismo de David Glatzel (Julian Hilliard), um menino de oito anos. A cena conta com uma ambientação caprichada, com objetos voando, ventania dentro de casa, uma imersão que coloca o espectador no ponto certo para o que vem a seguir: Arne pede para que o demônio deixe a criança e passe para o seu corpo. Seu desejo é atendido, claro, mas com muitas consequências. Começam duas partes da investigação: uma busca para retirar o demônio do corpo do suspeito, e para provar a possessão demoníaca depois do crime já ter acontecido.

Com essa mudança, o diretor foca nos detalhes para relembrar que Arne segue com o demônio “adormecido” em seu corpo, como quando os cachorros começam a uivar quando ele aparece ou quando a agulha da vitrola trava enquanto ele passa, por exemplo. Chaves utiliza muito bem o silêncio para criar expectativa e faz também um bom jogo de luzes e sombras, atraindo o olhar do espectador para onde ele quer. Em uma cena na floresta, utiliza as luzes para apresentar a perspectiva de Lorraine por meio de efeitos práticos misturados com CGI, é lindo de ver. A montagem também se aproveita do ato, criando um momento perfeito para encaixar um flashback que ajuda a personagem a solucionar um crime relacionado.

O roteirista David Leslie Johnson-McGoldrick (da série “The Walking Dead”) direciona seus esforços para a parte investigativa da trama, o que deixa o ritmo um pouco mais lento em relação aos filmes anteriores da franquia, mas que ainda consegue entreter o espectador durante as quase duas horas de história.

Como sempre, Patrick Wilson e Vera Farmiga são a grande sustentação da obra. A química entre os dois somada a uma construção de personagens feita com muito esmero ao longo da franquia passam toda a credibilidade que a profissão deles requer e torna legítimo o companheirismo do casal. Destaque também para Julian Hilliard e Ruairi O’Conner que surpreendem tanto nas cenas dramáticas quando nas físicas, quando precisam se contorcer pra suportar a possessão.

“Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” pode ser considerado o filme menos assustador da franquia, mas é muito bom tecnicamente e ainda muito acima das demais produções de terror recentes. É necessário reconhecer a busca por um caminho longe da zona de conforto por parte de Michael Chaves, criando um formato diferente dos dois longas anteriores. Entretanto, a ocultista não cria um momento memorável como as famosas cenas da Freira ou do Homem Torto, por exemplo. Mesmo no terceiro capítulo da saga principal, a franquia demonstra força. Que o casal Warren siga preenchendo sua sala de artefatos com muitas outras peças malignas.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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