Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 18 de junho de 2021

Paternidade (Netflix, 2021): memórias de amor e perda

Kevin Hart protagoniza comovente drama sobre um pai que precisar superar o luto para criar sua filha.

Kevin Hart construiu uma carreira que até então não lhe permitiu muito protagonismo. O ator até consegue se destacar em “Jumanji” e “Um Espião e Meio”, mas curiosamente, nos dois filmes é ofuscado por Dwayne Johnson. A transição de comediantes para o drama costuma ser bem-sucedida, basta conferir algumas obras da carreira de Robin Williams, Jim Carrey e Adam Sandler, por exemplo. Para tentar alcançar esse nível, Hart finalmente vira o centro das atenções em “Paternidade”, novo drama/comédia da Netflix.

A trama conta a história de Matt (Hart), um viúvo que precisa lidar com o luto após a inesperada morte da sua esposa um dia após o nascimento da sua filha, Maddy (Melody Hurd). Ele tem pouco tempo pra lidar com a perda, pois assume a tarefa de criar a menina sozinho, mesmo sem a confiança da família.

O longa-metragem é dirigido por Paul Weitz, que tem um filme bem parecido em sua filmografia, “Um Grande Garoto”, de 2002. Em ambas as obras, um homem passa a cuidar de uma criança e aprende a se comportar como um adulto responsável por meio deste convívio. Baseado no livro “Dois Beijos para Maddy: Uma História Real de Amor e Perda“, de Matthew Logelin, Weitz divide o roteiro com Dana Stevens (“Cidade dos Anjos”).

O texto é dividido em grandes dois arcos: o primeiro com a filha recém-nascida e o outro quando ela já está na escola. A maior parte do humor do roteiro está no primeiro ato, em que se aproveita das situações complicadas que o pai de primeira viagem encontra no caminho: a criança que não para de chorar, a dificuldade para conciliar o trabalho e a vida doméstica, entre outras situações corriqueiras. Já o segundo ato destaca o seu amadurecimento, quando ele tenta se relacionar com outra pessoa enquanto educa a pequena.

Matt vive questionando sua atuação como pai e isso faz com que ele tome decisões ainda baseadas no que sua esposa faria. Tal dúvida levanta temas bem interessantes para a obra, como o fato dele deixar Maddy se vestir como quiser para ir para a escola. Isso faz com que ela tenha a sua própria opinião ou incentiva a menina a ter futuros atos de rebeldia? Esse enfrentamento da jovem causa rusgas na aprofundada relação entre o pai e Marian (Alfre Woodard), sua sogra, demonstrando que os dois podem até pensar diferente, mas deixam os egos de lado em nome da melhor criação para a garota.

Com um personagem cheio de camadas, Hart não decepciona e tem a melhor atuação da sua carreira. Ele demonstra uma maturidade surpreendente nas cenas dramáticas, sem perder a leveza da comédia, seu lugar comum. Já a dupla formada por Jordan (Lil Rel Howery) e Oscar (Anthony Carrigan), amigos de Matt, funciona muito bem como alívio cômico, mas termina com pouco tempo de tela.

“Paternidade” se apoia em uma história que já foi contada muitas vezes, porém o diretor conduz a obra com tanto afeto que a trama se sobressai. Sabendo dosar bem as cenas dramáticas com um tempo para o espectador respirar, o filme apresenta um caminho honesto com recortes da vida de um pai que só quer o melhor para a sua filha.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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