Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 12 de maio de 2021

Oxigênio (Netflix, 2021): valorize cada segundo da sua respiração

Obra de ficção científica dirigida por Alexandre Aja conta com excelente atuação de Mélanie Laurent para criar um clima tenso e claustrofóbico.

O cinema vive de ideias originais, adaptações e inspirações naqueles filmes que já deram certo. “Oxigênio”, nova ficção científica da Netflix, utiliza elementos já vistos diversas vezes em Hollywood: o foco na claustrofobia, pistas sobre o passado e a busca pela própria identidade. O ponto fora da curva, entretanto, é a criatividade do texto e a excelente atuação de Mélanie Laurent.

A trama, dirigida por Alexandre Aja (“Viagem Maldita”), conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver – um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela busca uma saída.

Com a ajuda de uma inteligência artificial chamada MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric), Liz passa a ter flashes da sua vida. O roteiro escrito pela novata Christie LeBlanc inclui recursos de suspense em torno da história, conforme a protagonista descobre um novo dispositivo na câmara, é revelada uma nova pista sobre como ela foi parar lá.

A proposta é bem parecida com “Enterrado Vivo”, longa-metragem de 2010 protagonizado por Ryan Reynolds. Ambos utilizam ligações telefônicas com autoridades policiais para dar andamento às cenas. A diferença é que, enquanto o diretor Rodrigo Cortés brigava para conseguir uma boa iluminação para o caixão completamente escuro, Alexandre Aja conta com a luz artificial do monitoramento da paciente, cheio de leds e telas.

A trama acaba incluindo ecos sobre a pandemia, é difícil não ligar os pontos sobre a falta de oxigênio da personagem com a realidade de muitos hospitais no Brasil e no mundo. Em alguns flashbacks, alguns personagens utilizam máscaras, levando a entender também que o filme foi gravado durante a pandemia.

Preso em suas próprias margens, o diretor consegue desenvolver uma movimentação de câmera bem interessante, ora flutuando pela câmara em momentos de calmaria, ora focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações para um novo problema. Ao demonstrar logo de início o tamanho e as limitações da cápsula, Aja pode se preocupar em desenvolver o clima de tensão e dar espaço para Mélanie Laurent brilhar.

A atriz é o centro das atenções durante o filme inteiro e conta com grande ajuda da inteligência artificial para um ponto de referência para conversar e interagir. Por meio da sua atuação e do clima criado pela trama, é instalado um alto nível de imersão, a cada respiração mais profunda da protagonista, é criada uma tensão em relação à porcentagem do oxigênio. Ela fica deitada o tempo todo e passa por períodos de absoluto desespero, crises de ansiedade e, raramente, controle da situação.

“Oxigênio” conta com diversos pontos de virada e um bom ritmo. O que começa com uma premissa minimalista vai se desenvolvendo para algo gigantesco, o que não necessariamente é uma coisa boa. Trata-se de um ótimo suspense, com uma excelente argumentação e atuação, porém, com uma trama de ficção um tanto quanto batida. Na realidade ou no cinema, valorize cada segundo da sua respiração.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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