Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 21 de abril de 2021

Monster Hunter (2021): é melhor ir jogar vídeo game

Fraco, enfadonho e desinteressante, adaptação da famosa franquia de vídeo games não satisfaz os fãs da mesma, nem conquistará novos adeptos.

Adaptações de jogos de vídeo game para o cinema são sempre acompanhadas da expectativa de que talvez o grande filme baseado num jogo finalmente acontecerá. E apesar de obras divertidas como “Detetive Pikachu” e “Sonic: O Filme”, o que há é um tsunami de longas horrorosos que ou parecem não entender o material original, ou não conseguem uma boa transição de mídia. Infelizmente, “Monster Hunter” não foge à regra.

Dirigido por Paul W. S. Anderson e estrelado por Milla Jovovich (ambos responsáveis por outra franquia de vídeo games nos cinemas, “Resident Evil”), o filme começa com uma equipe militar em algum deserto em busca de outra que desapareceu. Rapidamente aparece uma tempestade de areia incomum e eles são jogados em outro mundo, também desértico, onde logo se nota que o pouco de construção de personagens que o roteiro tentava criar é jogado no lixo. Não há o bastante para que o espectador se importe com o que acontece com qualquer um deles, e o impacto de perdas para a protagonista Jovovich é solenemente ignorado.

Jovovich interpreta Artemis, cuja pífia apresentação se resume a um anel de noivado que guarda numa caixa de metal e a parca interação com seus subordinados. Nenhum desses elementos tem função no resto do filme. Sendo uma personagem nova à franquia, não vai conquistar os fãs dos jogos e nem atrair outros que terão o primeiro contato com este mundo de monstros gigantes por este longa.

Mundo, aliás, que tem cenários interessantes e ricos, mas que ficam relegados ao último quarto da duração do filme, sendo o resto um cenário desértico monótono e sem sal. É nesse mar de areia nada inventivo onde Artemis encontra o Caçador, um sobrevivente que está isolado no local. Interpretado pelo renomado artista marcial Tony Jaa, ele não se dá bem com a recém-chegada, o que leva a lutas promissoras que se perdem numa montagem enfadonha que exagera em cortes, tentando forçar um dinamismo que já estaria lá se o foco fosse deixar a coreografia e as habilidades dos envolvidos ditarem o ritmo.

Ah, e o que dizer de um roteiro que dá o título a um personagem, mas o protagonismo a outro? Desconexo? Sem sentido? Pobremente escrito? É uma soma de tudo isso. Pior, como a apresentação de Artemis é ruim, ela não guia bem a história, durante a qual não dá para se perguntar porque o filme chamado “caçador de monstros” não é sobre o Caçador. Sem contar que as cenas em que ambos tentam se comunicar sem falar o mesmo idioma resultam em tentativas de humor falhas e artificiais demais.

Há um prólogo de poucos minutos logo no início mostrando outros personagens. Eles somem e só vão reaparecer tão mais na frente que já tinha dado tempo de esquecer deles. O líder desse grupo (Ron Perlman) consegue falar inglês porque outras pessoas já haviam atravessado o portal para aquele mundo. Impossível não se indagar quantas e com qual frequência, porque seu inglês é magnificamente natural.

Pelo menos, a partir deste ponto, o cenário muda, outros elementos aparecem e o filme fica, pelo menos, mais divertido. Não bom, isso nunca acontece, mas consegue certo nível de entretenimento, o desafio é saber se vai ter segurado a atenção do espectador até este momento.

A sequência final é um festival de CGI razoável e lutas passáveis com um monstro que serve de “chefão final” antes de zerar o jogo. É OK, mas é um grão decente num deserto de más decisões. A grande adaptação cinematográfica de jogos de vídeo game ainda não aconteceu, e “Monster Hunter” leva qualquer um a acreditar que ela ainda está bem longe de aparecer.

Bruno Passos
@passosnerds

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