Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de março de 2021

Dia do Sim (Netflix, 2021): não é por mal, é por amor

Aventura em família tem base em uma trama genérica e repetitiva, mas tem momentos divertidos e deve agradar os pequenos.

O protagonista está acostumado a dizer não para todas as oportunidades da vida. De repente, por um conselho de outra pessoa, esse personagem começa a falar sim para tudo, sem filtro, e claro que essa escolha vai levar para algumas situações extremas. Essa sinopse de “Sim Senhor”, comédia de 2008 com Jim Carrey, também serve para “Dia do Sim”, novo longa-metragem da Netflix. A obra é dirigida por Miguel Arteta, que já tinha trabalhado com Jennifer Garner em “Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso”.

A obra, baseada no livro infantil homônimo escrito por Amy Krouse Rosenthal e ilustrado por Tom Lichtenheld, conta a história da família Torres. Allison (arner) e Carlos (Edgar Ramírez) têm três filhos, Katie (Jenna Ortega), Nando (Julian Lerner) e Ellie (Everly Carganilla). O casal, principalmente a mãe, passa o tempo inteiro falando não para diversas situações no cotidiano dos filhos, como por exemplo, a garota mais velha, de 14 anos, que deseja ir com uma amiga para um festival de música.

Após os professores convocarem o casal para uma reunião na escola, eles são comunicados que as crianças entendem que são oprimidas pelas recusas. Tudo muda quando eles são aconselhados por um funcionário da escola a adotarem o dia do sim, 24 horas em que os pais precisam concordar com tudo que os filhos pedem. A ideia é dar uma sensação de liberdade e autonomia para as crianças, que, é claro, extrapolam nos pedidos.

O roteiro de Justin Malen (“Correndo Atrás de um Pai”) é bem genérico e não se preocupa com as situações sem sentido. As crianças podem abrir os vidros do carro em um lava-rápido, encher a casa de espuma, virar verdadeiros demônios da Tasmânia e tá tudo bem. Ok, é um filme de família, existe uma grande suspensão de descrença, mas não dá pra deixar passar tão fácil que uma policial pegaria uma ambulância para levar uma família para um parque de diversões.

Com base na melhora do relacionamento, a confiança entre os integrantes da família evolui a cada nova aventura. Entretanto, algumas ideias ultrapassadas sustentam a trama: uma mãe chata que precisa relembrar seus bons dias para voltar a ser legal; o pai que não consegue se livrar do trabalho para passar um tempo com os filhos; a adolescente que quer se livrar das amarras da mãe para ver o mundo, entre outros clichês.

Jennifer Garner e Edgar Ramírez estão bem à vontade e se divertem bastante com os personagens, mas o roteirista perde boas oportunidades. No primeiro ato, ele desenvolve uma história de que a mãe é vilã e o pai é herói na visão das crianças. Quando tudo aponta para um direcionamento que levará a um aprendizado para as crianças, as aventuras ficam tão exageradas que o tema vira algo secundário e pouco importante.

Em “Dia do Sim”, o diretor Miguel Arteta encaminha sua trama para um caminho aberto para interpretações: o não é uma decisão que leva à chatice, enquanto o sim é a busca pela aventura. Pelo sim ou pelo não, a obra deve agradar apenas as crianças.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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