Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 03 de março de 2021

Flora e Ulysses (Disney Plus, 2021): pequenos poderes, pequenas responsabilidades

Aventura sobre esquilo super-herói usa as referências dos quadrinhos e o carisma dos seus protagonistas para agradar as crianças e os adultos.

A Pixar encontrou um modelo ideal para os filmes infantis: divertido para as crianças e emocionante para os adultos. Foi mais ou menos por este rumo que a Disney direcionou a produção de “Flora e Ulysses”, novo longa-metragem do Disney Plus. Trata-se de uma nova aventura familiar baseada no romance infantil homônimo de Kate DiCamillo.

Dirigida por Lena Khan, a obra gira em torno de Flora (Matilda Lawler), uma jovem de 10 anos que é apaixonada por histórias em quadrinhos. Ela diz ser uma pessoa cínica, que não acredita em famílias perfeitas após a separação dos seus pais, perdeu todo o seu otimismo e está sempre esperando pelo pior.

Seu pai George (Ben Schwartz) é um criador de HQs que está em decadência por não conseguir uma editora para publicar suas histórias e, para conseguir dinheiro, trabalha em uma loja de material de escritório. Já Phyllis (Alyson Hannigan), mãe da Flora, é uma escritora especialista em romances, mas que está com um bloqueio criativo após George mudar de casa.

Tudo muda quando a menina resgata Ulysses, um esquilo que foi sugado por um aspirador e ganhou superpoderes. Ela tenta provar para os pais que o animalzinho é um herói de verdade enquanto o bicho é responsável por colocar a família em grandes enrascadas, num estilo bem Sessão da Tarde.

O roteirista Brad Copeland (“Espião Animal”) aproveita diversas referências de quadrinhos e filmes da Marvel, como o uso do formato das HQs para ajudar a ilustrar os pensamentos da garota, citações ao Homem-Aranha, ao Surfista Prateado, o pouso de super-herói popularizado em “Deadpool”, entre muitas outras. Já os personagens criados por George aparecem apenas na imaginação da menina, mas são importantes para ajudá-la na tomada de decisões e na formação da sua personalidade.

Os efeitos de CGI do esquilo estão impecáveis, o personagem interage com diversos elementos em cena e a movimentação com os atores é muito fluida e natural. O cuidado foi tão grande na qualidade do Ulysses que outros efeitos ficaram de lado, como um gato raivoso que não recebeu o mesmo capricho, por exemplo.

Mesmo com tantas referências e criatividade em alguns elementos de narrativa, a história não consegue desapegar dos clichês, como o vilão mais genérico possível – um guarda florestal – e a óbvia narrativa dos pais que ainda são apaixonados mesmo durante a separação.

As escolhas do elenco foram muito acertadas, a protagonista Matilda Lawler é bem carismática e fica bem à vontade ao atuar com o personagem digital, enquanto Ben Schwartz cumpre bem a proposta de alívio cômico e é o responsável por ser o elo entre o mundo infantil de Flora e a comédia romântica no relacionamento com Phyllis. Já Alyson Hannigan está mais no modo automático, com uma personagem que não ajuda muito e se parece demais com Lily, que consagrou a atriz na série “How I Met Your Mother”.

“Flora e Ulysses” relata a importância de ver o mundo com um olhar otimista. Com o brilho no olhar e carisma que sempre acompanham as obras da Disney, e mesmo com alguns problemas, essa é uma aventura leve e positiva. Nada como uma boa Sessão da Tarde sobre um esquilo com superpoderes para esfriar a cabeça.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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