Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A Lista de Honra (2018): cativa aos trancos e barrancos

Filme de Elissa Down peca em diversos aspectos, mas ainda assim consegue passar uma mensagem tocante, mesmo que já explorada em obras mais competentes.

Amizade feminina é um tema bem retratado em muitos filmes adolescentes como “Agora e Sempre”, “Quatro Amigas e Um Jeans Viajante” e “Fora de Série”. Até mesmo o terror “Garota Infernal” é bom exemplo de obras que podem não ser perfeita, mas abordam de forma eficiente este tema quem em alguns deles é o pilar de suas narrativas. “A Lista de Honra” tem o mesmo tópico no seu âmago.

O filme retrata um período da adolescência de quatro amigas: Honor (Arden Cho), Isabella (Sasha Pieterse), Piper (Meghan Rienks) e Sophie (Karrueche Tran). No penúltimo ano do colégio, elas fazem uma lista de coisas que gostariam de realizar juntas antes da formatura. Com um salto de um ano na narrativa, é revelado que Honor faleceu por conta de um problema no coração, condição médica que ela decidiu não revelar para as amigas. Seu último desejo, passado para elas através de sua mãe, é que as três realizem todos os itens da lista. Fica claro que as amigas não são mais tão próximas, porém apesar disso elas decidem se unir para realizar o pedido de Honor, uma decisão que também reabre traumas do passado.

Roteirizado por Marilyn Fun e dirigido por Elissa Down, a primeira metade do longa é recheada de clichês, cuja maioria é mal executada. Desde a música inspiradora e insistente em quase todos os momentos até a forma que decide retratar as amigas como arquétipos já vistos diversas vezes (a popular, a santinha, a rebelde e a artista), a obra se apresenta desde o início com os pés fincados em convenções já estabelecidas do gênero, tanto no drama quanto na comédia. De primeira, dá a entender que não faz sentido torcer por algo revolucionário nos seus 103 minutos de duração. Porém, quem tiver paciência de passar pela sua primeira metade vai encontrar um terceiro ato tocante e que faz um bom trabalho em fechar os arcos estabelecidos anteriormente.

Questões sobre porque as amigas tomaram caminhos diferentes, dramas familiares e até mesmo sexo, consentimento e aceitação sobre ter um corpo fora dos padrões são temas abordados de maneira surpreendentemente satisfatória para uma obra que parecia, no seu início, não ter interesse em passar grandes mensagens de forma competente. É possível que chegando a esse ponto o espectador já tenha desistido do filme, porém é a partir daí que o humor encontra alguns acertos e o texto revela uma camada emocional que antes parecia apenas mal explorada.

A fórmula do gênero certamente está presente e é fácil de adivinhar como os grandes momentos irão se desenrolar, porém ao menos é apresentada uma vontade de inovar no texto de Fun. Infelizmente a direção de Down não acompanha o roteiro, não dando destaque suficiente para as cenas mais interessantes, preferindo favorecer os momentos de dramalhão da narrativa. Uma cena que chama atenção se passa na sala do diretor da escola, onde as tramas finais convergem. Ela poderia ter sido usada para aprofundar mais as relações daqueles ali presentes e as revelações que acontecem. Porém, a câmera fica parada num plano entediante que não flui com o momento. Cenas onde personagens mostram não serem unidimensionais são filmadas um jeito que pode ser considerado até preguiçoso. Em vez de investir nesses momentos, Down prefere ancorar o drama no óbvio, o que resulta até mesmo numa montagem que em momentos parece não fazer sentido.

Outro ponto negativo que se destaca é a atuação péssima vinda de Karrueche, intérprete de Sophie. A atriz não está no mesmo nível das outras protagonistas, que entregam boas performances. Até os menores maneirismos da sua Sophie parecem forçados, o que tira a imersão nos momentos em que ela está em cena, que infelizmente são vários. Faria mais sentido se Arden Cho, que se mostra competente nos poucos momentos onde aparece (e já apresentou atuações carismáticas em “Teen Wolf”, por exemplo, onde tinha mais destaque), trocasse de personagem com Karrueche e tivesse mais tempo de tela no filme. Inevitavelmente as personagens de Sasha e Meghan se sobressaem por terem os melhores arcos.

Mesmo se apoiando em diversos clichês, o filme ainda assim passa uma boa mensagem para seu público alvo de adolescentes que estão na mesma fase das protagonistas, sobre dar valor às amizades e saber reconhecer o que realmente vale a pena, não deixando pequenos mal entendidos estragarem seus laços com pessoas especiais, e como isso pode causar problemas maiores a longo prazo. É o tipo de história já explorada de forma melhor diversas vezes anteriormente? Com certeza. O desfecho vai por um caminho já conhecido? Sim! Mas não tira o mérito daquilo que “A Lista de Honra” consegue construir competentemente, apesar de diversos empecilhos, principalmente os momentos genuínos presentes nos seus quarenta minutos finais. O filme pode ser uma boa pedida para aqueles que já conhecem diversos longas do gênero e estão buscando por algo novo.

Lívia Almeida
@livvvalmeida

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