Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de dezembro de 2020

Fada Madrinha (Disney Plus, 2020): não te deixa feliz para sempre, mas torna seu 2020 melhor

Disney entrega uma obra com roteiro fraco, mas cheia de genuíno coração que ilustra a mudança de visão da empresa para o que significa "felizes para sempre".

A Disney Plus segue firme em lançar obras diretamente para o serviço. Após ótimos filmes como “Togo” e “Timmy Fiasco”, “Fada Madrinha” foi lançado no início de dezembro de 2020 para tentar conquistar mais fãs e assinantes. Embora não tenha a qualidade dos longas mencionados, é uma obra inegavelmente divertida.

Jillian Bell interpreta Eleanor, a fada mais nova da Terra-Mãe a ingressar na escola de treinamento de fadas, alguém que acredita piamente na história de “felizes para sempre” e que seu trabalho consiste em ajudar uma menina a encontrar o amor de um menino. Entretanto, ninguém mais do mundo real acredita nisso, e o trabalho de fadas-madrinha se tornou obsoleto, com todas elas aguardando o futuro onde serão transferidas para a unidade de Fadas do Dente.

Todas as fadas já estão de saco cheio do modelo ultrapassado, mas não Eleanor. Cheia de otimismo, ela embarca clandestinamente em sua primeira missão para ajudar a humana Mackenzie (Isla Fisher) a encontrar seu “feliz para sempre”. Cheia de inocência e ingenuidade, ela chega no mundo real e aí o roteiro começa ótimas gags de uma personagem em um mundo que não conhece, se metendo em encrencas por não saber, por exemplo, para que serve dinheiro.

Sim, é bem parecido com o sucesso “Encantada”, onde Amy Adams é uma princesa de um conto de fadas que vem para o mundo real e tem o mesmo tipo de comédia. Porém, a autocópia do estúdio não sai pela culatra.

Não que seja um grande filme. Pelo contrário, o roteiro é mequetrefe, preguiçoso e cheio de incongruências e facilidades narrativas convenientes demais, mas isso não importa, porque Bell inunda a tela com tanto carisma que conquista. A atriz abraça a ingenuidade de sua personagem e, a todo momento, ela parece viva e leva a acreditar que é possível encontrar uma fada madrinha por aí. Seu timing para comédia é afiado e seu eterno sorriso de uma alma carregada de positividade interagindo com humanos que a acham maluca funciona do começo ao fim.

Além disso, a dupla de Bell com Fisher funciona com ótima química. Fisher faz a adulta Mackenzie, mãe solteira de uma criança e uma adolescente a quem não consegue dar a atenção necessária por estar sobrecarregada e com um grande sofrimento de uma perda em seu passado que ainda a afeta. Sua negatividade é o contraste – e o desafio – perfeito para a positividade de Eleanor, gerando cenas de carinho e afeição familiar que são a mágica real deste filme, conquistando mesmo com um roteiro tão fraco. A subtrama da filha mais velha e seu medo de se apresentar em público é tocante, e a maneira como sua mãe lida com isso ilustra bem seu estado de espírito e as consequências possíveis se algo não mudar – é nestes momentos que o longa cativa.

Há uma outra subtrama entre uma possível relação romântica entre Mackenzie e seu colega de trabalho Hugh Prince (Santiago Cabrera) que não tem a mesma força e faz o filme ser mais longo do que o necessário, mas mesmo com o ritmo caindo em várias cenas que tratam dessa história, não chega a ser um real incômodo.

Mesmo com suas falhas, “Fada Madrinha” conquista com suas importantes e atuais mensagens de amor e como trata do real “felizes para sempre”. Com um senso de humor adequadamente pateta, a Disney entrega uma obra cheia de coração, esperança e positividade. Elementos sempre bem-vindos, ainda mais no final de 2020.

Bruno Passos
@passosnerds

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