Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Fukushima – Ameaça Nuclear (2020): trágico filme de tragédia

Mais um filme sobre desastres, bem fiel à realidade, mas sem grandes novidades.

Em 11 de março de 2011 (calendário cristão), um terremoto de epicentro no Oceano Pacífico na costa japonesa, de magnitude de 8,9 – até então o 7º maior da história -, teve consequências desastrosas para o país. Um tsunami, decorrente do terremoto, gerou uma onda de mais de 10 metros que inundou o prédio onde estavam instaladas usinas nucleares nipônicas, que após uma queda de energia, começaram a superaquecer e aumentar a pressão, arriscando explodir. “Fukushima – Ameaça Nuclear” não é o primeiro, nem último filme sobre desastres naturais – pode-se dizer que ele é um primo distante do famoso “2012” dirigido por Roland Emmerich, mas o elemento de ser uma pintura de uma história real dá um gosto diferente e gera uma maior expectativa.

Sons de pássaros, música tranquila e paisagens claras com neve aparecem durante pouco mais de 15 segundos do longa, e assim como a calmaria antes da tempestade, esse será o primeiro e último momento de respiro do espectador pelas próximas uma hora e quarenta minutos, até que se possa relaxar novamente. Logo depois, o terremoto se inicia, e todo o caos de suas consequências. Esse início sem muita embromação é um ponto muito positivo, prendendo o interesse desde o primeiro momento. Acompanha-se a trajetória, durante quase sete dias, de 50 trabalhadores que permaneceram em seus postos de trabalho, arriscando suas vidas, privados parcialmente de comida, água e sono, para tentar salvar aquela terra do que poderia ter sido uma catástrofe equiparada com Chernobyl.

A história real do acidente nuclear na cidade que dá título ao longa é contada de forma bastante fiel, quase documental e jornalística, no sentido de que não há muita preocupação do roteirista e diretor em inventar e florear com dramas inexistentes e histórias paralelas, que seria um estilo típico “hollywoodiano”. Mas, nesse sentido, a aposta acaba se mostrando um tiro no próprio pé, pois a maneira que a obra foi concebida não apresenta força em tela. E aquele interesse inicial é logo perdido.

Para tentar balancear essa monotonia, a trilha sonora é interessante, principalmente nos momentos onde é mostrada a força da natureza, como o terremoto, o tsunami e a lava. Esse destaque também se mostra na construção atmosférica de tensão, que ocorre em quase todo momento.

Em dado momento, há uma interessante analogia aos Kamikazes (pilotos de avião japoneses que, durante a Segunda Guerra Mundial, carregavam-se de explosivos e faziam ataques suicidas), quando diversos grupos faziam excursões na tentativa de aliviar a pressão e temperatura do reator, mas corriam extremo perigo de morte e contaminação.

Um erro grave de “Fukushima – Ameaça Nuclear” é a incoerência da aparência e comportamento dos personagens, que apesar do enclausuramento, privações e tensões, parecem sempre lineares, não havendo evolução ou transformação. Assim como o sacrifício, um item muito presente na cultura japonesa, também somos apresentados à questões como o nacionalismo, a honra, a família, respeito aos mais velhos, bem como a valorização da juventude. Em certo momento os jovens são proibidos e dispensados de ir nas missões perigosas. 

Uma história que parece ter caído no esquecimento, mas, no ano atual de seu lançamento (2020), está sendo discutido o lançamento no oceano da água contaminada pelo acidente que vêm sendo armazenada durante 9 anos, desde a tragédia. Cheio de boas intenções e bons elementos, porém sem grandes momentos, “Fukushima – Ameaça Nuclear” é um longa interessante como registro histórico, mas enquanto obra cinematográfica não tem nenhum destaque ou preciosismo, não valendo uma segunda assistida.

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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